Duelo

Estava chovendo forte do lado de fora do casarão com ar de abandonado, e a chuva abafava os sons de uma violenta luta que acontecia na sala de estar daquele recinto que aparentava estar velho e prestes a ceder para os movimentos bruscos dos dois vultos que se degladiavam lá dentro. Não havia nenhuma fonte de luz, a não ser a pouca luz proveniente da Lua que passava pelo vidro da janela, o que tornava mais dificil o reconhecimento de quem estava ganhando, apesar de ser uma luta de forças praticamente iguais. Muitos móveis tombados no chão, alguns cacos de vidro espalhados.

A luta parecia não ter fim, nenhum dos lados dava o braço a torcer e a cada golpe recebido dava outro com mais força, mas sempre com algumas rápidas paradas onde ambos ficavam se encarando até voltarem a se matar. A chuva fazia muito barulho e agora começara a relampiar, clarões de luz que irrompiam das nuvens e desciam ao chão da Terra em uma imensa velocidade. E assim que um novo clarão saía das nuvens, do lado de dentro da casa, era possivel observar claramente o que acontecia por um rápido momento.

Um clarão! Ambos estavam se encarando e foi possivel notar que eram muito semelhantes um ao outro, porém, um deles, tinha uma enorme cicatriz que atravessava o seu olho direito, passava pelo nariz e terminava na bochecha esquerda, apesar disso, eram jovens fortes e bonitos. O clarão passou, a silhueta do jovem sem a cicatriz fazia um movimento com a mão, levando-a até a parte superior de suas pernas, então eles voltam nesse momento ao combate.

Outro clarão! Em uma avançada sagaz, o jovem com a cicatriz partia com tudo para cima do seu inimigo, por um momento é clara a expressão de ódio em seu rosto, como se ele fosse dilacerar o homem na sua frente com as mãos nuas e cuspir em sua carcaça. Porém, tudo muda no instante em que um pequeno brilho é refletido na mão do seu inimigo, seu rosto perderá a expressão ameaçadora de antes para assumir agora um sentimento de intenso medo e incorformidade. O clarão passa. As duas silhuetas uma junta com a outra, se não fosse a luta, poderiam dizer que estavam se abraçando.

Uma delas caí, está escuro e não dá para saber quem foi que caiu pelos movimentos de ambos. O que está de pé observa o corpo jogado no chão e então suspira olhando pra cima, como se agora divesse se libertado de um enorme peso em suas costas. Um novo clarão! O jovem com a cicatriz é o que está no chão, seu sangue tingia uma pequena lâminam ainda na mão do vencedor e começava agora a tingir também o chão de madeira velha. O clarão passa.

O vencedor respira bem fundo, desta vez olhando pela janela, ele vê a Lua por entre as nuvens densas que ainda descarregavam sua fúria em forma de muita água naquela pequena cidade. Ela estava grande e brilhava em um vermelho tão intenso quanto o sangue que escorria da lâmina. Era como se o mundo fizesse questão de que todos vissem aquela Lua e como ela estava vermelha, um sinal conhecido por poucos. Após alguns segundos vislumbrando aquela visão ele começa a limpar a lâmina e a guarda novamente. Se dirige para o vestibúlo do casarão e pega um guarda chuva. Abre a porta para sair, mas antes de o fazer ele se vira, com o olhar fixo no corpo sem vida no chão da sala de estar, abre a boca vagarosamente e palavras ásperas e frias saem de sua boca:

- Adeus... irmão.