__A MALDIÇÃO DO AMOR ETERNO__
O cabelo impecável num coque discreto, vestimentas
sobrias e passadas firmes.
Uma mulher incomum, beleza perculiar e de olhar tão
sombrio que causava arrepios.
Por de trás do balcão de antiguidades ele a observava com
certa obsessão.
Talvez ela fingisse não notar seu olhar de cobiça, talvez o
notasse e o repudiasse.
Dia após dia ela entrando e saindo daquela loja sem nun-
ca adquirir uma peça.
O que buscava, o que a levava até lá, seria o cortejo do jo-
vem senhor, seria uma fantasia insana.
Ele após semanas chegara a conclusão que a aquela mu-
lher era estranhamente excitante.
No calor de seus pensamentos mais audaciosos imagina
-va a volúpia e o desejo dela diante do seu toque.
Se houvesse coragem ele se aproximaria para sentir o
calor de sua respiração, a tocaria ate lhe desnundar e
se perder em suas curvas.
Como uma mulher que jamais houvesse lhe dirigido uma
palavra siquer o deixara em extase.
Como ele se sentia terrivelmente enfeitiçado por sombria
mulher.
Ela era quase uma menina, pelos traços delicados de sua
face ele sabia que era uma jovenzinha.
Sim, uma menina mulher, que jamais lhe direcionou um
olhar, tão pouco um gentil cumprimento.
Todos os dias ele abria a loja e ficava a espera de sua mu-
sa misteriosa.
As vezes pela manha, outras no entardecer ela adentrava
a pequena loja e permanecia por alguns minutos observa-
do a vitrine.
Instantes tão breves que o imobilizava para aborda-la.
Logo mais ela saia e sumia em meio a multidão, quantas
vezes após o topor da presença ele ia a rua procura-la.
Em vão ela simplesmente não estava em parte alguma.
Triste e cabisbaixo ele voltava e permanecia em sua ban-
queta cabisbaixo e ansioso por mais um dia para reecon-
tra-la.
Certa manha ao abrir a loja e fazer a limpeza habitual
ousou ver quais objetos tal mulher olhava incessantemen-
te dia após dia.
Era um balção com jóias, não havia nada excepcional
além de brincos, anéis e correntes.
Pela primeira vez ele olhou atentamente cada peça se de-
parando com um colar tendo um pingente.
Não era uma peça cara, aliás, ele nem se lembrava de te-
la visto na loja ou comprado tal peça.
Um tanto ansicioso abriu o singelo coração e seu coração
descompassou.
Lá havia sua desconhecida cliente e um homem jovial e
imponente.
Por instantes sua cabeça girou, o mal estar foi terrível e
ele teve que se sentar senão cairia ao chão.
Seria aquela singela peça que ela buscava, ahh ele pensou
se fosse isso ele a presentearia.
Ansioso ele a esperou dia após dia, olhava aquele coração
dividido ao meio tendo as fotos de uma jovem sorridente e
e de um jovem homem e seus pensamentos divagavam.
Fora uma espera em vão, a apatia e a tristeza se apodera-
ram do jovem senhor.
Até que ele resolvera se desfazer da loja, sentia uma dor
atroz como se houvesse perdido a razão de viver.
Sua desconhecida amada jamais voltara a loja e para ele
não fazia sentido algum permanecer lá.
Cansado e acamado pelas dores da alma se isolou do mun-
do.
Em seu leito de morte tendo a companhia de uma enfer-
meira vivenciava a única dor que os médicos não curam.
A dor do amor perdido.
Entre delírios e lucidez certa noite ouvira a enfermeira co-
mentar sobre a maldição do amor eterno.
A mulher lhe confessara a lenda da jovem senhora que ao
perder o amado para a guerra vagava em busca de coração
solitário.
Ela seduzia os puros e crentes que o amor verdadeiro é eter
-no e sulgava sua seiva vital.
Fraco e infeliz ele nada disse, sua alma desprendia do cor-
po cansado e alçou voo ate a emensidão do universo.
A enfermeira que tagarelava se silenciou sem saber que ha
-via quebrado o segredo sombrio.
Fez uma prece e chamou o médico local para atestar a
morte do homem.
Tempos depois todos se esqueceram dele, exceto por um
jovenzinho que comprara a loja de antiguidades.
E numa manha insolarada uma bela e sombria mulher
adentrou a loja......
-Camomilla Hassan-