ROMANCE - A FÊNIX NEGRA - CAPÍTULO I - parte 3
AS GARRAS DA FÊNIX
Montanhas do Afeganistão. Eram quatro homens, todos louros, altos e fortes. Passariam facilmente por soldados americanos ou ingleses, não fossem as vestimentas árabes, que lhes caíam mal, principalmente por encobrirem seus complexos macacões de combate, deformando-se. Haviam sido necessárias para chegar até ali apesar de seus uniformes lhes poderem prover com folga toda a camuflagem necessária, mas isso teria um perigoso custo em energia de suas baterias, já que atuavam isolados, desprovidos de qualquer possibilidade de apoio. Seria desastroso ficar sem energia num momento crítico. Um deles, o líder, SS Hauptsturmführer Lang, ajustou o zoom de seu visor que, além de proteger seus olhos do sol inclemente e do pó, podia ampliar até cem vezes o campo visual com um estreitamento bem menor que qualquer telescópio, além de poder atuar como visor noturno (NVG) e termal, tanto na banda IR quanto na UV e, sendo binocular, podia também fazer telemetria, graças ao minúsculo e sofisticado processador que o integrava: bastava focar o ponto (que podia ser de várias cores, conforme o ambiente) no alvo para ter o alcance com a exatidão de um laser mas sem emitir. Todos os dados importantes apareciam contra o horizonte, como num HMD. O que lhe parecera apenas uma pequena nuvem de poeira revelava-se agora: tanques. Americanos, modelo M1 Abrams. Vinham quase direto para sua posição, próxima da de um esconderijo de insurgentes afegãos, acompanhados de outros menores, Bradley, que conduziam certamente a infantaria. Ninguém sequer desconfiava da presença dos alemães ali, muito menos que a posição dos insurgentes fora revelada anonimamente por eles aos serviços de inteligência da coalizão que invadia o país, dando detalhes algo exagerados da força existente, incluindo fictícios canhões automáticos de 23 mm, mísseis antiaéreos Igla e lança-rojões RPG-29. Um caça F-15E com sofisticados sensores fora mandado investigar a região e os afegãos o haviam visto simplesmente fazer uma curva fechada, pegar fogo e cair, tendo explodido segundos após os dois tripulantes ejetarem, sem que um único disparo tivesse sido efetuado. Após muitos gritos de "Allah Uh Akhbar", desceram crentes que haviam testemunhado uma teofania e capturaram os aviadores, levando-os vendados para uma de suas cavernas, onde estava seu líder, que ficou algo horrorizado com as terríveis queimaduras que cobriam ambos os infiéis dos pés à cabeça, os quais gritavam sem parar. De pura pena, os matou na hora com sua Makarov 9 mm. Nem mesmo cães covardes como aqueles mereciam tanto sofrimento. Isso - a misteriosa queda do caça - confirmara os informes da inteligência e ditara o envio da força superequipada. O SS Lang podia ver agora também helicópteros de ataque e transporte acompanhando a força atacante. Sorriu quase tristemente. Coitados, mal sabiam que tipo de inferno estava para se desencadear sobre eles...
Ordenou que as vestimentas árabes fossem removidas. Seus uniformes inteiramente negros, mas parecendo serem compostos por minúsculas escamas e cobertos de estranhos equipamentos, e suas estranhas armas, finalmente apareceram. Todos portavam armas curtas, compostas por uma espécie de tubo de uns cinco centímetros de diâmetro por uns cinqüenta de comprimento, com uma armação de seção retangular por baixo, com seção de uns quatro centímetros de largura por seis de altura e uma extensão para ser fixada ao ombro. Finalmente, uma empunhadura e regulagens ao nível do polegar, ambidestras. A alavanca mais próxima tinha apenas três inscrições: 'L' de Licht (NDA: leve) abaixo, ao centro um 'X' e acima 'S' de Schwer (NDA: pesado). Todas as alavancas estavam em 'X', que inabilitava o disparo, conforme o regulamento. Havia uma quinta arma, que parecia ser uma versão maior das anteriores, com um tubo de uns nove centímetros de diâmetro por quase um metro de comprimento, tendo dois ressaltos de seção retangular nas laterais e um, maior, abaixo. Atrás, uma estrutura em forma de cubo com uns doze centímetros de lado, da qual se projetava uma empunhadura dupla, semelhante à de uma metralhadora .50 Browning só que muito mais ergonômica. Esta última arma pesava uns quatro quilos (as demais menos de metade disso) e tinha um bipé extensível/retrátil. Nada se podia ver dos homens, eram inteiramente cobertos, da cabeça aos pés, por suas vestes de combate. O Comandante deu nova ordem. Um instante depois, os SS e suas armas se fundiam completamente à paisagem...
