Dia da Caça
"Temporada de Caça ABERTA!", dizia a placa de madeira ao lado da trilha de terra. As árvores impediam a visão do céu, e feixes finos de luz enchiam a floresta de vida. Os castores mergulhavam no rio, terminando seu dique, os cervos corriam nas clareiras e nas áreas menos arborizadas, esquilos subiam em pinheiros e várias aves cortavam o céu. O aviso não mudara nada para elas, não ainda.
Um pássaro pousa em um arbusto baixo. Devora pequenas amoras roxas e vermelhas, seguindo sua rotina.
Um homem armado e um cachorro caminham lentamente, não muito longe dali. O planejamento é passar três dias caçando naquela floresta, até então, pacata. A manhã passa rápido e tudo o que ele consegue é um filhote de cervo. Matara parte de uma família e não tem capacidade de imaginar a sensação de perder o próprio filho. Acende uma fogueira e assa parte da carne. Seria o fim de semana perfeito para um caçador. Por volta das 15hrs, almoçou a carne que assara junto com alguns pedaços de pão e foi cochilar em sua barraca de lona.
Acordou ao anoitecer, como planejara, passaria a noite caçando. Levanta-se e sai da barraca, espreguiçando. Ouve um som em meio aos arbustos e se põe alerta. Pega a espingarda dentro da barraca e começa a caminhar por uma trilha pouco visível. A lua penetra pelas frestas das árvores, criando uma iluminação pobre.
O caçador caminha por várias horas, sem encontrar nada que valha a pena morrer, a única coisa que o deixa intrigado é a sensação de perseguição. Sente que há mais alguém com ele desde que saiu da barraca. Pouco depois tropeça num galho e olha para trás. Entre os arbustos, vê um par de olhos amarelos que mostram raiva, ódio. Ele aponta a espingarda rapidamente, mas não atira, não tem tempo para puxar o gatilho. Algo o agarra pela parte de trás do casaco e o arrasta e em seguida, a força é aumentada, como se aumentasse a quantidade de carregadores.
O homem grita e tenta apontar a arma para aquele que o movem, mas, o pânico o impede e uma coruja mergulha retirando a espingarda de sua mão, ele se debate e tenta segurar nas raízes das árvores, inutilmente.
Finalmente param de arrastá-lo e suas costas doem, arranhadas profundamente pelas raízes que não foram evitadas. Ele se senta, gemendo de dor e olha a sua volta. Uma alcatéia está a sua volta. Os olhos amarelos o encaram e o amaldiçoam. Ele tenta se levantar, mas, ao tentar correr, tropeça no próprio é e torce o tornozelo.
Um dos lobos, provavelmente o alfa, se aproxima mostrando os caninos afiados como adagas, se vira para os outros e com um rosnado atacam, fazendo o homem gritar e o sangue jorrar nas folhas baixas das árvores.
Pela manhã, alguns caçadores encontram o corpo pela floresta e o enterram no acampamento vazio que viram pelo caminho. Mal sabem o que os espera.