Cadeira de dentista
Drº Onofre é conhecido pela sua competência, dedicação e paciência. Os alunos do grupo escolar onde trabalha, literalmente abrem a boca para ele. Verdadeiro discípulo de Piérre Fauchard. O diretor toda semana prepara a lista dos alunos, com urgência ao tratamento. O inspetor de aluno vai para a classe buscar Gabriel, a fim de tratar o molar cariado. O menino entra na sala amparado pelas mãos do funcionário. Tremendo muito senta na cadeira. Drº Onofre brinca, descontraído e inicia a explicação de como vai ser feito o tratamento dentário. Gabriel choraminga. O choro passa ao pranto. Do pranto ao berro. O berreiro espalhou pelos corredores da escola. O diretor vai ver o que acontece. Gabriel tinha quebrado o consultório. Subido pelas paredes, tal qual, Gregório Samsa, na sua Metamorfose. O menino temendo a cadeira do dentista urina na calça. O dentista pede para não trazer mais o menino. “Basta! Não o trato mais!” Quatro meses, após o incidente, a fila do tratamento escolar... caminha. O inspetor entra no consultório dando as mãos a outro aluno-paciente. “Não! Leve este pestinha daqui. Não disse que não cuidaria mais dele.” “Calma, Drº Onofre, este menino é outro.” “Como? Outro? Você pensa que sou louco? Leve ele daqui.” “Calma! Este é o Rafael, irmão gêmeo do Gabriel.” Ainda estupefato, o dentista vê o menino sentar na cadeira, abrir a boca para o tratamento.