O Abrams que seguia à frente se deteve a cerca de meio quilômetro da base das montanhas, seus sofisticados sensores varrendo as encostas. O termal acusava vários possíveis alvos, silhuetas humanóides que positivamente empunhavam armas. O que intrigava o Comandante do carro é que não se via sinal de nada mais poderoso que meros lançadores RPG-7, muito diferentes dos da série 29. Nada de canhões 23 também, muito menos Iglas. Por data-link, os dados passavam ao carro de comando que, vendo que a posição do tanque precursor era segura, determinou o avanço do restante da força até lá, compondo um perímetro defensivo que serviria de plataforma a um ataque fulminante. Três helicópteros Apache Longbow passaram velozmente, já metralhando os alvos com seus canhões de 30 mm.
Então, o inusitado: os três helicópteros prosseguiram reto em alta velocidade, todas as comunicações interrompidas, armas agora silenciosas, e bateram violentamente contra a montanha que atacavam, explodindo. Nem sinal de sobreviventes...
Atônito, o Coronel Bender, líder da expedição, olhava pela escotilha de seu Abrams, que estava a menos de cem metros atrás do precursor. O data-link fundia todos os sensores de todos os veículos, terrestres e aéreos, acrescidos dos meios de reconhecimento. Nenhuma arma maior que uma metralhadora leve fora detectada como sendo disparada pelos insurgentes. O que havia acontecido aos Apaches?
Mesmo perfeitamente camuflado, praticamente invisível (não aos seus homens), o SS Hauptsturmführer Lang focou a arma maior rumo à frente da torre do Abrams precursor. Seu polegar esquerdo acionou a alavanca para baixo, deixando em 'L'. Depois, com o direito, pressionou com suavidade um botão sobre a empunhadura do mesmo lado.
Poucas dezenas de metros ao lado do Abrams precursor, num Bradley, o correspondente da CNN, Jason Rodriguez, havia notado que o tanque movia seu canhão: ia atirar. Sabendo, como repórter veterano em guerras, que àquela distância o sopro do disparo da peça não lhe representava perigo algum, ergueu-se da torre e focou a câmera no carro, para registrar o dramático instante do disparo. Da outra escotilha aberta, seu companheiro Hernán Torrez filmava a montanha, para registrar o violento impacto da granada antipessoal. Depois fariam uma montagem das duas cenas em seqüência, o que faria o pessoal em casa vibrar. Então, algo inusitado aconteceu: o tanque simplesmente pareceu inchar...
A rápida descarga da arma em modo 'Licht' simplesmente atravessara sem sequer aquecer a grossa chapa frontal da torre do Abrams para, lá dentro, transformá-lo praticamente num enorme e potentíssimo forno de microondas: durante menos de um segundo a temperatura interna do carro, mantida a pouco mais de vinte graus pelo ar condicionado, subiu a muitos milhares, reduzindo de um instante para o outro os tripulantes a meros restos carbonizados. Praticamente ao mesmo tempo, dezenas de granadas de 120 mm, milhares de cartuchos de metralhadora e os tanques de combustível explodiram.
Rodriguez não entendeu nada: num instante a torre de dezenas de toneladas do Abrams saltou como uma rolha de champanha, no instante seguinte o ar estava cheio de fogo, estilhaços e fragmentos. No próximo, Rodriguez e seu parceiro estavam mortos.
Mas a hecatombe apenas começara, um dos outros SS moveu sua arma do modelo menor, também em 'L' em direção a um Chinook e pressionou o gatilho. Com todos os circuitos queimados, sem motores funcionando - além de horríveis queimaduras em todos os tripulantes - a enorme aeronave caiu estrondosamente. Uns mil metros adiante, outro Abrams voava pelos ares, quase ao mesmo tempo em que dois outros Bradleys. Atônitos, os Infantes desmontaram rapidamente, sabendo que seria suicídio ficar dentro das viaturas, e correram em direção às encostas das montanhas, em busca de alguma cobertura, passando a ser alvo dos afegãos. Ferocíssimo combate de infantaria se iniciou então. Tanques continuavam a explodir e helicópteros a cair. Espantado por sua sorte até então, o Coronel Bender ordenou retirada imediata e o mais rapidamente possível. Os carros então pivotaram, mantendo os canhões voltados para as montanhas e atirando sem parar, enquanto a frente dos veículos se voltava para o outro lado e estes aceleravam à velocidade máxima, buscando uma posição segura.
Calmamente, o comandante SS esperava os Abrams restantes chegarem a uns dez quilômetros. Seu polegar empurrou a alavanca bem para cima, para 'S'.
O Tenente Crubens, que estava com a tropa desmontada à beira da maldita montanha, recolhera a metralhadora M-240E1 de um soldado morto e a operava agora. Viu algo como que um vulto fugaz num ponto a uns cem metros de onde estava, bem à esquerda do combate principal. Sem pensar, apontou e abriu fogo, uma rajada curta e certeira.
