Feridas da Guerra V - Final

A policia investigava um incêndio num armazém de médio porte. Até aquele momento, o incêndio fora considerado criminoso já que o culpado deixara um bilhete fora de alcance do fogo...

Pierre observava Henri e Christine dormirem, sentado num banquinho de madeira e pensava num modo de resolver toda a situação. A única medida que tinha tomado desde a discussão a algumas horas, fora de trancar todas as portas e o portão. O portal não era desafio para ninguém, mas, dificilmente alguém arrombaria uma das portas.

Louis chegou ao portão trancado e o pulou sem dificuldades. Correu até a parte de trás da casa, em direção a porta traseira, da cozinha. Por sorte, estava aberta.

Henri dividia a cama com a mãe, fingindo dormir, não movia nem um músculo e ansiava pelo momento em que veria seu pai novamente. Pierre parecia incomodado e saiu do quarto suspirando profundamente, desceu as escadas largas e foi até a cozinha, onde encheu um copo de água e, encostado na pia, ficou observando o cômodo.

Parecia que estava tudo em ordem: as janelas estavam limpas e intactas, os pratos e talheres estavam dispostos em sua posição original e os vasos estavam dispostos com perfeição nos cantos das paredes. Porém, uma coisa o incomodou. A porta da cozinha fechava e abria com o vento. “Droga, esqueci de trancar essa maldita porta!”, pensou, trancando-a.

Voltou para a sala de estar. O sofá, que ficava de costas para a cozinha, estava ocupado por uma pessoa. Pierre via a cabeça de Louis no encosto de almofadas.

-É engraçado como as coisas aconteceram, como acontecem e como acontecerão, não acha, meu caro Pierre? - Louis sorriu sem olhar para Pierre.

-O que você quer aqui? - Pierre começou a apertar o copo de vidro, nervoso - Não há nada para você aqui!

-Tem razão. Você tomou tudo que era meu e eu vim buscar de volta, desgraçado - Louis se levantou, ainda sem encará-lo.

-Eles merecem outro começo e você merece a morte por fazê-los sofrer tanto! - O copo se quebrou na mão de Pierre, fazendo um corte profundo.

Louis se virou com um sorriso psicopata.

-Onde estão eles? Quero falar com meu filho.

-Não vai ver nenhum dos dois, não está em condições disso. Você os deixou esperando e agora quer dizer o que a eles? Que sente muito? Que agora tudo vai ficar bem? - Louis começou a olhar para o teto, entediado - Você devia morrer desastrosamente. Eu amaldiçôo o dia em que você nasceu! Devia matar aquele garoto só por ser seu filho, desgraçado!

A menção a Henri acabou com a calma de Louis e ele sacou a pistola apontando-a para Pierre.

-Nunca mais fale do meu filho! Ele tem mais coragem do que você! Um francês que abandonou o país em busca de conforto. Eu sei quem é você Pierre. Você fugiu da crise do país e descobriu minha mulher, não é? VOCÊ merece morrer! - Louis deu a volta no sofá apontando a arma para Pierre e caminhou até o homem. - Abra a boca! - Pierre manteve uma expressão de ódio. - Abra essa maldita boca! - Com o grito de Louis, Pierre o obedeceu.

Louis já tinha matado muitos homens e um a mais não faria diferença para ele. Colocou o cano do revolver na boca de Pierre e o conduziu pela casa, perguntando sobre Henri, até o homem dizer-lhe que o menino estava dormindo.

-Devia matá-lo agora, mas, não vou. Quero resolver outros problemas primeiro. Dê-me as chaves. - Pierre retirou a chave mestra do bolso e o entregou. - Não sou idiota, sei que não tem só essa! Quero todas as chaves! - Pierre gemeu, entregando as chaves. - Muito bem.

Louis amarrou as pernas, braços e o tronco de Pierre usando uma corrente que encontrou na cozinha. Provavelmente fora usada para carregar algum tipo de carne.

Acima das escadas, Henri assistia a tudo, escondido nas sombras e antes que Louis começasse a subir, o menino voltou para o quarto, onde a mãe ainda dormia e sentou-se no banquinho de madeira.

Louis encontrou o menino sorrindo para ele.

-Olá, filho! - Louis guardou o revólver e abraçou o filho. - Quero que me faça um favor, certo? - Henri balançou a cabeça afirmativamente. - Acorde sua mãe e mande-a descer. Diga, que ela tem apenas cinco minutos.

Louis descia as escadas enquanto Henri acordava a mãe. A mulher, cansada e confusa não entendeu bem a mensagem do filho.

-O quê? - perguntou.

-Papai quer te ver, mamãe. Você só tem cinco minutos. Ele está lá embaixo.

Quando finalmente entendeu o que se passava, Christine desceu as escadas apressada, seguida por Henri que se negou de ficar no quarto enquanto algo importante acontecia.

Louis os esperava em pé ao lado de Pierre. A imagem do marido amarrado fez Christine chorar enquanto gritava com Louis:

-O que você está fazendo? Ele não tem culpa de nada!

Louis sorriu antes de responder.

-Tem razão. Ele não tem... A culpada é você! - Louis apontou o revólver para a mulher e sem hesitar, atirou.

O som do tiro espantou os pássaros do lado de fora e este, foi seguido pelo grito de Pierre, que apenas assistiu a morte da mulher, desejando ser o próximo para não ver o que aconteceria depois.

Os olhos de Henri se arregalaram com a visão da mãe morta no chão. Correu para o pai, socando-o com suas mãos pequenas.

-Seu monstro! Por que fez isso? Por quê? A culpa é dele! A culpa é dele! O que você fez, papai? O quê?

Louis empurrou o garoto com tamanha força que ele caiu no chão, chorando.

-Não podia fazer isso com minha mulher, Louis! Ela não precisava morrer! Se ela está morta, não me sobrou mais nada! Por favor, me mate! Por favor! - Louis não se movia, com a cabeça baixa. - Desgraçado! Mate-me! É a única coisa que eu te peço!

-Papai, não podia tê-la matado! Não podia!

Louis levantou o revólver mais uma vez, apontando-o para Pierre, que agradeceu por poder morrer.

-Vai me matar também, papai? - Henri não parava de chorar e gritar no chão - Papai! Não é justo matá-la! Não é justo!

-Henri, vamos embora. Eu só preciso de mais um momento com você antes de partir!

-Não! Não! Não! - Uma compreensão maligna atravessou o rosto de Henri antes dele se levantar e murmurar - Você merece morrer e eu não vou viver ao seu lado, papai!

Louis deu um riso.

-Era o que eu esperava de você. - Ele deu o terceiro e o quarto tiro, matando o filho e a si próprio.

A policia investigava um incêndio num armazém de médio porte. Até aquele momento, o incêndio fora considerado criminoso já que o culpado deixara um bilhete fora de alcance do fogo que dizia:

“Esse incêndio é minha culpa e não vou tentar escapar de meus pecados. Depois de fazer isso, pretendo matar Pierre, Christine, Henri e a mim próprio. Isso não soa muito lógico, mas, é a única coisa que me vem a cabeça no momento. Isso é culpa de uma guerra que me ensinou a matar e a não perdoar. O dono deste armazém não participou dos massacres, portanto, poderá me perdoar. Fiz isso por não desejar vossas presenças em minha casa durante meu crime e meu suicídio.

“Obrigado,

“Louis.”