O Dia de Denis
Denis havia acordado se sentindo um pouco estranho naquela manhã. Não sabia ao certo o que estava acontecendo, sentia-se confuso. Acordou com a forte lembrança de um sonho que havia tido durante a noite. Era um sonho estranho e indefinido, no qual ele tinha a sensação de ter saído de seu próprio corpo após uma forte dor no peito. Ao acordar, sentia-se estranhamente tonto e sem força. Com certo esforço, levantou-se e, sentado na cama, viu que o relógio marcava onze horas. Havia dormido de mais. Pensou que talvez fosse por isso que estava se sentindo mal.
Como de costume, se pôs de pé e saiu rapidamente do quarto sem arrumá-lo. Sentou-se no sofá da sala e começou a pensar em como sua mãe reclamaria quando visse que seu quarto ainda estava desarrumado. Pensou em arrumá-lo, mas a preguiça foi maior. Resolveu sair de casa antes que sua mãe fosse até o quarto, não estava com paciência para ouvir reclamações.
A porta estava aberta e sua mãe estava varrendo o quintal da frente. Denis saiu pela porta e ao passar pela mãe falou: “--Vou ali. Já volto.” E foi embora. Estranhou o fato de ela não ter respondido nem feito objeções, porém seguiu em frente e até achou melhor. Ao sair de casa, viu alguns de seus amigos adiante, sentados na calçada da rua e foi ao encontro deles. Nenhum deles se manifestou diante de sua presença. Então Denis os cumprimentou, porém eles não responderam. Denis lembrou-se do dia anterior, em que havia feito uma brincadeira de mau gosto com Alberto, um dos que ali estavam, e todos os colegas tinham se chateado por tal brincadeira. Então Denis falou:
- Vocês vão mesmo me dar um gelo?! Foi mal por ontem Alberto, já passou!
Eles continuaram a ignorar. Denis estranhou o fato de eles não estarem com cara de zangados, mas simplesmente continuavam a conversar normalmente como se ele não estivesse ali.
Já com raiva, Denis tenta puxar um dos colegas pelo braço. Ao fazê-lo, é tomado pelo espanto. Inexplicavelmente sua mão atravessa o braço do colega, como um fantasma atravessa as coisas. Denis para alarmado e observa a própria mão. Desesperado, ele põe-se à frente dos colegas tentando empurrá-los, porém passa direto por eles. Assustado, ele pensa: “O que é isso?! Eu só posso estar sonhando. É isso, eu estou sonhando! Ainda nem acordei.”
Nesse momento a mãe de Denis abre o portão às pressas e sai desesperada pedindo socorro. Os colegas de Denis e mais dois vizinhos correm para ver o que há. Denis, ainda desorientado, os segue correndo. A mãe de Denis, chorando, fala:
- Meu filho! Meu filho! Ajudem! Chamem um médico, pelo amor de deus!
Denis vai até sua mãe e em vão tenta pega-la pelo ombro, dizendo:
- O que está acontecendo mãe? Fala, fala! Diz que estou sonhando. DIZ MÃE!
Sua mãe não responde e todos entram na casa para ver o que acontecia. Denis decide ir também. Dirige-se ao quarto e, antes de entrar, ouve vozes e choros vindos de lá:
- Acorda meu filho! O que há com você?
Denis ouve o vizinho, que é médico, dizendo lentamente:
- Infelizmente não há mais nada o que se possa fazer. O coração parou. Ele está morto.
Essas palavras doeram fundo em Denis. Ele não tinha coragem para entrar no quarto, pois já sabia o que iria ver, ou pelo menos imaginava. Todas aquelas coisas estranhas acontecendo só poderiam significar uma coisa. Com toda coragem que tinha decidiu entrar. Deparou-se com o quarto do jeito que estava quando acordou e, para seu pavor, se viu deitado na cama como se ainda dormisse.
Aquilo não podia ser. Não podia estar acontecendo. Ele não podia ter morrido. Denis sentiu-se desesperado, depois melancólico. Como a morte poderia ter chegado dessa maneira? Por que havia chegado sua hora? Percebeu que aquilo não era um sonho. Soltou um grito amargo e agudo, ouvido apenas por ele mesmo naquele quarto.