O SS-Scharführer Friedmann recebeu um impacto direto na testa, caindo para trás. O projétil 7,62 mm perfurante de blindagem não logrou atravessar seu capacete e o sistema de proteção dorsal do uniforme de combate segurou e amorteceu tão suavemente quanto possível o violento movimento para trás que lhe teria partido o pescoço como um graveto. Os sistemas de monitoramento de sinais vitais diagnosticaram no mesmo instante seu estado e injetaram adrenalina e endorfina imediatamente em sua corrente sangüínea, além de alguns segundos de oxigênio puro em sua máscara respiratória, o que não apenas o impediu de perder os sentidos mas o deixou levemente eufórico...e sedento de sangue. Ergueu-se totalmente, mudou para 'S' sua arma e a apontou e disparou sobre o infeliz Tenente americano, que tentava mudar de posição para novo disparo, agora podendo ver um pouco melhor o inimigo. Incrível aquela camuflagem, o cara era quase invisível entre as rochas. Então, seu colete balístico, roupas, equipamentos e grande parte do tórax se tornaram um imenso buraco cauterizado e fumegante.
- Schwein (NDA: porco)! - gritou o SS Friedmann, sendo imediatamente censurado por seu superior por se ter deixado visualizar, abaixando-se novamente, resmungando. O Comandante cessou a descompostura ao notar que os carros em retirada chegavam à distância que ele queria, cerca de dez quilômetros. Então, concentrou-se na torre de outro Abrams e premiu suavemente o gatilho. Desta vez a grossa chapa de materiais compostos, de resistência equivalente a mais de um metro de aço maciço, foi derretida como manteiga por um maçarico, jorrando como lava vulcânica para dentro do veículo. Outra baixa, sem sobreviventes, além da violenta explosão que danificou outros veículos e causou mais feridos.
- Bem, os testes foram todos bem sucedidos, senhores. Vamos embora e eles que se matem. - ordenou o SS Hauptsturmführer Lang. Havia ainda muita energia nas baterias, podendo desta forma ser mantido o padrão de camuflagem sem riscos. Havia mais do que o suficiente para andarem com suas confortáveis botas multiamortecidas até o ponto de exfiltração, a uns trinta quilômetros dali, onde seriam recolhidos por um helicóptero com as marcas da Cruz Vermelha Internacional. O Comandante tinha pressa, sabia que não podiam se arriscar a um encontro com um inimigo de capacidade mais consistente, tinham poucos tiros antes de ficarem completamente sem energia, mas decidira arriscar assim mesmo. Os homens também estavam ansiosos para voltar e ele para apresentar logo seu relatório. Podia ser que alguém do Ober Kommando ficasse tão feliz com os excelentes resultados das armas e suas recomendações que lhe permitissem alguns momentos com ela, talvez até um jantar a sós...
Escritório central da Jungle Watch no Brasil. Sala do líder da ONG, Herr Friedrich. Presentes os mesmos que se haviam reunido com o Presidente do Brasil. Fala Herr Friedrich, em alemão:
- Cavalheiros - e senhorita - diria que agora os brasileiros nunca mais vão incomodar...
- SS Oberstgruppenführer Friedrich, não seria mais aconselhável fazer uma pequena...pausa nos repasses de verbas para os projetos de desenvolvimento das áreas que interessam a eles, bem distantes de Germania? Seria um pequeno e saudável acréscimo de pressão... - sugere um dos interlocutores.
- Como você é formal, Berg. Que há de errado em me chamar apenas pelo nome? Somos praticamente civis aqui... - Bem, respondendo à sua pergunta, digo-lhe que não é da nossa conveniência desviar os olhos dos brasileiros por um instante sequer das áreas em desenvolvimento. Temos de fazer com que concentrem todas as suas atenções e energias lá, nos deixando agir em paz no nosso canto.
- Sim senhor, mas a segurança de Germania... - insistiu.
- Neste momento Germania está em condições excepcionais de prover sua própria segurança...e a nossa, acrescento. Ademais, devo lembrá-lo novamente de que Germania é um meio, não um fim. Ela não é a Fênix, é apenas o seu ninho. Ademais, o caso com os brasileiros está mais do que resolvido, deixemo-los em paz com suas eleições fajutas, seus sambas e jogos de futebol. Temos assuntos mais importantes a tratar. Untersturmführer Eisenkopf, minha encantadora jovem, está ciente de sua missão?
- Jawohl, SS Oberstgruppenführer! - a belíssima jovem se ergue e fica em rígida posição de sentido, o belo narizinho reto apontado levemente para o alto. Notara que a informalidade dedicada a Berg (SS Gruppenführer, ou seja, Oficial-General como o próprio Friedrich, ainda que seu subordinado) não se estendia a ela, uma simples Oficial Subalterna, com posto equivalente a Segundo-Tenente, se fosse de algum Exército.
"Como eu gostaria de ser uns trinta anos mais jovem" - pensa Herr Friedrich, com alguma tristeza, que só aumenta ao lembrar que de nada adiantaria: ela já tinha uma destinação e não era nem nunca seria dele, sequer por uma noite...
