O tempo do fim - capitulo um

PATMOS

O tempo do fim

Capítulo um

Achados e perdidos

Aquela noite havia sido maravilhosa: muita festa, bebidas, garotas bonitas - tudo da melhor qualidade -, então quando acabou continuei sonhando com ela até que um grande barulho me assustou e me despertou do meu devaneio.

Abri os olhos assustado e apurei os ouvidos: gritos e vozes histéricas vinham de toda a parte; indignado, é claro, peguei meu relógio em cima da mesa - de - cabeceira, fiquei mais indignado ao ver que ainda eram sete e meia da manhã. Pus o travesseiro no rosto para abafar o som e tentar pegar no sono novamente. ”Devia ser briga de vizinho, de novo”, pensei eu, ”pô, mas já cedo?!”.

Alguns minutos depois e nada de a tal briga passar; apoiei-me sobre os cotovelos na cama e tentei ouvir melhor o que estava acontecendo, minhas pálpebras pesavam de sono e já começava a sentir certa pontada no lado esquerdo da cabeça. Estranhei, pois os gritos pareciam vim de todas as partes. Curioso, me levantei e fui lentamente até a janela que estava coberta por uma fina cortina azul marinho, senti meu corpo pesar e um frio me subiu da espinha ate a cabeça. Abri um pouco a cortina e olhei para a rua lá fora, o estrondo invadiu meu quarto. Meu queixo caiu. Estava paralisado, não podia acreditar no que meus olhos viam.

A linda e calma são Francisco estava um caos: havia carros capotados espalhados por vários lugares, enquanto outros largados inflamavam arvores. Pessoas corriam de todos os lados gritando histéricas e aos prantos pedindo socorro; vários helicópteros militares sobrevoavam os céus que por sua vez estava carregado de nuvens negras.

Sai de perto da janela, ainda não acreditava no que estava acontecendo lá fora.

Sentei-me na beira da cama e pus meu rosto entre as mãos; estava tremendo, cerrei meus olhos e tentei fingir que tudo não passava de um sono, ainda não havia acordado direito. Então outro ruído invadiu meu quarto me fazendo sobressaltar, fiquei apavorado “o que é que tava acontecendo” pensei eu.

Levantei-me, vestir a primeira roupa que encontrei, desci apavorado às escadas; cheguei sem fôlego à porta, abri e engoli em seco, minhas entranhas se reviraram ao ver que a situação ali em baixo era bem pior do que da janela do meu quarto.

Atravessei lentamente o jardim olhando para todos os lados; por pior e sinistro que a situação parecesse eu ainda não entendia o porquê de todo aquele alvoroço. Olhei para o alto ao ouvir uns estrondos, por um instante pensei que fossem os helicópteros que continuavam a sobrevoarem assustadoramente os céus, mas senti um frio na espinha ao perceber que na verdade eram os céus que estavam se revolvendo agourento.

Continuei caminhando pela rua tentei parar alguém para perguntar o que estava acontecendo, mas ninguém parava para me da informação alguma, passavam por mim como se eu fosse um poste. Então aconteceu: um estrondo no céu, gritos e todos se jogaram no chão, inclusive eu.

Eu me levantei apavorado e olhei para o alto, mas não conseguir entender a origem do estrondo.

Então algo passou voando baixo de mais fazendo um barulho ensurdecedor; me deti olhando para o alto quando aconteceu uma grande explosão atrás de mim e fui arrematado de costas ao chão, sentir uma forte dor nos braços, apavorado pus as mãos na cabeça pra me proteger e esperei o barulho cessar.

Levantei-me tonto com toda aquela agitação, meus cotovelos estavam ralados e sangravam levemente, e quando eu achava que não podia ficar mais enervado e com raiva o suficiente para gritar no meio da rua, aconteceu...

