Momento
O frio fez com que eu me encolhesse no sofá. Olhei para o carpete e vi um pequeno bilhete de meus pais. “Voltamos logo”, dizia. O relógio de parede indicava 07h06min. Suspirei com a ideia de quão tarde era, devia ter dormido a tarde inteira.
Levantei-me lentamente, pisando no carpete azul com meus pés nus, caminhei até o corredor em direção ao quarto. Abri o baú atrás da cama e peguei um cobertor de lã. Voltei pelo corredor, mas, parei no caminho, olhando para o espelho quebrado do banheiro. Os pedaços estavam no piso úmido.
Franzi a testa e apertei meus olhos, então, quando voltei minha atenção novamente, estava completo, sem nenhum trinco, sequer. Confusa, voltei para o sofá e me enrolei no cobertor.
Procurei pelo controle remoto da TV e, para minha surpresa, estava no colo de um boneco de pano, ao lado do DVD. O boneco parecia meio surrado, porém, ele mostrava um sorriso malicioso costurado em sua cabeça.
Então, ouvi um barulho agudo, como vidro se quebrando. “O espelho!”, pensei. Não tinha coragem suficiente para checar o acontecimento. Puxei meus joelhos para meu peito e me encostei-me ao braço do sofá, olhando para o corredor escuro, tudo o que vi foi um rosto maníaco que sorria para mim. Este, afastou-se sem se virar, desaparecendo na escuridão.
Encolhi-me ainda mais no sofá e senti uma mão fria tocar meu ombro. Gritei e a sensação de toque se foi. Voltando para o boneco, vi que desta vez, ele tinha um pedaço de papel pardo preso ao braço com um alfinete.
Levantei, corri até o hack e peguei o bilhete. “VAMOS BRINCAR!”, estava escrito. Senti uma respiração descompassada em meu cabelo, mas, era tarde. Vi apenas uma lâmina em minha garganta e gritei, o grito mais louco que pude soltar na escuridão de minha mente e, quando abri os olhos, vi-me no sofá. Uma leve brisa passou pelo cômodo e senti frio. No carpete azul estava o bilhete de meus pais: “Voltamos logo” e na parede, o relógio indicava 07h06min.