Crime e loucura.

Na calçada

Lá estava

-Tão perto.

Era uma tarde cor de sangue

Cor da tarde

-O céu estava avermelhado

Com nuvens cinzentas.

Os reflexos imitidos pelo sol

Dava um ar melancólico

Na deserta rua.

No banco da pracinha

Absolto os olhos corriam

-Era aquela amante

-Aquela mulher.

Ele a via

-Os desejos

-O sangue que fervia

Ó Deus!

Tu és complacente

Só mais uma vez

Uma chance eu a quero

-Essa louca paixão me consome

-Ele sempre dizia isso

Que era só mais uma vez

Más nunca cumpriam

-Era uma paixão desenfreada

Não dominava

Era fraco

-Deixa-se se levar pela ilusão

-Acostumara-se com tudo fácil

Era rico tinha dinheiro

Gozava de tudo que o dinheiro podia comprar

-O prazer da carne

Ele usava o dinheiro para tudo conseguir

-Tornou-se viciado em sexo.

Essa tarde

-Meu desejo minha carne

Será saciada

-Essa fome de sexo

Será satisfeito.

Próximo a ela

Cheio de emoção

Sentindo palpitação

Desejos

-Fica sem palavras

-Murmura.

A moça cheirosa

Linda deslumbrante

Estava surpresa com a parição

-O homem com quem teve muitas aventuras

Um amante sem medida

Estava ali

Novamente.

Ele casado pai de família

Conceituado na vila onde morava

Gente fina

Das altas rodas

Filho do prefeito.

Más era um frívolo um canalha

-A sua esposa já sabia

Sabia que o marido lhe traia

-E que ele já prometia havia há muito tempo se comportar

Em nome da família.

Ela pra não desmoralizar os filhos

E não criar problema com seus pais

Nem ser noticia nos meio de comunicações

Em toda vila

E também não ser alvo de fofoca e intrigas

Preferia fechar os olhos

Em nome da falsa moral

-Tinha que preservar o nome

Não queria escândalo

-O que diriam a sociedade?

-Não suportaria a vergonha.

No entanto o ciúme a raiva o ódio a acompanhavam

Não conseguia mais dormir

Só com comprimidos

Remédios para relaxar

Para se acalmar

-Já não agüentava tanto remédios

Não era justo

Em nome da moral

Da dignidade

Ela estava estragando a sua saúde.

Tinha alucinação pesadelos

Acordava chorando suando frio

Há muito tempo não tinha paz.

E o marido novamente estava se encontrando com a amante

Com uma entre outras

-Ela sabia

Desconfiava

Sentia no seu jeito

-Ele não a ligava

Não se importava com ela

-O desrespeito o desprezo

Que ele mostrava

Estava lhe deixando louca.

Tinha dia que seu corpo tremia

Seus nervos estavam fracos

A mente não parecia lúcida

-Esquecia

Esquecia de tudo

Até dos filhos

Das horas

Do dia

Da noite

-Cada dia estava pior

Já não sabia o que fazia.

Sentia uma ira tão grande

Às vezes ficava enjoada vomitava chorava

-Sua aparência estava relaxada

-Todo mundo falava comentava

-Seus pais seus irmãos parentes

Todos pensavam que ela estava doente do sistema nervoso

-Eles não sabiam da verdade

Somente desconfiavam

Mas nada diziam.

Um dia obstinada com todos aqueles pensamentos

A dor o ódio o ciúme e a loucura

-Já não suportava mais.

Meio tonta dopada

Resolve seguir o marido

-Ela tinha uma arma que escondia

Que num desses dias de loucura havia conseguido

Lá na periferia

-De um jeito ou de outro

Ela conseguiu

Um revolver

-Uma arma que guardara

Pensara em muitas vezes em se vingar

E era aquele o momento certo

Era o momento

-Seria melhor que ele morresse do que ela

-É lógico era ele o vagabundo

-Ele que a estava matando pouco a pouco

-Ele a estava deixando louca

Desvairada alucinada

-Por que eu?

Essa pergunta ela fazia sempre

Estou morrendo por um verme

Que não merece o que come.

Mais hoje ele não escapa.

E seguia o carro do marido

-Sabia muito bem aonde ele ia

Lá na fazenda do seu sogro

-Numa pequena casa

Lá ninguém o descobriria

Ninguém ia lá há muito tempo

-Era um lugar deserto

Que poucas vezes eles visitavam

-Lá não morava ninguém

-Não tinha ninguém

O lugar ideal para ele levar a amante.

A fazenda era improdutiva

Só havia aquela casa

Uma casa desabitada.

Vê o marido abrir o portão

-Suas mãos tremem no volante

O olhar fixo

A cabeça dói

Não estava em si

Na sua lucidez

-Sua mente estava turva escura

Tudo girava

-Parecia que um vendaval frio circulava ao seu redor

Que penetravam em suas entranhas

E que muitos fantasmas a seguiam.

