Chapeuzinho Negro III

A garota soltou um suspiro de alivio. O homem não era seu pai como ela imaginara. Era um rapaz forte de cabelos dourados, olhos azuis e um rosto perfeito. Usava uma camisa de brim e uma calça social. Ele sorriu, mostrando os dentes extremamente brancos.

-Você é a garota do noticiário, certo?

Chapeuzinho sabia que fora algo cruel demais, mas, não que fora suficiente para ir para o noticiário.

-Talvez. – Ela respondeu.

Ele se aproximou estendendo a mão como se a chamasse.

-Soube de sua história. Deve estar muito nervosa com seu pai, certo? – Ele parou a poucos metros de distancia.

-Talvez. – Repetiu.

-Ele deve estar na floresta, certo? – Ele finalmente abaixou a mão, aceitando a distancia.

-Talvez.

-Você tem mania de falar “talvez”, certo? – Ele riu.

-Talvez. E você de falar “certo?”. – Ela continuava séria, incapaz de sorrir. – Porque está aqui?

-Queria saber se gostaria de dar uma volta comigo... Desabafar, sabe?

-E por que eu iria querer falar com alguém ridículo como você?

-Porque sou sua única companhia no momento. – Ele riu estendendo a mão novamente, mas, desta vez, era para que ela o atendesse.

Chapeuzinho se levantou dos degraus, fitando-o. O rapaz era insistente, tinha certeza. Mas, ela não iria fazer nada para agradar um garoto idiota. Chapeuzinho se virou e entrou na casa, deixando-o sozinho.

-Diga ao menos seu nome! – Ele gritou, enquanto corria atrás dela.

-Bianca. – Ela fechou a porta da varanda na cara dele.

-Então... Nos vemos por aí, Bianca. – Ele gritou.

-Eu realmente espero que não. – Ela disse entre dentes.

Apesar de tudo, seria impossível que Bianca deixasse de freqüentar a escola. Porém, a antiga ficava longe demais da casa da avó e com sorte, pode se transferir para a escola mais próxima.

Não tinha vontade de falar com nenhum dos novos colegas de classe. Eram jovens muito felizes e suas vidas eram perfeitamente esquematizadas por suas famílias. Um único toque nessa balança de perfeição faria tudo desmoronar. Bianca não se sentia bem entre eles. Não eram seus amigos. Passava todo o tempo concentrada nos estudos e mesmo no intervalo entre as aulas, mantinha-se afastada.

Aquela primeira semana na escola fora horrível, mas, na sexta-feira, encontrou novamente o rapaz que conversara com ela. Ele estava sentado num banco lado oposto da rua, observando os alunos saindo. Parecia que a estava esperando.

Quando a encontrou, se levantou e a alcançou rapidamente. Ele a olhou de cima a baixo, como se visse se ela tinha algo que o agradasse.

-Sabe, você é bem atraente, Bianca. – Ele envolveu o ombro dela em seu braço de forma pouco protetora e muito atirada.

Ela o fuzilou com os olhos antes de se afastar.

-Você não tem mais nada para fazer? Por que veio aqui?

-Acho que é um lugar público, portanto, não há nada de errado em vir aqui.

-Está me perseguindo? O que você quer de mim? – Ela continuou andando, porém, mais rápido.

-Nada. Só quero sua amizade. – Ele a fitou novamente, parando em seu busto. – E talvez, algo mais.

Bianca parou olhando-o incrédula.

-Não se aproxime de mim novamente ou eu juro que mato você! – Ela se virou e continuou andando.

Ele sorriu e antes que ela estivesse longe o suficiente para não ouvi-lo ele disse:

-Não sabia que você tinha puxado o lado assassino do seu pai.

Bianca parou, tentando conter o ódio em suas veias. Ela se virou mecanicamente e caminhou até estar frente-a-frente novamente.

-Repita. – Ela murmurou.

-Eu disse que não sabia que você tinha herdado esse lado assassino do seu pai.

Aquela frase bastou para fazer com que o ódio se transformasse em força e ela atirasse seu pulso no nariz do rapaz.