Feridas da Guerra I
As folhas secas gritavam quando seus pés as amassavam sem piedade. Seus olhos estavam cheios de uma alegria reprimida, seu cabelo escuro estava bagunçado, uma leve barba preenchia suas bochechas pálidas e sua mente... Perdida em memórias sangrentas.
Passara quatro anos lutando pela França. Deixara a noiva e o filho de três anos, na época, em uma cidade de difícil acesso, na Rússia, porém, soube recentemente, por um soldado, que sua família retornara para a antiga casa francesa. Infelizmente, este soldado desapareceu depois de ser enviado para a família de Louis, que agora refletia sobre os acontecimentos.
Por mais de uma vez, vira seus amigos morrerem e ainda assim, continuava a pensar em voltar para sua família, mantinha suas esperanças. Casaria com Christine. A saca de cinco quilos pereceu leve ao sentir o peso de matar homens que, como ele, tinham suas famílias, mas, nunca as veriam novamente.
Continuava caminhando, sério. A ideia de voltar o fez sorrir, ação que já não praticava espontaneamente. Sorria apenas quando confortava outros soldados em tendas com cheiro de mofo.
Finalmente, viu a casa amarela. Uma lágrima de emoção escorreu por seu rosto. “Estou de volta, Christine!”, pensou, imerso em alegria e ansiedade.
A casa ficava isolada da cidade, num lugar calmo, rodeada por árvores. Não dispunha de portão, mas, as portas de madeira não seriam arrombadas facilmente, tudo fora planejado para evitar os alemães. Um caminho de paralelepípedos cortava a grama em direção a entrada principal. Louis se lembrou da última vez em que brincara com seu filho ali, na véspera de sua partida.
Chegou a porta, suspirou lentamente, ergueu a mão enluvada e bateu. Depois de algum tempo, a porta se abriu e uma mulher parou no portal, observando-o. Instantaneamente, a mulher levou a mão à boca. Parecia que estava diante de um fantasma.
-Oh, meu Deus! Louis? – Ela começou a chorar e Louis a reconheceu.
-Sim, Christine, sou eu... Estou de volta.