Avenida central
Acompanhada de drogas lícitas era mais fácil encontrar uma válvula de escape para um lugar onde não houvesse necessidade de enxergar todos os dias o inferno dentro da própria casa.
Suzana vinha tendo como apoio apenas o namoro, que já não ia assim tão bem visto que Júlio agora ultrapassara as barreiras das drogas lícitas e buscava freneticamente e ininterruptamente drogas que o fizessem subir níveis altos na lucidez.
Naquele dia ela andava como um bicho encolhido atrás dos ombros do namorado e de cinco em cinco minutos acariciava o braço coberto de tatuagens e pedia com um desespero oculto e um tanto domado que ele não usasse qualquer tipo de droga antes de dirigir. Não era a primeira vez que ela acompanhava Júlio em uma dessas corridas ilegais.
_ O que é que você tem garota? Desencana. Fica aí o tempo todo escondida e não falou nada a não ser esses pedidos chorosos e sem razão.
_ Desculpe. É que... Deixa pra lá, faça o que quiser, arranjo alguém para me levar embora - uma lágrima escorrera pelo rosto de Suzana.
_ Que você tem? - pela primeira vez durante aquelas cinco horas que estavam juntos ele notara que o estranho comportamento da namorada não era apenas crise.
_Meu pai sumiu, desapareceu, levou tudo que era dele, meu irmão está caindo de bêbado e saiu de casa, a mulher dele está lá em casa chorando que nem louca, não sei o que fazer, agora estou sozinha de vez, só tenho a você - por mais que não se sentisse tão segura quanto a última afirmação que fizera, ela precisava disso, pois era a única coisa que a mantinha de pé.
Passando os dedos para enxugar as lágrimas dela, Júlio disse para não se preocupar e saiu puxando a menina pelo pulso.
_ Vou te levar embora, mas antes eu vou ali conversar com um amigo meu, já volto.
Suzana esperou durante alguns minutos e logo avistou que ele vinha na sua direção.
Entraram no carro sem dizer nada e nem trocaram muitos olhares e mesmo assim ela sabia que o namorado havia fumado.
Já na avenida principal pararam no sinal vermelho e Suzana notou que Júlio olhava para os lados como quem procura algum carro vindo para poder atravessar.
_ Júlio o sinal tá... - antes que terminasse de falar ela ouvira os pneus cantando e que já havia ultrapassado - Para o carro Júlio, para o carro - ele a ignorava - Para o carro Júlio, eu não vou andar com você drogado por aí! Para isso agora!
_ Desce então menina! Vai sozinha! Anda, sai do meu carro e vai embora!
“ Corpo de adolescente é encontrado junto ao do namorado dentro de um carro em plena avenida central da cidade.
A polícia vê um possível assassinato seguido de suicídio, uma vez que a arma encontrava-se na mão do rapaz identificado como Júlio Fernandes que estava ao lado do cadáver da adolescente Suzana Falcão.”