EU VEJO GENTE MORTA (4° EDIÇÃO)

Minha mãe é espírita e ela sempre diz que os espíritos escurecidos não gostam quando limpamos a casa e trocamos os móveis de lugar. Segundo ela, mudar a disposição dos móveis renova a energia do ambiente e isso irrita as almas penadas.

Um fato curioso é que os gatos também ficam irritados quando mudamos algo na casa. Eu tenho uma gata de estimação chamada Lucíola e ela fica furiosa quando faço isso.

Bem, os fatos que vou narrar a seguir aconteceram no outono de dois mil e seis, quando resolvi fazer uma enorme faxina no meu quarto. Joguei fora uma infinidade de coisas inúteis, que eu vinha guardando há muito tempo, inverti a posição de todos os móveis e acrescentei à decoração alguns objetos novos.

Essa função toda levou alguns dias e a Lucíola ficou indignada comigo. No último dia, depois de tudo pronto, fui dormir contente porque o quarto ficou lindo e com cheirinho de coisa nova. Eu estava quase pegando no sono, quando ouvi um barulho de coisas caindo. Imaginei que fosse a Lucíola derrubando objetos da estante, pois ela estava irritadíssima. Mas eu estava com muito sono e nem me dei ao trabalho de abrir os olhos pra ver o que estava acontecendo. Alguns minutos depois, senti que alguém tentava puxar meu cobertor. Sentei na cama furiosa, gritando:

- Vai dormir e para de encher meu saco, Lucíola.

Olhei à minha volta e não vi ninguém.

- Ué! Cadê a gata?

Levantei, acendi a luz e vi que algumas canetas e livros estavam no chão.

- Foi esse o barulho que ouvi - pensei.

Fui procurar a Lucíola e a encontrei dormindo um sono ferrado no sofá da sala. Ela costuma dormir nós pés da minha cama, mas naqueles últimos dias, como andava muito aborrecida comigo por causa da mudança, dormia na sala. Voltei pro quarto, já suspeitando o que estava acontecendo, mas não dei bola, resolvi ir pra cama e tentar dormir novamente. Mais uma vez, quando estava quase pegando no sono, puxaram meu cobertor.

Eu sentei na cama furiosa e gritei: - Seu filho de uma p... mal parida. Sai daqui, desgraça! Me deixa dormir.

Quando contei pra minha mãe o que tinha acontecido naquela noite, ela ficou chateada. Disse que eu não devia xingar os mortos assim. Que o certo era conversar com eles delicadamente e mandá-los pra Casa de Maurício, que é o centro espírita que ela freqüenta.

Mas a verdade é que foi um santo remédio porque depois de mandar o perdido pra p..., eu dormi a noite toda bem tranqüila e nunca mais nenhum engraçadinho veio puxar meu cobertor.

A Alquimista
Enviado por A Alquimista em 21/09/2009
Reeditado em 13/04/2011
Código do texto: T1823833
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