- Bem - prossegue - a senhorita deverá embarcar ainda hoje para Germania, onde será apresentada à pessoa que representa a sua maior contribuição à Causa. Como já lhe expliquei, uma inacreditável e muito auspiciosa coincidência nos fez alterar nossos planos, algo tão fantástico que chega mesmo a me fazer crer de coração no velho chavão 'Gott Mitt Uns' (NDA - 'Deus Está Conosco', dístico nazista). - riu gostosamente. A jovem ficou algo chocada com a irreverência do superior mas nada comentou, não lhe cabia. Friedrich parou de rir e concluiu:
- Tem minha permissão para se retirar. Vá a seus aposentos, recolha seus pertences e se apresente ao SS-Sturmbannführer Krüger às duas horas, ele providenciará tudo. Tenha sempre em mente que uma parte crucial de nosso futuro repousa em suas mãos, não nos desaponte. Ah, acrescento que uma grande honra adicional lhe foi destinada: viajará com o Reichsführer em pessoa. Heil Hitler!
- Sieg Heil! - ela ergueu bem alto o braço. Girou nos calcanhares e saiu da sala.
Só em seus aposentos, Arianne olhou a maleta de viagem, já pronta, e o laptop. Tinha tão poucas coisas, praticamente nada que fosse pessoal. Não que lhe fizesse muita falta, nascida, criada e educada que fora em Germania, à maneira espartana de lá. Mas algo a confrangia, por alguma razão se sentia triste, quase a ponto de chorar. “Não nos desaponte.” E quanto a ela? Lembrava do garboso Hauptsturmführer Lang, em uniforme de gala, a quem fora apresentada um ano e meio antes e informada que deveria se preparar para ser sua esposa, eis que tinham qualidades excepcionais e eram geneticamente muito compatíveis. Teriam filhos que seriam criados e educados para se tornarem, no futuro, os integrantes da mais alta hierarquia nazista, quando a Fênix já tivesse renascido das cinzas da Grande Derrocada. Conhecia a forma como se processavam os relacionamentos em Germania, as pessoas não se escolhiam, eram escolhidas por suas fichas biomédicas e intelectuais. Mas simpatizara com o Oficial alto e sério, impressionara-se com sua ficha de serviços, seus movimentos rígidos, seus modos estudados e metódicos, seu cavalheirismo inato. Seria uma honra ser esposa de homem tão qualificado. E era muito bonito, a pele alva, as covinhas que se formavam num de seus raros sorrisos, o modo como a olhava, embevecido com sua beleza e tentando encantadoramente dissimular seu óbvio interesse nela. Sim, teria sido um marido tão desejável, um pai tão cuidadoso quanto disciplinador para os filhos que agora jamais teriam. E então aparecia essa...coisa, esse estrangeiro, e resolviam entregá-la a ele. Não sentiu as lágrimas que lhe desciam pela face. Lera a ficha do estranho no laptop, apareciam qualidades impressionantes e sem dúvida muito superiores às de Lang, como o QI, quatro pontos maior que o de Einstein (o dela era de 157 e o de Lang 135); a espantosa resistência física e psicológica; os sentidos e instintos aguçadíssimos, quase animais e, principalmente, a fantástica dominância genética, comparável e talvez até superior à dela. Odiara a piada "faço questão de assistir pessoalmente à maior batalha de dominância genética de todos os tempos, quando pela primeira vez um espermatozóide dele penetrar um óvulo seu" feita pelo Reichsführer em pessoa, poucas semanas antes, na Alemanha. Sentia uma repulsa instintiva pelo líder máximo que não sabia explicar nem mesmo concordar mas era acima de tudo um Soldado e cumpriria suas ordens sem resistir ou sequer questionar: se era para ser ele, aquele untermensch (NDA: sub-homem, ser inferior a humano) brasileiro, então seria. E empregaria tudo o que aprendera com entusiasmo na Escola Especial de Moças (pensando que usaria em e com Lang), numa discreta fazenda na Floresta Negra, onde homens especialmente selecionados ensinavam todos os truques de sedução que realmente funcionavam, depois as faziam conhecer todos os pontos sensíveis em seus próprios corpos e como usá-los, ensinando-as a terem prazer com qualquer homem, por mais inepto que fosse. Finalmente, passavam à parte de proporcionar prazer a um homem, todos os modos conhecidos de levá-lo ao mais profundo êxtase sexual. Os métodos e instrutores eram impressionantes, muito técnicos e profissionais, todas as moças escolhidas saíam de lá tão virgens quanto haviam entrado mas com conhecimentos que matariam de inveja à própria Cleópatra. Ela, Arianne, como em todos os outros cursos que fizera, brilhara. E isso tudo, que estava reservado para seu querido Lang, agora ia para um maldito estrangeiro, pouco mais que um macaco com aparência alemã. Olhou novamente uma das fotos dele no laptop, certamente feita sem seu conhecimento. Ele olhava ligeiramente para o lado, com um sorriso tão falso e sem valor quanto uma moeda de meio centavo...
