O TIRO FATAL- Mini-Conto
Carlos sempre foi meio descuidado, despreocupado até, com as coisas e os fatos que aconteciam em sua volta. Mais propriamente em sua cidade. Não lia páginas policiais, não assistia os noticiários, e em resumo: vivia meio alienado, como os seus velhos amigos falavam sempre. A frase que mais gostava de citar era: Eu vivo e deixo viver, e quando for minha hora nada vai mudar, pois não faço nada de mal a ninguém e por esse motivo tenho proteção divina.
Aquela tarde de sexta-feira, 13 de agosto, de 2006, comprovou a teoria e deu a Carlos o titulo de sortudo do ano. Não fosse o fato ter sido tão trágico e haver sido abafado pela policia na época, em face de uma extensa fixa de crimes, que o jovem tinha em sua folha corrida.
Carlos, ao chegar à frente de sua casa, não notou a moto que estava parada ao lado da garagem, com o motor ligado e dois ocupantes. Um continuava sentado na moto, e o outro disfarçava como se estivesse amarrando o cadarço do tênis. No instante em Carlos abriu o portão automático, ai sim notou que estava com o cano de um 38 encostado em sua testa. Meio sem entender o que estava acontecendo levou o braço instintivamente como proteção e ouviu dois disparos que o deixaram quase surdo. Enquanto fazia um rápido exame em seu corpo para ver se havia sido atingido viu que o assaltante estava caído, e que em sua testa havia um rombo, de onde saía pela uma grande quantidade de sangue e miolos.
Atordoado e meio zonzo, pode ainda ouvir o som da moto, que saiu em marcha acelerada, pela faixa contrária, ao fluxo de veículos. Os vizinhos ao acudirem Carlos ,viram que com ele nada havia acontecido,mas um deles notou que uma das marcas dos projéteis havia ricocheteado no carro e no pilar do portão, por isso acertou ao próprio atirador.
Carlos sorria meio sem vontade, enquanto as sirenes das viaturas policiais eram sentidas ao longe e todos ouviam-no repetir:
- Eu disse e vou continuar dizendo, era a hora dele e não a minha ...a hora dele!. Eu fui apenas, o seu instrumento de resgate!