Dizem que não existe limite para uma mulher traída. Que são capazes dos piores atos em nome da vingança. Dizem...
Liliane olhou-se no espelho do banheiro, analisando cada pedacinho do corpo. Pernas, bunda, seios, sexo, tudo bem cuidado e perfeito. Depilada, macia, cheirosa, pele bem tratada, firme e trabalhada com dedicação. Não aparentava os trinta e cinco anos. Mesmo assim, não fariam diferença alguma... Não agora.
Pedro havia terminado tudo na noite anterior, sem muitas explicações ou desculpas. Simplesmente disse que não combinavam mais e estava cansado da vida em comum. Recusou-se a responder qualquer pergunta, saiu com a roupa do corpo, no meio da noite, deixando Liliane boquiaberta e sem reação.
Semanas depois, começaram os boatos sobre a nova namorada de Pedro e a diferença de idade. Liliane sentiu-se humilhada com a rapidez. Ela ainda sofria a separação, e ele desfilava de amor novo. Foi a primeira pontada de ódio.
Fez questão de conferir de perto, e horrorizada , reconheceu a vizinha do prédio onde morava. Estava esclarecido o mistério do recém adquirido hábito, de fazer sauna, todas as noites e demorar séculos para subir. Pedro voltava tão relaxado... Que não faziam sexo há meses. O vapor de eucalipto tinha nome: Sarinha ou Sara do 412.
Liliane queria respostas, sentiu que precisava gritar, bater nos dois e sentir-se aliviada. Ao invés, chorou horas seguidas e o peso da solidão chegou forte.
A mágoa corroeu as entranhas, doeu tão fundo, que a raiva quase a impediu de respirar. Em sua mente, um caleidoscópio surreal, formou imagens horríveis, sombras surgiram qual um chamado... Era o som da vingança. E soavam como sinos... Pequeninos sinos de bronze.
Sara, sempre havia sido motivo de comentários e fofocas. Era moradora nova e saía quase todas as noites, cada dia com um homem diferente, quase sempre em carros de luxo. Os vizinhos quase haviam feito abaixo-assinado, mas desistiram por pura preguiça e preferiram continuar falando mal e cochichando suas suspeitas. De repente, tudo acabou e passou a ter um comportamento comum. As pessoas estranharam...
Liliane rolou o convite da festa entre os dedos, indecisa se deveria ou não aceitar. Cedo ou tarde, teria que encarar Pedro e a namorada. Sabia que os amigos estavam ansiosos com a primeira aparição do novo casal. Começou a planejar, naquele instante, a melhor forma de agir, pequenos detalhes não poderiam ficar esquecidos.
A festa estava cheia de amigos em comum, Liliane não demonstrou qualquer reação e fingiu uma tranqüilidade que não sentia. Foi quando um toque, fez com que voltasse à realidade. Marquinhos, um velho amigo, ofereceu o abraço, e Liliane aconchegou-se. Há tempos haviam tido um caso rápido, que terminou justamente, quando Pedro apareceu e virou a cabeça de Liliane:
_ A mulher mais bonita da festa, não pode ficar com esta carinha triste- Ele fez uma careta, tentando ser engraçado.
Liliane, provocante, colou o corpo no do rapaz:
_Que bom que você apareceu. Quero sair daqui...
Marcos ofereceu a casa, e logo estavam acomodados no sofá confortável:
_Sabe que sempre gostei de você. Mas infelizmente...
_Não! Não quero falar sobre o que passou. Ainda bem que acabou, quero esquecer... Pensei que você quisesse me ajudar.
_ Desculpe... não fique deste jeito, não suporto te ver assim. – Liliane havia ido para a janela e olhava a rua... Distante.
_ Ah! Estou sendo uma mala sem alça, você não merece uma companhia tão chata.
_ Que isso? Vem pra cá malinha, quer beber alguma coisa? – Ele abraçou Liliane e tocou o rosto da moça com carinho. Desenhando com a ponta do dedo, o contorno do sorriso triste...
_ Vamos tomar um vinho? Sei que você é um profundo conhecedor, cheio de cursos no exterior...
_ Não acredito! Se não esqueceu, é um bom sinal. Tenho um chileno no bar. Excelente safra...
_ Adoro! Marquinhos, vou lavar as taças e buscar a água.
_ Fique à vontade. Realmente, você está se saindo muito bem...Gostei da atenção aos detalhes...
_ Deixe comigo, eu ainda lembro onde fica a cozinha.
