VIAJANTES NA TEMPESTADE
O mundo se bifurca. A tempestade não o une. Tornam-se dois.
Um mundo espreita atrás de uma árvore. É um ator sozinho.
A casa é o destino do outro mundo.
— Fiquem quietos!— o pai grita.
— Não fale assim com eles! Ninguém tem culpa se não nos entendemos!
Há um assassino na estrada.
As crianças brincam dentro do carro.
Para compreender, o assassino sente seu cérebro contorcer.
São viajantes na tempestade.
Ambos os mundos viajam. Todos os mundos convergem.
— Fiquem quietos!
— Eles não têm culpa!
— Não, a culpa é sua! Quem me traiu foi você!
Viajantes na tempestade vão para a casa em que nasceram, procuram um colo materno antes de no mundo serem novamente jogados.
Os ossos na boca do cão correndo no jardim, os ossos do cão morto após o menino constatar que os cães são crianças.
O assassino pula detrás da árvore.
Não assassina, pede carona.
O cérebro contorce.
Visitar os avôs num longo feriado — assassino absorve a história.
— Por que vocês não calam a boca!?
— Deixe suas crianças brincarem!— intervém o assassino.
— Ele pensa que a culpa é das crianças! E não é!
O assassino pega na mão do homem que dirige, une as mãos de marido e mulher.
— Garota, você tem que amar seu homem. Faça-o entender ou seus filhos matarão cachorros e a vida nunca acabará!
Há um assassino na estrada. Os trovoes lhe calam a história. A tempestade limpa o sangue e as evidências de um filme noir.
As crianças não brincam. Os cães brincam com os ossos das crianças.
O assassino sempre matará os cães viajantes na tempestade.
The Doors "Riders on the storm"