Eu sentir um forte baque no ombro e quase fui jogando no chão por um vulto que passou correndo ao meu lado. Olhei para trás indignado; então a pessoa parou e me olhou; eu olhei bem para ela, seu rosto era lindo, seus cabelos cor de mel faziam uma ótima combinação com seus olhos e sua pela alva. Seus olhos estavam marejados, limpou-os, tentando oprimir o choro, com a manga da blusa, e veio correndo em minha direção, seu cabelo esvoaçava à medida que se aproximava.

- Me desculpe. – disse ela soluçando depois se virou e saiu correndo novamente. Por um instante eu fiquei observando ela ir, mas depois, como se despertado de um transe por algo que explodiu ali, fui atrás dela.

Passei por uma casa onde visinhos tentavam, sem sucesso, apagar o fogo que estava decidido a queimar cada vez mais caso alguém tentasse se intrometer a apagá-lo. Alcancei a garota logo à frente quando ela resolvera parar de correr e em vez disso só caminhar apressadamente.

- Ei! Tudo bem com você? – perguntei. Ela se virou pra mim e me lançou um olhar furioso. Eu congelei pela repentina reação.

- Como você pode achar que esta tudo bem? , - ela estava decididamente contrariada com a minha pergunta. – que pergunta imbecil!

Eu nessa hora não entendi nada fiquei ate espantado com a resposta dela. – o que eu tinha dito pra deixar ela tão contrariada?Eu só havia feito uma pergunta.

- Eu falei alguma coisa que ofendeu você? – perguntei esperando pra levar outra “patada”.

- Olhe ao seu redor, você acha mesmo que esta tudo bem? Ela apontou pra rua ao redor.

- Mas eu não entendo. O que ta acontecendo? – perguntei por que apesar do que meus olhos viam, eu ainda não entendia o porquê de todo aquele alvoroço.

- você não soube? -, ela olhou para mim, eu pude sentir um quê de perplexidade vindo dela.

- soube o que? Perguntei achando aquela garota cada vez mais estranha e eu não sabia o porquê, mas ela me lembrava muito a aminha mãe.

- pessoas no mundo todo simplesmente desapareceram durante a madrugada.

- O que? – perguntei sendo que eu é que estava perplexo agora. – Como assim desapareceram?

- É o que todos estão tentando descobrir, – ela caminhou um pouco à frente e se sentou na calçada percebi o quanto estava atordoada. Ela passou as mãos graciosamente no cabelo, - eu perdi o meu pai.

Eu pude perceber o quanto estava angustiada, por isso me sentei ao seu lado e ficamos num silencio por alguns instantes.

- Eu sinto muito. – foi só o que eu pude dizer depois de algum tempo.

- Obrigada. Foi tudo o que ela disse antes de mergulharmos num silencio que só foi quebrada graças a um helicóptero que passou sobrevoando a rua abaixo da altitude permitida.

A rua estava ficando menos movimentada a cada minuto; continuei sentado ali observando o céu e até experimentei uma espiadela de soslaio para ela, estava encolhida olhando para os pés, lagrimas marcavam o chão.

Eu me sentia de mãos atadas, não sabia o que dizer para consolá-la, ate pensei que talvez ela não precisasse de consolo.

- quem você perdeu? Ela perguntou tão der repente que cheguei a me sobressaltar.

- como? Perguntei.

- você perdeu algum parente?

Ela me olhava estranhamente, ainda não entendia o que ela estava querendo dizer.

- perdi algum parente, como assim? Indaguei.

-bem, todo mundo perdeu alguém, – ela apontava novamente apara a rua, - por que você que acha que ta todo mundo assim.

Olhei ao meu redor e estava começando a ver o desastre ao meu redor de outra maneira; havia pessoas por todo o lado chorando, uns sozinhos sentados á frente de suas casas outros sendo consolados por outros mais oprimidos. Senti pena por aquela situação, por todas aquelas pessoas que haviam perdido seus entes perdidos. Por um instante eu me senti mal por isso então...

