O CARVALHO

Contemplou silenciosamente a paisagem, seu coração batia desordenadamente, o pensamento voava confuso, na mente, tinha apenas uma idéia fixa: DESAPARECER. Assim como a escuridão que não lhe permitia enxergar a natureza à sua volta, queria simplesmente DESAPARECER.

Na realidade, sabia muito bem aonde estava: há apenas alguns passos da morte, mais alguns meros passos e tudo estaria enfim acabado. Fechou os olhos, respirou o sereno frio da madrugada, aquele seria seu último alento, seu adeus a tudo. Abriu os olhos, que agora, acostumados a obscuridade da noite, demoraram a enxergar a lua repentina que se descortinada por detrás de nuvens outrora espessas. Com a luminosidade que surgira, podia ver agora a perfeita silhueta do carvalho, seu velho amigo desde a infância, que o acompanhara em tantos momentos de reflexão, ali era seu lugar preferido, pra pensar, refletir, sentir se só e liberto, costumava ficar a sombra so carvalho por horas a fio. Mais a frente da grande árvore, havia o escuro precípio que deliciosamente o levaria a morte fatal. Recostou-se à arvore, podia sentir o perfume das folhas molhadas, e ouvir o barulho dos animaizinhos que em seu tronco encontravam abrigo seguro. Lágrimas que até então eram apena um nó na garganta, agora escorriam livremente por seu rosto.

Á sua frente, ainda, o precipício negro e misterioso. Caminhou até ele, virou-se por um momento para contemplar o antigo companheiro que chacoalhava suas folhas com o vento, como se fosse um gesto, um sinal qualquer de desespero. Murmurou ao carvalho: "Desculpe-me amigo". Continuou a andar até as pedras altas que escondiam parcialmente a sua derradeira companheira, o que daria um fim a toda a sua dor, a escuridão alta e profunda do precipício...teria coragem ?

Aquietou-se por alguns momentos, como que movido por algo mágico que o puxava para trás, virou-se ao ouvir o som de passos, repentinamente, junto a silhueta do carvalho via agora o movimento dela, seus cabelos envoltos no vento, ele não enxergava, mas sentia o seu olhar de desespero. Voltava em sua direção em passos curtos e lentos, um caminhar inconfundivel.

Naquele momento, toda a sua amargura dissipou-se num sorriso e ao vê-la agora pensava apenas: "Ah...como é bom viver !"

Adriana Alves (Poetisa Lancinante)
Enviado por Adriana Alves (Poetisa Lancinante) em 24/12/2009
Código do texto: T1994457
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.