O mesmo sorriso falso bailava nos lábios do Coronel Wolfgang, enquanto Steiner lhe explicava as maravilhas tecnológicas que haviam obtido naquele isolamento e as razões disso. Estavam em um outro escritório, bem maior e mais luxuoso. Aguardavam a chegada do Reichsführer.
- Meu caro amigo, aqui nunca tivemos necessidades como as suas, em seu mundo capitalista: as empresas concorrem entre si para desenvolver e lançar um produto, seus laboratórios trabalham incessantemente para aperfeiçoá-lo mas isto é feito em doses homeopáticas, de olho no mercado: quando um concorrente lança um produto similar que começa a ameaçar as vendas do produto original então sim, emergem dos laboratórios, onde estão mofando há tempos, os aperfeiçoamentos, que aparecem ao público como grandes novidades, mesmo sendo velhos conhecidos da empresa. Outros são ultrapassados pela concorrência e simplesmente deixados de lado. É a lógica capitalista e não temos isso aqui.
- E o que os diferencia então dos comunistas? Eles eram assim também...
- Não, não eram. Os departamentos de pesquisa competiam entre si por prêmios e honrarias, aqui todos colaboram, eis que o banco de dados é o mesmo para todos e compartilhado, independente do consentimento de quem introduziu os dados no sistema. Não há senhas em pesquisas, tudo é de todos. Lá uns escondiam dos outros o que sabiam. Ademais, ao contrário de lugares como a falecida URSS, aqui as pessoas ACREDITAM no regime, trabalham em prol daquilo que aprendem desde os primeiros bancos escolares: que um dia iremos emergir e retomar o que é nosso, e que para isso é preciso que cada um dê o máximo de si no que é melhor, seja plantando algum alimento, seja desenvolvendo uma nova teoria da física. Aliás, sobre o banco de dados compartilhado e a cooperação, devo dizer-lhe que é a chave do nosso progresso, tão além do seu. Vou explicar em termos que um soldado pode entender melhor: enquanto vocês ainda usam obsoletas armas que produzem seu efeito através da explosão de um propelente que impele um projétil através de um tubo, raiado ou não, nós abandonamos isso justamente por causa de nossas pesquisas em nanotecnologia e outros ramos da ciência, como o das ondas eletromagnéticas. Os resultados de várias pesquisas foram se juntando e um se destacou particularmente no setor bélico: o das microondas. As estudamos com a meticulosidade, o afinco e a eficiência peculiares à mente germânica e descobrimos coisas que vocês ainda mal imaginam: que podemos moldá-las como se fosse massa de modelar. Como disse, muitos setores cooperam entre si e nosso avanço em física atômica nos permitiu uma maior compreensão sobre a composição do átomo. A propósito, qual a capacidade de seu mais potente microscópio eletrônico?
- Para ser franco...
- Eu lhe digo: é um modelo americano de 1,5 Gigawatt de energia que projeta nêutrons sobre aquilo que se deseja analisar. De modo grosseiro, seria como 'ver' algo com um radar de abertura sintética, se tem uma imagem dos contornos e forma aproximada de um objeto. Se forem vários objetos, como os componentes de um átomo, se pode medi-los, avaliá-los e mesmo segui-los em seu movimento. Mas não se pode realmente VÊ-LOS. Bem, enveredamos por outro caminho. Sempre fomos grandes produtores de lentes de precisão e vários especialistas, com o fim da guerra, vieram para cá, aos poucos, e continuaram, à medida que progredíamos materialmente, com seus estudos. Novos materiais eram analisados e descartados (para aquela função, é bom que seja dito) ou aperfeiçoados. Então, do estudo detalhado de uma resina relativamente comum em árvores que podem ser encontradas a menos de cem quilômetros daqui se encontrou um componente que vitrificava de maneira inacreditável, sem a menor rugosidade ou aspereza e era muito maleável, podendo ser moldado de diversas formas sem perder suas características. Ali pelos anos 80, numa das muitas cavernas enormes existentes nas redondezas, montamos o nosso primeiro - o primeiro da humanidade - verdadeiro supercomputador. Tinha, à época, capacidade ligeiramente inferior à de seu atual modelo da Sun/Texas, capaz de processar cerca de meio quatrilhão de instruções de ponto flutuante por segundo. Isso nos bastava, à época, para sintetizar e desenvolver a melhor composição, forma e combinação das novas lentes com feixes estritamente precisos de laser em comprimento de onda cuidadosamente escolhido, além de um simultâneo e cuidadoso bombardeio de nêutrons num objeto visado. O que resultou disso, em termos práticos? Ora, a combinação perfeita dos princípios do microscópio eletrônico com os do ótico. Agora podíamos simultaneamente VER e SENTIR, por exemplo, uma molécula ou átomo. E nos permitiu dar um salto enorme em algo que até então vocês sequer tinham uma palavra que definisse: a nanotecnologia.
