UM ESTRANHO FELINO. 1.
Uma jovem mulher dirigia sua caminhonete rumo às montanhas. O tempo estava frio e nublado. Todos os vidros das portas do veículo estavam fechados. Havia chegado da Europa, onde estudava há alguns anos, e com a morte de seus pais, alguns atrás, " num acidente inexplicável", retornou então ao Brasil.
Era filha única. Seus pais viviam numa pequena propriedade rural. Talvez, a vendesse, para continuar sua vida no velho continente.
Ao abrir a porteira, já entrando na propriedade, intrigou-se com um gato junto a uma cruz à beira da estrada, que a observava atentamente. Parecia um guardião, atento a qualquer intruso que por ali passasse, com o traseiro encostado no solo e a cabeça erguida. Segundo haviam lhe dito, fora era o local onde seus pais haviam caído pelo barranco, sem um motivo aparente, com o carro.
Ficou alguns segundos a observá-lo. E ele, idem!
Atravessou a caminhonete. Voltou para fechar a porteira, retornando ao veículo.
Como já havia lido sobre os felinos numa revista especializada em assuntos sobrenaturais, sabia perfeitamente que quando se está sozinho em algum lugar, deve-se ter um gato ao redor. Os gatos, principalmente, os Siameses, percebem coisas à sua volta... vultos, espíritos ou fantasmas... é somente observá-los! O felino começa a mover as orelhas, os olhos, a andar pela casa, como se seguisse alguém, e, às vezes, para frente a uma parede e fica a observá-la, pois não pode atravessá-la. Se alguém deseja saber se há "algo" à sua volta é bom ter um gato por perto...
Não sabia por que se lembrara disso naquele momento... Talvez, estivesse mesmo amedrontada em entrar naquela casa velha... como também, ao observar aquele felino, percebeu que ele era de três cores, e, portanto, não era um gato. Era uma gata! Não existem gatos " machos" de três cores! Estava diante de uma bela gata Siamês!
Quando acionou a caminhonete, para se aproximar mais da casa, o felino saltou por sobre o capô do veículo, tentando atacá-la. Por sorte, os vidros estavam todos fechados. A mulher guinou o veículo de um lado a outro e o jogou pelo chão. Parou junto à velha casa. O felino novamente saltou por sobre o veículo, tentando atacá-la novamente, arranhando com suas garras afiadas, o parabrisa, exibindo seus dentes afiados.
Neste momento, quando o felino se pôs praticamente de pé, no parabrisa, mostrando toda sua ferocidade, deixou bem a vista sua barriga e suas mamas cheias de leite. Estava desfeito o mistério!... Ela estaria amamentando, e, talvez, tentando proteger suas crias de algum intruso...
A mulher aproximou o rosto junto ao parabrisa e sorriu. Num gesto de amizade, acariciou através do vidro a boca ameaçadora daquela mamãe ávida a proteger seus filhotes e disse:
- Eu não vou lhe fazer mal algum... Não vou pegar seus filhotes... Pode ficar tranqüila!
Nesse momento, sentiu um grande arrepio pelo corpo, como se uma rajada de vento houvesse penetrado no veículo. Olhou pelo retrovisor. A porta traseira do veículo se abriu sem explicação! E, então, o felino saltou pelo chão e correu para trás da caminhonete, saindo numa perseguição desenfreada a algo invisível.
Uma ninhada de gatinhos apareceu de algum lugar, miavam à procura da mãe.
A mulher criou coragem. Desceu da caminhonete lentamente. Aproximou-se deles. Sentou-se num tronco de uma árvore, rodeada por lindos gatinhos que lhe subiram ao colo. Acariciou-os docemente.
Momentos, depois,vagarosamente, a mãe dos pequeninos, aproximou-se da mulher. Ela miava tranqüilamente, como se agradecesse o carinho por cuidar deles.
A mulher, reparou na gata um certo cansaço e alguns ferimentos. A gata olhou profundamente para a mulher. Depois, dirigiu-se para dentro da casa e parava pelo caminho, sugerindo que a seguisse...
No meio da sala havia um velho baú. A gata começou a arranhá-lo. A mulher abriu o velho baú! Dentro dele, um antigo retrato de seus pais, com vários alfinetes espetados na foto, presa a um sapo morto e seco! Na boca costurada do sapo, uma mecha de cabelos se via...
A gata soltou um longo e triste miado. Saiu da casa acompanhada por sua ninhada de filhotes...
continua...