QUANDO SE ROMPE O SILENCIO – II
 
 
Gritos soltos ecoam até o céu, mística noite, constelações de afagos e desejos viajam através dos sonhos. Assim sobeja de áureas brilhantes.  Em desejos arfantes se encontra Laura, depois de ter entendido que de fantasmagórica sua casa nada tinha, e sim um desejo ardente incontrolável pela doce prima Mariana. Ou será que ainda ronda por lá um fantasma.
 
Tudo começou quando Júlio ainda era vivo. Laura ficou doente, deprimida sentia-se muito só, apesar de morar num lindo lugar com todo conforto, não lhe faltava nada. No entanto dizia-se infeliz, estava sempre em busca de algo mais. Quando então Júlio propõe buscar as primas Mariana e Iara para fazer companhia a Laura, que aceitara de imediato.
 
Com a chegada das primas, Laura se reanimou, voltou a sair, estavam sempre juntas, tudo era motivo para gargalhadas. Como sempre, muito frio à noite, se aqueciam contando histórias e ouvindo absorto o crepitar das chamas na lareira de pedra, enquanto a escuridão e a tempestade avançavam seu curso eterno do lado de fora das paredes que as aconchegavam e as protegiam, Laura oferecia um licor que ela mesma preparava com ervas finas.

Numa dessas noites frias Laura acorda na madrugada para ir ao banheiro, quando ouve gemidos, cada vez mais intenso, abre a porta devagarzinho, porém a vontade de urinar era cada vez mais insuportável. Sua calcinha já estava úmida de gotas de urina que escaparam do seu controle, contudo, manteve-se paralisada e atenta ao som que ouvia. 

Um som estranho vindo da cozinha. Estava parada no corredor, entre a sala de estar e a própria cozinha, a respiração ofegante. Espia pela porta entreaberta e vê seu marido afoito em cima da prima Iara, que se deliciava de prazer em devassidão ardente. A realidade veio à  tona como um raio que corta um carvalho velho ao meio. Sua mente se abriu e tudo se tornou claro, Júlio seu marido fazia amor com a prima Iara. Fez o maior esforço para se manter de pé, sua mente flutuava pelos ares, sentindo a potência do golpe transpassando o próprio corpo e o resto de razão que lutava para ficar no controle. Retorna ao seu quarto remoendo ódio, decepção, depois de muitas horas consegue por fim adormecer.

No dia seguinte Laura refletiu infatigavelmente durante horas, com a mente concentrada em alguns acontecimentos que a levassem entender o porquê Júlio a teria traído, e logo com a prima. Sorvendo seus pensamentos observa uma curiosa sombra a cair oblíqua sobre o tapete do chão, levanta os olhos e vê a prima Mariana que a observa como se soubesse, ou lesse os seus pensamentos. Mariana lhe presenteia com uma flor como forma de carinho a consolar.

Laura devaneia durante horas sobre o perfume da flor. Perdeu completamente a sensação de movimento ou de existência física, perseverando obstinadamente e por longo tempo num estado de absoluta imobilidade. Decide nada dizer, ninguém saberia que ela havia descoberto a dupla traição, da prima Iara e do marido Júlio.

Contudo, a vida segue adiante. Laura cada vez mais apegada com a prima Mariana. Brincavam, gargalhavam, corriam pelos campos verdejantes noite adentro. Vestidas de branco cabelos longos, criavam e imaginavam como se fantasmas fossem. Passavam horas deitadas na relva branda. O murmúrio do vento ecoava na noite e por vezes adormeciam.
Certa noite numa dessas brincadeiras quando Laura acordou preguiçosamente, sente a respiração de Mariana bem próxima a sua. Laura sente seu corpo estremecer, o coração acelerar, estão muito próximas.

Olham-se por alguns momentos, os corpos suados se encontram. Mariana toca seu amor pela primeira vez, como se não acreditasse que ela estava ali em seus braços. “Deus, ela é tão linda tão minha!” Desde sempre soubera que Laura seria seu fadário, que viera ao mundo por ela, para ela. Não havia escolhas. Desceu as mãos trêmulas ao encontro dos seios macios. Apertou-os suavemente, porém, ao ouvir o gemido perto de seu ouvido, se descontrolou. Agarrou-os com desespero, apertou-os nas mãos meio perdida, sem saber como controlar a ânsia de um desejo tanto tempo reprimido. Sentiu as mãos carinhosas segurarem as suas e ergueu os olhos em direção ao rosto de sua adorada. Sorriu, porém, um sorriso trêmulo, nervoso, apreensivo e que foi de modo pleno retribuído e então viu os olhos cor de mel abrumar. 

Um frio deleitável descia pelo seu estômago e uma dor latente em seu sexo. A boca flexível buscou seus lábios e ao sentir o toque da língua a pedir passagem, os abriu, gemendo ao sentir o sabor daquela que tanto desejava. A prima Mariana em seus braços, segurou firme suas nádegas e as apertou, puxando-a para si. Sentiu as mãos aludir entre suas pernas, desejosas de um toque mais profundo. Era tão bom, tão certo, tão único. 

- Amo tanto você. - Sussurrou baixinho, fascinada, ao ouvido daquela que sempre fora a dona de seu coração. 

Assim iniciou uma paixão ardente entre duas mulheres, ou seja, primas de primeiro grau.

Laura e Mariana.
Agora, frente a frente, vivendo essa abrasadora paixão.

E fora assim, que Júlio teve um infarto fulminante, depois de ver Laura sua mulher, nos braços da prima Mariana. Não suportou flagrar a traição.

Continua....

ROSA RIGHETTO
10/12/09

 
 
Rosa Righetto
Enviado por Rosa Righetto em 10/12/2009
Reeditado em 10/12/2009
Código do texto: T1970748
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