Começamos então a modificar moléculas e mesmo átomos e estudar atentamente vírus e outros artefatos biológicos. Em poucos anos, doenças como o câncer eram apenas meras palavras aqui, sem significado prático. Pela metade da citada década, o genoma humano poucos segredos tinha para nós. Estudamos primeiro o nosso, claro, buscando as verdadeiras características do biótipo ariano. A seguir, as que seriam desejáveis ao ariano perfeito. Logo concluímos que muitos dos nossos jamais as alcançariam. Houve um dilema: o que fazer com eles? Eram ainda altamente produtivos, fiéis e entusiastas do nazismo e muitos eram possuidores de algumas das melhores e mais profícuas mentes aqui existentes, outros de corpos perfeitos em proporções, força, rapidez e resistência. Então, a bem da Fênix, que nunca nos saiu da mente, foi decidido que apenas os que se enquadrassem nos parâmetros mínimos seriam aceitos como membros plenos no Partido. As categorias iam de um a dez. Abaixo de sete, são membros comuns, acima disso são votantes e, de nove em diante, elegíveis. Eu, pessoalmente, sou nove vírgula trinta e três, o nosso Reichsführer é nove vírgula quarenta e oito. - fez uma pausa. - o senhor é o SEGUNDO dez que descobrimos, desde que começamos a fazer este tipo de análise...
O Bombardeiro STEALTH Northrop-Grumman B-2 Spirit, a mais cara aeronave de combate já construída, voava discreta e lentamente a poucos metros das copas das árvores amazônicas. Noite fechada, sem lua nem estrelas. Escapara facilmente aos radares do SIVAM e mesmo a um E-99A que patrulhava a uns duzentos quilômetros. Não conduzia armas de qualquer espécie, apenas sensores optrônicos, tipo IR, UV e também um potente SAR apontados para baixo, além de câmeras para luminosidade baixa ou mesmo próxima a zero. Não sabiam detalhe algum de sua missão, apenas deveriam voar furtivamente até determinadas coordenadas, que deveriam ser sobrevoadas de várias direções e altitudes. Após, deveriam retornar rumo ao Mar do Caribe, onde os esperaria um avião-cisterna que lhes faria o REVO e então deveriam prosseguir até sua base, hangarar a aeronave e ir para a sala de debriefing. As caixas-pretas seriam recolhidas por especialistas mas não sabiam quais nem para que fim. Na verdade, seriam homens do Fort Meade, em Maryland, sede da NSA.
No horário preciso, Arianne se apresentou ao SS-Sturmbannführer Krüger, no heliponto do topo do alto prédio, para ser conduzida ao seu destino. Lá embarcou com sua pouca bagagem no pequeno helicóptero Esquilo que a levou rápida e seguramente ao Aeroporto Juscelino Kubitschek. Um automóvel a conduziu sozinha com o motorista ao hangar, onde o luxuoso e grande jato Lineage 1000 – o único da grande frota de aeronaves (todas de fabricação brasileira, como demonstração de apreço pelo progresso do país) da Dschungel Wachen, claro que o usariam, afinal, era um voo do SS Reichsführer – aguardava, imponente. Uma simpática e solícita comissária de bordo a esperava, encaminhando-a à sua poltrona e informando que estava à sua exclusiva disposição para o que fosse necessário. Não, o SS Reichsführer ainda não havia chegado. Seriam apenas os dois os passageiros até Manaus. O interior da aeronave era requintadíssimo, todo forrado em madeiras nobres, dois amplos e confortáveis sofás, poltronas reclináveis e giratórias, uma mesa de reuniões para seis pessoas, terminal de computador, uma sala de refeições, lavatórios – um deles com chuveiro – e até uma cama de casal, na popa. Alto luxo...
Após cerca de meia hora de espera e uns goles de Dom Pérignon Vintage 1998, pela azáfama a bordo, percebeu que o principal passageiro havia chegado. Logo após subir a bordo já havia trocado sua roupa executiva pelo seu bem talhado uniforme SS e, à passagem do Comandante da aeronave, ergueu-se automaticamente, permanecendo em posição de sentido. Então Ele entrou, distribuindo sorrisos e apertos de mão pelos enlevados tripulantes. Se deteve diante dela:
- Então, minha bela jovem, temos mais de duas horas até Manaus para colocarmos as fofocas em dia, hein? – piscou um olho, sorridente. Ela se esforçava mas não conseguia simpatizar com o homem, era simplesmente repulsivo em seus trejeitos algo afetados, seu porte atarracado, braços e pernas muito grossos, ligeiramente mais baixo que ela, seu cavanhaque ruivo e cabelos idem cuidadosamente aparados, a barriga algo saliente, mas o que mais detestava eram aqueles olhos azuis claríssimos, pareciam aguados, e que a encaravam como um réptil em forma humana. Até o macaco brasileiro a que a haviam destinado seria atraente perto daquele monstro em forma de homem. Mas era O Líder e ela, uma mera subalterna. Sorriu sem a menor vontade:
- Estou às suas ordens, Herr Reichsführer! – “Será um longo voo” – pensou.