Virei atordoado para a garota sentada ao meu lado, ela me encarava com aquele jeito estranho que tantas vezes reparara nela. Então perguntei:

- quando você diz sumiu, - engolir em seco, - você quer dizer todos... Desapareceram? Eu já não sabia o que dizer.

- bem, é isso que... Quer dizer, neh? Retrucou; parecia que não havia entendido nada do que perguntei.

- todos acordaram e não encontram quem eles deveriam encontrar, ou seja, seu parente. – ela deu uma suspirada, - no meu caso, o meu pai.

Ela baixou a cabeça e fiquei observando ela suspirar tristemente. Então aconteceu como num súbito de entendimento, a ficha caiu e me senti febril no mesmo instante.

- espera aí um minuto. – me levantei atordoado da calçada.

- o que foi? Perguntou ela sobressaltada.

Eu corri pela rua o mais depressa possível em direção a minha casa minhas suspeitas não poderiam fazer sentido, mas eu precisava confirmar ter certeza de que as minhas suspeitas estavam erradas. Avancei pelo jardim da minha casa e entrei pela porta escancarada. Fui ate a cozinha e não encontrei nada de diferente continuava impecável como minha mãe deixava todas as noites antes de ir se deitar. Fiquei apavorado já começava a sentir uma dor arfante no peito.

Subi a escada em direção ao quarto no fim do corredor, abrir a porta lentamente e olhei para dentro; a cama estava meio desarrumada como se alguém tivesse acabado de acordar, era o que eu queria acreditar. Estava com medo quando entrei no quarto iluminado toscamente por um fio de luz que vinha da janela.

O abajur em cima da mesa de cabeceira ainda estava aceso, iluminando um copo de água meio bebido e um livro que apoiava um óculos surrado. Olhei para o banheiro e vi uma sombra, corri para lá no mesmo instante começando me alegrar.

- mãe?! Ninguém respondeu, então entrei abri o boxe e para minha surpresa não havia ninguém ali dentro. Então entendi a sombra que eu havia visto: era a cortina da janela do banheiro que recebendo uma fina claridade do lado de fora projetava a sombra na parede que se movimentava quando o vento batia.

Fiquei desesperado não podia acreditar no que estava acontecendo, minha mãe havia desaparecido junto com milhares de pessoas. Não pude me conter sai do banheiro para o quarto e sentado na cama da minha chorei amargamente.

Eu estava decididamente tendo um péssimo dia, tentava a todo custo imaginar que talvez eu ainda não tivesse acordado e tudo não passasse de um sonho estúpido e sem graça, ou talvez eu tivesse tomado alguma coisa – acidentalmente, na festa da noite anterior que me fizesse ter alucinações e eu ainda estivesse sobre efeito, sei lá. Fosse como for aquilo tudo tinha que parar, estava me fazendo mal.

Sentir uma mão repousar serenamente sobre o meu ombro, era a garota que eu havia encontrado na rua. Ela encostou minha cabeça em seu ombro e tentei ao Maximo segurar as teimosas lagrimas que escorriam decididas pelo meu rosto, mas por mais que eu tentasse não fazer feio diante da garota não conseguia me conter, queria saber o que estava acontecendo comigo, ou com todos, naquele dia.

A garota passou a mão suavemente em meu cabelo, eu estava totalmente encabulado, eu havia acabado de conhecê-la, - se é que se pode dizer que nos conhecemos, pois não houve apresentações e eu nem ao menos sabia seu nome.

Por mais encabulado que eu estivesse aquele momento estava me fazendo bem e descobri que a minha casa era o melhor abrigo para eu fugir de tudo que estava acontecendo e por um breve período de tempo eu pude me acalmar diante de tudo o que ocorria, pois por mais que eu não percebesse a situação estava longe de ficar só do lado de fora da minha janela.

André Ferrão

Deh Ferrão
Enviado por Deh Ferrão em 15/12/2009
Código do texto: T1979638
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.