Coloca luvas

Desce do carro leva a bolsa com o revolver

-Só há uma luz acessa

É a luz de um dos quartos

-Ela tem duas chaves

Uma do portão outra da casa

Que tirara a copia

Uns tempos atrás

Quando começara a pensar em vingança.

Com as mãos tremulas abre o portão

Caminha até a porta

Ainda mais nervosa quase sem força

Deixa cair à chave da porta

-Num esforço sobre-humano

Segurando na parede

Abaixa pega a chave sempre tremendo

E por um minuto mais o menos

Tenta colocar a chave na fechadura

Até que consegue.

Caminha quase se arrastando

Como uma sonâmbula dirige-se para o quarto

-O quarto que tem a luz acessa.

Olha a porta entre aberta

Escuta o sussurro dos dois

O beijo estalado

As respirações ofegantes

Os gemidos de prazer dos amantes.

A visão embaralhada turva

-Vê dois vultos na cama

E diz olá.

Supressos com o flagra

Os dois ficam paralisados

Sem poderem falar.

Com a arma em punho

Ela atira

Seis tiros

-Descarrega a arma.

Sente-se por uns momentos aliviada

Como que sentisse o sabor da vingança

-Corre para a porta de saída

Logo alcança o carro.

Arranca acelerando

Deixando sair um leve sorriso

Pensando na vitória.

De repente lembra da arma

Que tinha jogado instintivamente no banco ao lado

-Sabe que deve se desfazer.

É uma prova contra ela.

-Há mais isso não ninguém iria descobrir

Na estrada tinha uma ponte

Jogaria a arma no rio

Era a única prova

-Não há como descobrir o assassino

Desses dois vagabundos.

Chega em casa

Vai direto para o chuveiro

-Depois de um banho demorado

Vai até a cozinha toma uma xícara de café

-Por sorte não havia ninguém em casa

Sai e vim e ninguém me viu.

Pensando disse para si

-Tenho que lavar o carro

Assim ninguém poderá dizer que sai

-Se sente cansada muito cansada

Vai até o quarto

Deita-se

-E pela primeira vez consegue dormir

Dorme profundamente

Como nunca havia dormido.

Acorda a mais de oito horas de sono

E então mais consciente

Percebe o que tinha feito

O crime que havia praticado.

Sente um calafrio percorrer o seu corpo

Tenta esquecer

-Más a lembranças começam a voltar e perturbar a sua mente

Será que já descobriram o corpo

Não isso vai demorar

Ninguém vai lá...

Só depois de uma semana ela vai a delegacia registrar o desaparecimento do marido

-Conta que ele costuma viajar muito

Muitas vezes sem avisar

Que estava preocupada

Que não dava noticia

Não ligava

Não mandava ymail.

A policia começa a investigação

-Só depois de mais de dois meses é que descobrem lá na fazenda os dois corpos

Já em estado de decomposição avançada.

As investigações não levaram a nada

Passara-se quase um ano e não se descobria o assassino.

A esposa que por pouco dias se achava tranqüila

Começou a ter pesadelos

Sonhos horríveis

Dores fortes no corpo inteiro

-Via fantasmas que achava que era alucinação

-Os médicos receitavam medicamentos cada vez mais fortes

-Nada conseguia curar a mulher.

A situação piorava

O sofrimento era demais

Não esquecia a cena

O marido e sua amante

Os tiros

Os gemidos

-Era a consciência

-Parecia que todos apontavam os dedos para ela

Chamando-a de assassina

-Ouvia ruídos na casa

Via a imagem do homem que sempre a traia

-E o ódio voltava

Voltava com mais força.

A vida dela se tornara um inferno

Até que resolveram interná-la

Numa casa de tratamento para doentes mentais.

-Até agora ela está lá

Com os seus fantasmas

Ainda sofrendo para defender uma falsa moral

Pra não desmoralizar a sua família

Para poupar seus filhos

Seus pais

Seus sogros

Os vizinhos

A sociedade

-O orgulho a vaidade não deixava ver

Preferia morrer pelo orgulho

Por uma dignidade

Forjada

Pelo brilho e o poder do dinheiro

Por uma sociedade corrupta

Só de fachada

Que por dentro era podre e doente.

E fica esperando que a morte a venha lhe buscar

E quem sabe ai poderia descansar

Descansar do ódio que sentia do orgulho que a consumia.

Diziam que ela estava totalmente louca.

Praguejava

Culpava o marido

Por sua desgraça

Mas ninguém entendia

E todos comentavam

Por que ela culpa o marido

Um homem tão bom

Tão integro

Filho do prefeito?

-Não levem em conta

Ela está completamente louca.

Ninguém sabe será que ela vai descansar?

Depois que morrer?

Será que em espírito ela poderá ter paz

E qual seria a justiça divina?

Ou talvez pagará os seus crimes nessa vida?

Quem sabe?

Cláudio D. Borges.

poeta cláudio
Enviado por poeta cláudio em 08/10/2009
Reeditado em 21/10/2012
Código do texto: T1854906
Classificação de conteúdo: seguro
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