A morte do sol (editado)

Amanhecia.

Os primeiros raios de sol banhavam as terras de São Geraldo e os caminhões que chegavam abarrotados de carne humana: agricultores.

Destes, um vinha cabisbaixo: era Antônio, um meeiro cujos problemas o fazia franzir a fronte. E, ao pisar o solo, este fora lentamente à fazenda Princesinha. Preocupava-se este apenas com a lavoura e, ao se ver na fazenda, foi até ela.

Desesperança de sua esperança.

Quando uma estridente gargalhada se fez ouvir somente por ele, decidira por fim àquela situação.

Não tinha forças para encarar a realidade. E a imagem do dono da terra, coronel Antônio Lott, vinha sempre completar o quadro melancólico e triste ante seus olhos. Parte da lavoura de feijão e milho fora destruída. Perdera-se.

O horizonte sempre azulado e sem nuvens o entristecia. Custava-lhe ver a morte silenciosa da lavoura plantada com muita dificuldade.

Amedrontava-o a imagem.

Fora ao paiol.

Sabia que o coronel deixava por ali uma espingarda. Achou-a enferrujada e largada num canto, porém, carregada.

Com ela em punho, retornara à lavoura.

Observava.

Uma lágrima descera-lhe, então, dos olhos e foi de encontro ao solo seco. Tão seco quanto a alma daquele homem.

Fizera mira.

Minava-lhe do corpo um suor rubro como sangue. E de seus olhos, desespero.

Novamente somente ele ouviu o riso sarcástico que logo explodira em gargalhada.

Puxou o gatilho sem efeito. Resoluto, nova tentativa se fez e um sonoro tiro se fez ouvir.

Antônio ainda pode ver o sangue jorrar. Estava novamente em paz.

Desenhara-se um sorriso em meio à amargura.

Sorria ante a manhã de um domingo. Havia acordado cedo e ficara à janela. A companhia da esposa o reconfortava e naquela manhã não foi diferente.

- Amanhã será outro dia, querido!- dizia.

O horizonte desta não se diferenciava daquela. O sol se levantava entre as montanhas... ensanguentado. O sorriso sarcástico havia se desfeito.

- Antônio...!

Virara-se. Não teve tempo de ver quem o chamava.