Feliz Ano Horrendo - Parte 1
O dia nasceu. Era a primeira manhã de Ano Novo. Eu abria os olhos lentamente, pois o sol já estava forte e o dia bonito. Sentei-me na cama e senti uma forte pontada na cabeça. Era uma forte dor de cabeça que também havia despertado. Ao observar o chão, encontrei marcas de sangue, um vaso preto quebrado e roupas. Fiquei atordoada ao ver tudo aquilo. Esfreguei os olhos e novamente olhei, constatando que a cena vista era real.
Levantei-me e fui checar o quarto, não me lembrava de nada do que havia acontecido na noite anterior, estava bem confusa. Caminhava pelo quarto tentando prestar atenção no cenário, com a esperança de me lembrar do que havia acontecido.
De repente, pisei em um caco de vidro do vaso preto que estava quebrado e dei um gemido de dor e acabei soltando palavras indevidas. Senti o peito do meu pé pulsar. O sangue escorria e caía em meu tapete persa creme, sujando-o mais ainda. Mesmo com o pé machucado, caminhei mancando até o banheiro, e lá encontrei sangue. Muito sangue.
Fiquei paralisada, espantada, gelada, sentia o corpo trêmulo e minha boca formigando. Pensei que fosse desmaiar ao ver tamanha quantidade de sangue, mas não. Olhei dentro da banheira, e a encontrei limpa, porém, meio úmida. Não me lembrava de ter tomado banho lá, achei estranho. Ao olhar para baixo, vi minhas pernas repletas de cortes ainda frescos, ainda vi minha barriga cortada, e temia o que veria ao me olhar no espelho. Estava certa em temer, quando olhei, vi uma cena completamente horrenda.
Meus olhos estavam completamente vermelhos, eu até parecia dopada ou possuída, algo assim. Ainda estava vestida com o vestido branco como a neve de seda que havia usado na festa de ano novo que havia ido à noite anterior. Aquilo parecia um trapo, e não um vestido, pois estava rasgado, sujo com algo semelhante à terra, e o principal: ensanguentado.
Gritei, gritei com todas as minhas forças, de dor, desespero e ódio, pois eu não sabia o que havia acontecido e nem o que estava por vir. Sentia muita dor. Dor física. Dor espiritual. Sentia-me completamente fora de mim. Precisava de algo, alguma luz, sei lá, algo que me ajudasse a compreender tal situação.
Sentei no chão, próxima à poltrona vermelha que tinha em meu quarto. Comecei a pensar, mas logo meus pensamentos foram interrompidos pela campainha do telefone. Apavorada, atendi e respondi, mas ninguém respondeu. A pessoa ficou muda e desligou. Fui olhar no identificador de chamadas, mas notei que ele estava quebrado. Na verdade, meu quarto estava bagunçado e basicamente, destruído. Apenas meu quarto estava naquele estado, o restante do apartamento não.
Em meio a toda aquela bagunça, encontrei uma garrafa de Black Label já no final. Não gostava de Whisky, só tinha a garrafa porque havia ganho de um amigo. Enfim, virei o final da garrafa, bebi tudo. Odiei aquele gosto repugnante, mas o mínimo que eu podia fazer naquela hora era beber, já que estava toda estraçalhada.
No minuto seguinte me vieram alguns devaneios, então, lembrei-me de ter conhecido um homem na festa da virada de ano. Não me lembro do nome dele, nem muito bem do rosto, mas lembro-me dele ser simpático, amável e muito bonito. Passamos um tempo juntos na festa, ele tinha um olhar sedutor, olhos semelhantes à cor mel, ele era da cor do pecado.
Mas enquanto tentava me recordar, ouvi um barulho na porta. Alguém batendo em minha porta e me chamando. Antes que eu fosse atender, ouvi o remexer da maçaneta, e a porta se abrindo. Imediatamente, me escondi atrás da poltrona vermelha que ficava no canto do meu quarto, e que tinha várias coisas jogadas em cima dela. O suficiente para quem quer que fosse não me ver.
A porta abriu e um nó se formou em meu estômago. Não consegui ver a pessoa muito bem, mas notei que era um homem que trajava uma roupa casual, uma camisa preta com um jeans meio desbotado. Ele chamou pelo meu nome e não respondi. Ele foi em direção à minha cama, então não consegui enxergar mais, pois a bagunça me tapava a visão. Quando ele se dirigiu ao banheiro, notei também que ele carregava algo na mão, algo que eu não conseguia identificar, eu conseguia ver muito pouco da onde eu estava. O sangue coagulado do meu corpo começou a escorrer novamente, da cabeça até os pés. A dor me trucidava tanto por fora como por dentro.
Meu coração começou a bater muito rápido, pois ele havia chegado bem perto de onde eu me escondia. Tapei a boca, para não fazer nenhum ruído. Quando finalmente consegui olhar, identifiquei a pessoa. Era o homem que me havia feito companhia na festa da noite anterior, o qual o nome não me vinha à cabeça. Mas o que diabos ele fazia em minha casa? Como ele havia entrado? O que queria? Será que havíamos combinado de sair no dia seguinte e eu não me lembrava? Será que ficou preocupado e simplesmente entrou a fim de me encontrar e socorrer caso eu estivesse ferida?
Ainda não sei as respostas para essas perguntas, mas vou descobrir. Continuei escondida, a fim de esperar que ele fosse embora para que eu pudesse pensar em qualquer atitude, mas ele não ia embora nunca. Ficou andando pelos cômodos da minha casa, como se estivesse procurando algo. [...]