Chapeuzinho Negro II
A policia já começara a busca pelo pai de Chapeuzinho que virara um foragido. Todas as evidencias apontavam para ele: Assassinara sua esposa, cortando-lhe a cabeça e os pulsos. Encontraram rastros do homem na floresta, seguiram até um rio, onde o perderam completamente.
O machado do homem também foi encontrado na floresta. O objeto estava completamente molhado de sangue e só poderia ser manejado com alguma prática e força. O pai de Chapeuzinho cumpria com as duas requisições.
Chapeuzinho seria levada para a casa de sua avó, era a familiar mais próxima e a única que aceitara a garota em sua casa.
A garota estava no banco do carona da viatura do xerife. O homem tagarelava feliz enquanto a garota observava a floresta sem mencionar uma única palavra. Não falava desde que dera seu depoimento aos policiais – Bando de cretinos que só queriam se livrar dela, não tinham vontade nenhuma de ajudar.
Os solavancos da estrada fizeram Chapeuzinho ser jogada para o lado do xerife.
-Desculpe. – Ela murmurou se afastando.
-Tudo bem. Isso acontece muito aqui. – Ele sorriu.
-Eu sei. Eu moro aqui, caso não se lembre. – Ela assinalou.
Passaram o resto da viagem em silêncio. A casa de sua avó fora construída por seu pai. Era uma casa azul e, razoavelmente, grande. A velha já estava na porta, esperando a menina. Chapeuzinho suspirou e jogou o capuz do sobretudo sobre sua cabeça, escondendo seu rosto.
O xerife e Chapeuzinho desceram do carro, e a mulher caminhou para abraçar a neta. Os olhos estavam inchados, provavelmente de tanto chorar. Qualquer um passaria a noite chorando em seu lugar ainda mais com a ideia de que seu filho matara a esposa. E seria melhor que não dormisse. Com o que sonharia? Que seria a próxima vítima? Que ela enlouqueceria também e mataria a neta? Não! Não poderia dormir. Seria pior.
-Minha neta! Como você cresceu! – Ela sorriu.
-Vovó, essa não é a melhor hora para falar da minha altura. Talvez, daqui a alguns meses. – Chapeuzinho não levantou o rosto.
-Claro, claro – A velhinha enroscou o braço em volta de Chapeuzinho, puxando-a para perto de si como uma criança abraça um bichinho de pelúcia que acaba de recuperar. – Obrigada, xerife Dias.
-“Proteger e servir”: é o nosso lema. – Ele bateu continência sorrindo e entrou no carro novamente.
Chapeuzinho e a avó entraram na casa e pela segunda vez, Chapeuzinho contou a terrível história do assassinato de sua mãe. A avó escutou com atenção e chorou quando Chapeuzinho mencionou a cena da cabeça da mãe no ferro.
Depois da conversa, a avó fez preparou chá para as duas e pediu que Chapeuzinho ficasse em casa enquanto a avó iria a cidade, comprar provisões para a casa.
A casa já era entediante com a companhia da avó e sem ela, era ainda pior. A garota caminhou pelos cômodos, procurando algo para fazer. Encontrou uma estante de livros grossos e antigos em seu quarto, porém, nenhum deles seria bom para aquele momento. Contos de fada, romances, suspenses, comédias... Nada a faria esquecer.
Desceu as escadas e saiu da casa, sentando-se nos degraus da varanda e ficou observando a estrada e a floresta. Sentia um impulso de ir de encontro as árvores e procurar seu pai. Queria encontrá-lo e destruí-lo com suas próprias mãos. Porém, tentaria entender o motivo daquilo antes de fazê-lo sofrer. Queria torturá-lo até que confessasse seu crime para ela. Porém, tentaria se lembrar de ligar um gravador para incriminá-lo.
Seus devaneios foram interrompidos quando ela viu uma sombra caminhar entre as árvores. Era um homem, tinha certeza. Um homem alto e forte. Ele se aproximou por entre os galhos até sair da floresta, encarando-a.