Marcos era a síntese do solteiro organizado e perfeccionista. Liliane não havia suportado tantas manias e hobbies. Tudo no devido lugar, limpeza e ordem em cada gaveta, tanta assepsia... Foi o convite irresistível, que ela não conseguiu resistir... Retornou à sala e estendeu as taças, nua e excitada como nunca.
Convidada especial
Eles riam, provavelmente sob efeito das bebidas ingeridas na festa... Mesmo no escuro, Liliane enxergou as silhuetas dos amantes, beijando-se e arrancando as roupas. Pedro acendeu a luminária, e a luz suave iluminou o pequeno espaço. Na mesinha de centro, a mulher bateu uma carreira e aspirou o pó. Liliane viu pela primeira vez, o ex -namorado cheirando, hábito que desconhecia, até então...
Ouviu enquanto se amavam, no mesmo sofá onde tantas vezes foi a parceira de Pedro, cada gemido era como uma fagulha, uma pontada, cortando a alma em pedacinhos minúsculos. Finalmente, o som do ronco de Pedro, confirmou que era hora de agir.
Acostumada com a casa, não teve a menor dificuldade em encontrar uma boa faca, no jogo que enfeitava a enorme bancada da cozinha. Pedro usava com freqüência, nos churrascos que costumava oferecer aos amigos, todo domingo após o futebol.
Caminhou pelo carpete, as meias abafando qualquer ruído, o cabo de madeira, firme na mão , pronto para o primeiro golpe. O casal estava dormindo abraçado, e por experiência, Liliane sabia que Pedro tinha o sono pesado.
Foi tudo muito rápido: Golpeou a mulher no pescoço, o corte profundo, fez com que o sangue jorrasse forte... Sara despertou e abriu a boca, tentando falar.... Deslizou para o chão, e antes que pudesse soltar um gemido, fechou os olhos para sempre. Pedro resmungou alguma coisa e espalhou-se ainda mais, remexeu-se inquieto, procurou uma posição mais confortável e sossegou.
Liliane ficou parada, esperando alguma reação que não veio. Parou por alguns segundos e admirou a cena. A garota nua, deitada no meio da poça de sangue, Pedro dormindo, cheio de respingos, com o facão caído ao lado. E para completar, fotos de Sarinha, fazendo sexo com outros homens, espalhada pelo chão. Resquícios da vida obscura, desconhecida e com certeza, motivo mais que suficiente para um assassinato.
Quando contratou o detetive, Liliane pensou em usar as fotos para convencer Pedro a desistir da moça. Depois, entendeu que seria uma besteira, Pedro estava apaixonado e não levaria a sério. No máximo, causaria uma briga entre o casal, e logo eles estariam juntos outra vez. Pura perda de tempo. E para quem já havia sido tão enganada, esperar não foi problema...
Liliane tirou as luvas de plástico, que havia tirado da casa de Marcos. Agradeceu mentalmente, a mania de limpeza do rapaz e saiu tranquilamente pela porta da frente. A localização isolada era perfeita, sem vizinhos ou qualquer movimento de estradas próximas.
Dirigiu alguns minutos, entrou na ruazinha estreita no subúrbio carioca, tirou a roupa e abraçou o homem, que dormia profundamente ao seu lado. Beijaram-se e ele sorriu:
_ Você acabou comigo, desculpe... Nunca dormi assim, logo na nossa primeira vez... - Liliane pensou nos pequeninos comprimidos e suspirou profundamente.
Tranquilizantes, que o médico havia receitado para as crises de ansiedade, e desde a separação, não saíam da bolsa. Sempre prontos para socorrer qualquer emergência, e eis que surgiu a ocasião....
_ Culpa do vinho delicioso.- Ela beijou o ombro de Marcos,a lingua molhada brincou com o pescoço e desceu para o peito.
A mão atrevida, tocou o sexo duro, provocando e instigando respostas... Murmurou desejos secretos, prometeu e ordenou. Completamente solta, mulher e fêmea, na noite de fogo.
Liliane sentiu um desejo estranho, algo que nunca havia experimentado antes, uma ânsia quase animal... Como uma predadora, o gosto da morte despertou a besta e sem querer, cravou as unhas nas costas do amante:
_ Nossa! Que deu em você? Está me deixando louco de tesão.- Marcos estava extasiado com a urgência da parceira.
Liliane riu alto e tomou as rédeas. Desceu e subiu inúmeras vezes,perdeu as contas de quanto gozou...
Ele estava muito excitado, e como a maioria dos homens, não quis usar camisinha. Ela precisava daquele sêmen dentro de si e não se opôs. Já havia lavado as taças com cloro, e para todos os efeitos... Passara a noite inteira com Marquinhos, e tinha como provar...