Vampiros em Nothound - parte I

Era agosto, e daí? Todo mundo da minha família e da minha casa ficava me perturbando dizendo que agosto era o mês que se demonstravam de todas as formas possíveis de mal. Diziam ainda que eu não devia andar sozinha nem de dia e nem de noite. Bobagens.

Quando comecei a ir mau na escola por causa do trabalho no período da tarde e da noite minha mãe conversou com o chefe e disse que gostaria se ele pudesse me liberar duas horas mais cedo até eu melhorar as minhas notas. A livraria não é lá essas coisas então quase nunca vinham clientes depois das nove da noite, o horário diz que fechamos às 11 pm mas sempre fechamos às 10 ou às 9 horas mesmo.

Naquela noite de 17 de agosto eu voltei para casa sozinha, caminhando. Não vou dizer que as histórias que me contam da nossa cidade não me assustam, mas faço o possível para nunca repetir o roteiro delas. Só caminho pelas ruas claras e movimentadas, nunca ando sozinha depois da meia noite.

Voltando a aquela data. Bem naquele dia o meu colega de trabalho que por graça divina mora perto de casa e sempre vai embora a pé comigo, não foi trabalhar e eu teria que voltar sozinha mesmo. Sem problemas até aí, ainda eram nove e meia da noite, sem falar que era sexta-feira, todo mundo ia sair de casa e procurar o que fazer, as ruas deviam estar movimentadas.

É, mas não estavam. Talvez tenha sido o frio repentino nesse mês que desanimou a população.

Fui caminhando sem pensar em nada que pudesse me assustar, nada que me deixasse com vontade de correr, visto que quando você corre tem a impressão que alguém está atrás de você.

Por fim me lembrei de um pedido que minha avó fez a minha mãe, as duas mudaram de assunto quando eu entrei na cozinha, mas ainda assim me lembro do que elas falavam. Segundo minha avó, os sedentos, estavam na cidade e em agosto era o mês de satisfazer os desejos guardados pelo ano todo. Se eu entendi alguma coisa? Com toda a certeza não.

Nos quarteirões próximos a minha casa não havia iluminação, então eu tentei me acalmar assim que a luz começava a ficar metros às minhas costas.

“O que eles estão fazendo aqui?”.

Já estava a três ou quatro quarteirões de casa quando notei que cinco meninos da minha escola estavam em pé numa rua escura em volta a uma lata de lixo que pegava fogo, os arruaceiros. Aqueles eram os piores exemplos de adolescentes que podem existir, bebem, fumam, usam todos os tipos de droga possíveis, infelizmente um desses adolescentes era o menino com quem eu já me envolvi várias e diversas vezes. Vamos devagar, eu me envolvi com ele antes que o jeito dele mudasse.

Escutei os gritos e risadas infames e vulgares se misturando a música alta.

_ Megan! Megan querida, venha se divertir conosco - era ele, como ele tinha me visto de tão longe? Ah sua idiota! Da mesma maneira que você viu ele. Enquanto eu pensava nisso e acelerava meu passo senti um toque conhecido na minha barriga me puxando para o mais próximo possível de um corpo frio e forte. Ele estava atrás de mim, isso era certo, mas... Como? - Vai fingir que não escutou quando eu te chamei? Hein? Ah não! É muita desfeita com quem te ama tanto não é?

Nem mesmo conseguia respirar, quanto menos responder a ele.

Contra a minha vontade fui arrastada por ele até os outros rapazes, para o meu azar todos soltavam a fumaça do cigarro vulgarmente pela boca ou nariz, fato esse que me fez estremecer de medo.

_ Pietro eu preciso ir embora, não estou com tempo para festinhas.

_ Acontece meu anjo doce, que se você não tem tempo nem animação para festinhas será pior para você, a gente vai aproveitar.

_ Do que você está falando? Eu quero ir embora agora Pietro - estava a ponto de fugir berrando, já que o medo me consumia viva e me queimava o esôfago.

Conhecia bem aquele lugar, e sabia para onde estava sendo levada, a casa que antes funcionara como centro de uma seita que cultuava a não sei o que, casa essa que estava abandonada.

Senti uma pancada forte nas costas quando me jogaram no chão da sala.

_ É sua Pietro, é a sua vez - não conseguia ver direito pela falta de luz.

Os calafrios vinham todos de uma vez e pareciam infinitos.

Fernanda Ferreira
Enviado por Fernanda Ferreira em 12/09/2009
Reeditado em 12/09/2009
Código do texto: T1806088
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