Cemitério

Meu primo estava ali, desolado. Sua expressão confusa me cortava a alma. Vez ou outra seus olhos cruzavam com os meus, mas sempre passavam por mim, descrentes que eu o observasse.

Nunca fomos próximos e eu não desejava que isso mudasse. Um flash pareceu fotografar o momento em que o caixão começou a descer, em seguida o trovão anunciou a chuva que se aproximava. Cumprimentei sua mãe com um abraço forte, bati no ombro de seu pai e me afastei. Com poucos passos me coloquei ao seu lado.

- Não posso te ver ou escutar... – sussurrei. – Mas sei que pode me ouvir, Henrique, vá até a capela e ore. Não se prenda aqui, ore pedindo que venham te buscar e logo eles virão.

Eu sabia o resultado. Meu primo colocou-se de pé, desesperado, despejando em meu ouvido palavras confusas que tinham uma só essência: Ajude-me. Mas eu não podia. Aquilo era tudo que poderia fazer.

Todos os outros espíritos me encaravam, aguardando por uma reação, e, se eu a esboçasse, voltaria para casa junto de uma legião.