Vulto

O inverno trouxe a noite mais fria, escura e silenciosa de todas.

O vento tremulava a árvore em frente a janela do segundo andar do sobrado que eu morava.

Deitado em minha cama, coberto, eu olhava para o relógio na parede, ainda eram 2 horas da manhã, o sol demoraria a surgir. Minhas pernas formigavam, eu sentia vontade sair correndo dali, mas o medo não deixou. Contudo levantei e caminhei em direção ao interruptor de luz, cliquei e nada. A porta do quarto estava entreaberta e olhei de esgueio para o lado de fora, a casa estava vazia, só havia minha presença humana. Um relâmpago tomou o céu e clareou o quarto, assustei com o clarão, meu coração bateu acelerado. Subitamente, saí do meu quarto e corri em direção as escadas, antes de por o pé no primeiro degrau, avistei um vulto no saguão, meu corpo agora arrepiado e travado, como se tivesse tido um choque, paralisou. Meus olhos soltavam enxurradas de lágrimas que desciam sem cessar pelo meu rosto fino e gélido. Aos poucos meus movimentos retornaram e de costas voltei vagarosamente, "seja lá o que for aquilo não me viu" (pensei). Enquanto retornava para meu quarto meus ouvidos captaram o som de passos subindo, pisando cada degrau da escada, um após o outro... Entrei em meu quarto, tranquei a porta, me cobri novamente. Trêmulo, chorando, agora minha pressão parecia estar despencando, ou subindo ao pico, enfim, não estava bem.

Outro trovão, relâmpagos, clarões, mas os passos no corredor pararam, estava me aliviando, olhei para o relógio e para minha surpresa eram duas e vinte. Foram os vinte minutos mais horripilantes da minha vida.

Meu sono estava me consumindo, meus olhos começavam a se fechar quando a chave da porta do quarto começou a dar as voltas como se estive possuída, abrindo sozinha. Levantei desesperado, corri na direção da janela, pensando no que fazer, minhas únicas opções eram a de pular ou a de enfrentar o desconhecido vulto que me assombrara. A porta se abriu, um trovão ensurdeceu-me, o vulto estava frente a frente comigo, olhei-o por completo, uma sombra com braços compridos olhos vazios que caminhavam em minha direção. Abri a janela e saltei... Senti as gotas geladas da chuva tocarem meu corpo magrelo, pensei na morte, deduzi que ela não me pegaria mais, a deixei dentro do meu quarto, com os braços esticados afim de me pegar.

A quando meu corpo tocou o chão naquela madrugada, meus olhos se abriram, estava em frente ao relógio da parede, olhando no escuro do meu quarto, suando em bicas. Eram 2 horas da manhã.

Como num dejavú, eu sabia que teria os vinte minutos mais horríveis da minha vida.

Alessandro R Agostinho
Enviado por Alessandro R Agostinho em 27/10/2009
Código do texto: T1890712
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