Reunião clandestina, supostamente um simples churrasco de confraternização na casa do Major Freitas, que assumira provisoriamente o comando dos RATOS após o desaparecimento do Coronel Wolfgang.
- Caras, essa eu não engulo. Então o ‘ratão’ vai lá com o nosso pessoal, some todo mundo como que por mágica, fazem uma que outra busca e, passada uma semana, fica por isso mesmo? Assim não dá, e se fosse a gente? O ‘ratão’ ia deixar de graça? Eu digo, isso é que não! – esbraveja o Sargento-Especialista Renan, uma long neck na mão. Seu apelido no grupo era ‘pajé’ por ser paramédico. O Major Freitas assiste e ouve atentamente, enquanto assa o churrasco. O tratamento entre eles, fora dos treinamentos e operações, era rigorosamente informal, prática introduzida pelo desaparecido Comandante, visando estimular uma maior interação entre os homens, uma camaradagem mais forte, um motivo extra para lutarem uns pelos outros. Mas tinha um corolário, o chamado ‘zelo de amargura’, que fazia com que todos sentissem com muito maior intensidade a perda de um companheiro. O novo Cmt. acrescenta, da churrasqueira:
- E foi ordem do Ministro em pessoa, me disse o Brigadeiro. Tem um monte de estrelado puto da cara com aquele portuga, acho que desta vez a dele torra...
- Mas peraí, ‘judeu’ (era o apelido do Major Freitas no grupo, por suas feições que estampavam o estereótipo semítico, sendo elas na verdade o resultado puramente acidental de tantas misturas de sangue quanto qualquer outro da maioria dos brasileiros), dizem que o comedor de bacalhau é unha e carne com o Presidente, brabo de...
- Bem, ‘pajé’, ou isso ou vai passar o resto do mandato se incomodando com as Forças Armadas, vazou que parece que quem mandou parar tudo foram uns alemães de uma ONG que...
- Tinha que ter ONG no meio, sempre roubando, sempre tentando nos tomar a Amazônia e sempre mandando nos nossos politiqueiros, e dizer que eu votei nesse fiadaputa aí, não dá nada, tem eleição no ano que vem, ele vai ver só, vou...
O ‘pajé’ interrompeu o que dizia à chegada de um automóvel azul, parando diante da garagem. Veículo oficial da FAB, privativo do Cmt. da II FAE. O Major Freitas, de onde estava e sem manifestar qualquer surpresa, acionou o controle remoto do portão que abriu imediatamente, dando passagem ao veículo, que estacionou a poucos metros deles. Abriu-se a porta do motorista e desceu um homem alto, cabelos castanhos curtos, ligeiramente grisalhos, óculos escuros, em roupas civis. Foi até a porta traseira e a abriu. Desce, completamente fardado, o Brigadeiro em pessoa.
- E aí, pessoal, então é aqui que se escondem? Seus...ratos... – sorriu.
A frieza dos soldados profissionais, com exceção do Major, que o cumprimentou efusivamente, mostrou bem ao Oficial-General o clima da reunião. Os onze homens não entendiam o que estava acontecendo, seria uma espécie de conchavo entre o ‘judeu’ e o Brigadeiro, um ‘cala-boca’ festivo neles todos? E aquele paisano, que diabos estava fazendo ali? Tinha pinta de ser da Inteligência, que fim levara o Sargento Cunha, motorista oficial do Cmt? O Major entendia o que os homens sentiam e passou às explicações:
- Pessoal, de uma coisa a gente tem de se convencer de uma vez por todas, as buscas oficiais acabaram, para o governo civil o nosso pessoal já era. Entendam isso. Mortos, é como são vistos pelos lá de cima. Mortos não-contabilizados, o serão aos poucos, um suposto acidente aqui, outro ali, alguma doença e as fichas irão sendo atualizadas até todos desaparecerem de vez. Ou por que vocês acham que um dos critérios para ser um de nós é não ter ninguém no mundo? Fácil, missões como as nossas têm tudo para dar merda e o governo não quer ter de dar explicação a ninguém nem ficar levando processo de parente indignado, como os daquele Tenente das Forças Especiais que também sumiu por lá...
- Tá, ‘judeu’, mas a gente aqui, só se lamuriando e tomando cerveja, bem que...- começou o Tenente Rodrigo ‘Perdigueiro’ – tinha um olfato extraordinário. Foi interrompido pelo Brigadeiro em pessoa:
- Tenente, seu Grupo era composto pelos 25 melhores homens que a FAB podia dispor e costumava agir em missões assim, tão complexas, com o mínimo de treze. Hoje vocês são apenas doze, nem o mínimo vocês têm. Em sua opinião, iriam fazer o quê, precisamente?
