Feridas da Guerra III
Henri chorava deitado na cama de solteiro, em seu quarto quando Christine bateu na porta:
-Querido, precisamos conversar.
-Não, não precisamos! – Grita a criança.
-Meu bem, me deixe entrar. Pierre e eu queremos falar com você.
-Eu não quero falar com vocês. Tudo o que você me disse, depois que papai se foi, era mentira! Você mentiu para mim por todo esse tempo!
-Sua mãe não sabia o que estava acontecendo, nada garantiria que o que ela dissesse fosse verdade, Henri. – Disse Pierre.
-Vá embora. Eu odeio você! – gritou o garoto, furioso.
-Henri, não fale assim com Pierre! Ele é seu padrasto e você tem que respeitá-lo! – Gritou Christine, perdendo a calma.
-Ele não é nada para mim! Não quero falar com ele!
Do outro lado da porta, Pierre não se conteve e chutou a porta do quarto de Henri, abrindo-a imediatamente.
-Garoto, eu não quero te fazer mal, porém, sua mãe pensou que ele estivesse morto e tinha que começar uma vida nova! Por que você não entende?
Henri levantou a cabeça do travesseiro. O pequeno rosto estava encharcado e as lágrimas ainda lhe escorriam, sua expressão era de raiva, ódio. Ele amava o pai e sua mãe o mandou embora e Pierre, que ele pensara ser uma boa pessoa, não fez nada para impedir e pior, tudo o que o pai dissera era verdade: Pierre não fez nada pela França.
-Não entendo como ela pode gostar de você, seu traidor! Você traiu a França! – disse o menino.
-Você não tem direito de falar dessa forma comigo, pirralho!
-Henri, peça desculpa a Pierre. – Disse Christine.
-Não vou pedir desculpas para esse traidor. – Pierre cerrou os pulsos, nervoso – Ele nem deve ser francês, aposto que nem gosta de você, mamãe, e duvido que ele seja francês, mesmo!
O som da mão de Pierre no rosto de Henri encheu o quarto. O garoto virou o rosto vermelho e Pierre voltou a mão para o lado do corpo. Christine, chocada, abraçou o filho.
-Saia daqui! Louis nunca bateu nele e não será você quem o fará! – Ela apertou Henri em seu peito.
-Isso é para que ele nunca se esqueça de que eu não irei tolerar suas más criações! – Pierre estava de fato nervoso e a cada palavra, apertava ainda mais as mãos. – Você e aquele soldado o mimaram, mas, chega! Esse moleque vai começar a trabalhar e vai ajudar nas tarefas domésticas!
-Veremos isso depois, Pierre. Você não irá lhe ordenar absolutamente, nada. Não é pai dele!
-Está se esquecendo tudo o que eu fiz por ele? Eu que lhe contava histórias para dormir, eu que lhe trazia comida quando estávamos na Rússia e eu que estou aqui, fazendo papel de pai ao invés de matar!
-Você não tem o direito de falar de Louis em minha frente, portanto, saia desse quarto. Conversamos depois! – Christine o fuzilou com os olhos.
Pierre se virou e saiu do quarto esmurrando as paredes.