Uma estranha na encruzilhada
Naquele dia saí um pouco mais tarde do clube, aquelas horas
intensas de natação nunca me cansavam. O céu ainda estava claro,
graças ao horário de verão, que tanto agradava-me por deixar as tardes mais longas.
O clube localizava-se afastado do centro da cidade, então na
volta para casa precisei passar por uma estrada de terra.
Sentia-me confortável naquele ambiente tão diferente do urbano, com o qual eu era acostumada.
Em certa parte do caminho, deparei-me com duas opções de
estrada, idênticas no aspecto abandono, todavia levavam a destinos
diferentes, e eu precisava decidir qual seguir. Pensei em ir pelo mesmo
caminho pelo qual passei na ida, óbvio! Entretanto eu fora de carro, numa carona animada que me distraira. Eu não podia lembrar da passagem correta.
Passar horas na piscina deixava-me relaxada e plenamente
despreocupada com os grandes problemas enfrentados em minha casa. Eu pensava em coisas banais, sentia o cheiro da relva, sorria para o sol e caminhava lentamente, como se não tivesse nem hora nem destino.
Sem tirar-me de meu êxtase, um carro parou ao meu lado na
encruzilhada. Uma moça conhecida sorriu para mim, então comentamos sobre acontecimentos em comum. Aquela velha amiga morava ao lado do clube, certamente dirigia para casa quando notou-me na estrada. Ela não frequentava o clube, e aquela era a primeira vez eu a via na rua naquele horário, pois ela estava sempre trabalhando na cidade vizinha. Não me preocupei em perguntar se havia algum problema, não conversamos por muito tempo, ela logo se foi.
Parecendo perto do fim, segui pelo caminho da esquerda, onde
haviam árvores de grande porte. Pude reparar que atrás de mim vinha uma mulher aparentando quarenta amargos anos. A desconhecida carregava algo no colo, parecia ser um recém nascido.
Avistei uma casa, em uma rua sem saída. Que erro o meu, estava descendo ao pátio de algum estranho. Eu teria de mudar de caminho, pois aquele não me levaria à minha casa.
Para confirmar que aquela rua não tinha saída, diminui ainda mais meus passos, afim de pedir informação à mulher.
Quando estávamos lado a lado, eu questionei sorrindo, como se já a conhecesse. Então rapidamente notei que ela carregava uma velha boneca enrolada em um tecido sujo, mas aquela informação não me parecia necessária, não diante do que ocorreu em seguida.
Deixando a boneca cair, a mulher fez movimentos bruscos. Senti
meus braços sendo puxados de forma que eu perdia seus movimentos.
O sol que antes iluminava meu caminho encontrava-se bloqueado pelas árvores.
Pude ouvir latidos da casa, e ver de relance um homem observando-me da varanda.
Consegui libertar-me da mulher, então corri pelo outro caminho.
De volta à civilização, eu corria desesperada, sem olhar para trás, porém percebendo que todos permaneciam em suas vidas monótonas. Eu estava perto de casa.
Não havia mais a ponte, durante minha ausência ocorrera um
desmoronamento. Mais um vez, sem saída.
Senti minhas pálpebras fecharem e mãos ásperas encostando em mim. Finalmente pude sentir o cansaço da natação e da corrida, minhas pernas negavam-se a obedecer-me.
Estava escurecendo, no entanto eu não pensava mais isso.
Mantendo meus olhos fechados, passei uma mão na face da dona daquelas mãos. Não obtive uma sensação agradável, e sem muito pensar, abri meus olhos.
Olhos escuros fitavam-me, enquanto eu sentia uma dor indescritível que me fazia sentir confusa. Não pude mais sentir meus pés no chão, perdi o equilíbrio.
Fui guiada, então, a um novo e desconhecido caminho, com o
auxílio dos escuros olhos da estranha, que voltara a segurar sua boneca, como uma cega tateando um objeto qualquer.