- Que diabos, senhor, a gente se vira com doze mesmo! – exclamou o ‘pajé’, já meio encervejado.
- Sim, e vão até lá de carro, né? Compreendam de uma vez, vocês não têm apoio governamental, não têm como tirar armas e equipamentos do quartel sem ordens escritas e assinadas, sua unidade corre inclusive o risco de ser extinta se sequer souberem de sua existência e propósito, e garanto que a Inteligência está fuçando por todo o EAS, perguntando de vocês, o que faziam, onde iam, detalhes de suas missões, coisas assim, há um IPM em andamento em sua honra, estou retardando o que dá, esta a razão de eu lhes ter dado licença a todos com a desculpa da queda da moral pela perda de mais de metade do Pelotão...
Todos olharam para o homem à paisana, que não se movera do lado do carro nem tirara os óculos de sol. O Brigadeiro notou:
- Não se preocupem, não é da Inteligência. Eu não seria louco de dar uma bobeira dessas, lhes asseguro. Na verdade, ele faz parte de uma pequena idéia que emergiu de uma conversa entre o nosso Major Freitas aqui e eu. É militar também e um grande amigo do nosso desaparecido Coronel Wolfgang, estando tão incomodado com essa história toda quanto qualquer um de nós. – fez sinal ao homem à paisana:
- Pode vir, homem, não seja tão tímido, venha conhecer o pessoal...
O homem caminhou até eles e nele reconheceram imediatamente o andar elástico do Coronel. Certamente eles haviam treinado juntos alguma vez, até andavam parecido. O homem tirou os óculos escuros e se apresentou, falando um português impecável, quase professoral:
- É um grande prazer conhecê-los, senhores. Coronel Bolovo, a seu dispor. – e sorriu. Não o sorriso cálido e amigo do Coronel Wolfgang, nisso eram bem diferentes, era como um grande felino exibindo os dentes antes do ataque. Os olhos castanho-esverdeados eram puro gelo. Apertou forte a mão de cada um deles.
O Brigadeiro tornou a falar:
- Agora são treze outra vez...
- Mas peraí, senhor... – começou o ‘perdigueiro’.
- Silêncio! – o Major usou sua melhor voz de comando. Imediatamente todos compreenderam que, de informal, a ocasião se tornava oficial. Ergueram-se os que estavam sentados, os que estavam em pé ficaram em rígida posição de sentido. Garrafas de cerveja e copos caíram pelo chão. O Major, dirigindo-se ao recém-chegado, perfilou-se por sua vez e falou, alto e bom som:
- Coronel Bolovo, seguindo sugestão do Comandante da Segunda Força Aérea com a qual concordo de todo o coração, passo-lhe temporariamente o comando do Grupo RATO! Serei seu fiel subordinado e empenho minha palavra sob juramento por cada homem desta unidade, o seguiremos sem jamais questionar suas ordens. Até o inferno! Os homens ficaram petrificados, pois era o lema e juramento da unidade: “Tenus Abyssus, Até o Inferno!”. Bateram continência ao estranho homem e repetiram o grito de guerra: ATÉ O INFERNO!
O Coronel Bolovo não mais sorria. Havia um trabalho complexo e perigosíssimo a ser feito e ele agora respondia por seus atos a duas nações poderosas...
O SS Hauptsturmführer Lang fora o último a embarcar no helicóptero EC-725 pintado de branco e com as cores da Cruz Vermelha e do Crescente Verde, para evitar de ser atacado por ambos os contendores. As matrículas eram naturalmente falsas, a aeronave pertencia mesmo era à Dschungel Wachen, embora qualquer observador jurasse que era uma aeronave destinada a missões de misericórdia. Mesmo assim podia ver os sistemas MAWS e lançadores de flares de onde estava. A região era perigosa demais para alguém se fiar na proteção de meros símbolos. Agora seria um vôo relativamente rápido até Peshavar, no Paquistão, onde o jato Gulfstream IV fretado já os esperava para conduzi-los nonstop em poucas horas e com total segurança ao Egito, para uma rápida escala técnica e dali para a Alemanha, onde ele apresentaria seu relatório e recomendações, fazendo a seguir o seu pedido: voltar nem que fosse por um dia a Germania para poder vê-la, nem que por poucas horas...
Em seu gabinete, o General Kratos pensava em seu mais recente amigo:
“Quem diria que um merdinha daqueles teria colhões para fazer o que disse a nós que vai fazer...” Mas sentia-se grato ao Brigadeiro. Este fora mesmo à sua casa e vira o clima terrível. As duas mulheres eram mesmo infernais. Então, com seu habitual tato e gentileza, as foi convencendo pouco a pouco de que o único modo de fazer com que o governo se mexesse seria arranjando alguns advogados competentes e doidos para aparecerem na mídia. A simpática esposa do Brigadeiro ajudara, as pendências estavam resolvidas e a paz restaurada. “Por enquanto, ao menos...” – suspirou o General, bebendo outro gole de uísque.