VIAJANTES NA TEMPESTADE

O mundo se bifurca. A tempestade não o une. Tornam-se dois.

Um mundo espreita atrás de uma árvore. É um ator sozinho.

A casa é o destino do outro mundo.

— Fiquem quietos!— o pai grita.

— Não fale assim com eles! Ninguém tem culpa se não nos entendemos!

Há um assassino na estrada.

As crianças brincam dentro do carro.

Para compreender, o assassino sente seu cérebro contorcer.

São viajantes na tempestade.

Ambos os mundos viajam. Todos os mundos convergem.

— Fiquem quietos!

— Eles não têm culpa!

— Não, a culpa é sua! Quem me traiu foi você!

Viajantes na tempestade vão para a casa em que nasceram, procuram um colo materno antes de no mundo serem novamente jogados.

Os ossos na boca do cão correndo no jardim, os ossos do cão morto após o menino constatar que os cães são crianças.

O assassino pula detrás da árvore.

Não assassina, pede carona.

O cérebro contorce.

Visitar os avôs num longo feriado — assassino absorve a história.

— Por que vocês não calam a boca!?

— Deixe suas crianças brincarem!— intervém o assassino.

— Ele pensa que a culpa é das crianças! E não é!

O assassino pega na mão do homem que dirige, une as mãos de marido e mulher.

— Garota, você tem que amar seu homem. Faça-o entender ou seus filhos matarão cachorros e a vida nunca acabará!

Há um assassino na estrada. Os trovoes lhe calam a história. A tempestade limpa o sangue e as evidências de um filme noir.

As crianças não brincam. Os cães brincam com os ossos das crianças.

O assassino sempre matará os cães viajantes na tempestade.

The Doors "Riders on the storm"

Fabiano Rodrigues
Enviado por Fabiano Rodrigues em 30/11/2009
Reeditado em 30/11/2009
Código do texto: T1952777
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