QUANDO SE ROMPE O SILÊNCIO - III

DESFECHO FINAL   

Em pleno sol de outono, abrindo a alma para os cristais dos dias mais risonhos, desfiando em alegria, pelo horizonte infindo, Laura segue morando ali no mesmo local, em amores ardentes com a prima Mariana, sem se preocupar com os falatórios de fantasmas ou assombrações na dita casa em que morava.

O registrador do sol não para e a vida continua em dias de alegrias e dourada lâmina no obscuro girassol do amor nas madrugadas frias, ou nas tardes chuvosas.
Laura está mergulhando nesse seu "novo mundo", descobrindo a si mesmo, é ai então que começam suas experiências amorosas. Juntas passam por contentamento e consternação.

Era uma noite de sexta-feira de inverno, Laura e Mariana estavam indo para a cidadezinha cumprir o tradicional ritual de assistir a celebração da missa, evitando assim falatórios. Iara não quis ir, pois acabara de chegar de viagem, esteve na cidade grande por um período longo, depois da morte de Júlio, (nunca soubera que Laura havia descoberto seu caso com Júlio) dizia não estar muito bem, estava cansada da viagem.

O frio não era muito, entretanto algumas pessoas usavam casacos pesados. Laura sentia o ar gostoso no rosto pela janela do carro, apesar de gostar mais de calor, o frio a estava fazendo bem esse ano. 

Na cidade transcorrera tudo bem, resolveram alongar um pouco mais, Era tarde quando Laura e Mariana chegaram, passava das três horas da manhã. Laura vai até o banheiro, quando retornava percebeu uma iluminação pelas frestas da porta do quarto de Iara.
Correu a fim de apagar. Porem a luz não se estagnava na porta. Passava lentamente pelas janelas e pela porta outra vez. Alguém como uma luminária parecia circundar o quarto.

Isso deixou Laura estarrecida de medo, deu uma olhada pela fresta da porta entreaberta e viu uma sombra. Era uma sombra a princípio nebulosa. Depois, percebeu perfeitamente que a sombra se desenhava na parede, contornos nitidamente humanos. Mas a sombra que se projetava na parede não era a dela.

Era a sombra de alguém que deveria estar às suas costas. Virou-se, mas não havia ninguém ali. E viu, já quase em pânico, que a sombra afastava os braços do corpo – para cima da cabeça artisticamente delineada, na qual era possível perceber os contornos das orelhas ressaltantes – e assumia a postura de alguém que pretende lançar-se furiosamente contra outrem. Sim, as mãos crispavam-se e as longas unhas tremiam. Algo estava para acontecer ali.

Laura estava prestes a fugir, quando a sombra evoluiu da parede em sua direção. Em frações de segundos, constatou que aquela sombra ganhava massa volumar, modelava-se em pleno ar, infiltrava-se de um conteúdo visível, pensou Laura ter visto a imagem de Júlio. Soltou um grito sufocado tamanho desespero, pavor, saiu correndo foi para o seu quarto, comentou com Mariana, que sonolenta não deu importância.

Ao acordarem pela manhã, constaram que Iara havia falecido. Laura se negava a ligar os fatos. Segundo o médico legista que assinou o atestado de óbito, Iara teve uma parada cárdio respiratória. Fizeram o funeral tudo nos conformes e continuaram suas vidas rotineiras.
Assim viviam as primas cada dia uma surpresa. Ali uma região fria, com ventos fortes, e, à luz cálida da Lua, se transforma num local sóbrio e assustador.

Os anos foram passando, Laura e Mariana envelheceram, contudo novos acontecimentos as rondavam. Vez ou outra viam a mulher de branco que Iara tinha visto em uma das vindas delas da cidade, depois da morte de Iara tornou-se mais freqüente as aparições.
Laura passava a maior parte do tempo sentada em sua cadeira de balanço na sacada, olhando fixamente a floresta logo abaixo, enquanto os brilhos dos relâmpagos revelavam detalhes da vegetação se agitando sob as intempéries.

Na lareira, permanecem entorpecidos, restos de carvão e cinzas, já há um bom tempo apagados, e no chão, ao lado, a garrafa de licor de ervas, ainda com parte do líquido em seu interior. O licor encerra a mágica capacidade de penetrar nas lembranças de Laura, alguns acontecimentos.

Até hoje os moradores mais velhos de Constantino, nome da cidadezinha próxima onde Laura morava, sim morava, porque Laura e Mariana morreram juntas congeladas, numa noite horripilante de frio no terraço da casa.
 
Dizem que ainda rondam por lá os seus fantasmas, inclusive Júlio e Iara. Que até os dias de hoje, duas mulheres vagueiam pelos campos da fazenda, vestidas de branco, Mas somente as pessoas que estão para morrer conseguem ver as almas e ouvir o som de suas gargalhadas. Laura e Mariana.
 
FIMMMMMMMMM
ROSA RIGHETTO
14/12/09

Rosa Righetto
Enviado por Rosa Righetto em 14/12/2009
Reeditado em 16/01/2010
Código do texto: T1977475
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