O AFOGADO

Nossa! Vou morrer!Socorro! Célio grita afogado! A tosse é alta. Seus gritos imploram ajuda! Ele esteve internado muitos dias no UTI. Seu coração anda com problemas. Durante a sua permanência no hospital contou ter recebido a visita de várias pessoas desconhecidas. Um jovem visitante sentou ao seu lado abriu um livro e leu. Chorou de emoção! Lembrou-se da sua mãe lendo os contos da Mamãe Ganso para ele e seus irmãos. Sentavam ao redor do fogão a lenha e de olhos e ouvidos atentos a ouviam deslumbrados. O homem leu: ”Se eu morresse amanhã, viria ao menos/Fechar meus olhos minha triste irmã,/Minha mãe de saudades morreria/Se eu morresse amanhã!”. O jovem o olhou com ternura e continuou, ali, sentado na sua cabeceira. Outra manhã, uma figura grotesca lhe apareceu. Semelhante ao homem coxo e deformado, personagem de autoria de Victor Hugo. Ficou andando pelo quarto como se estivesse pendurado em uma corda. Assustador! As visitas cessam quando ele melhora. Sua filha corre para o quintal para ver o que acontece com o pai. Bate em suas costas. A família se reune ao seu redor. O olhar arguto da filha descobre uma lata de paçoca na mesa de trabalho do pai. Afogado!? Comeu paçoca?!Todos o olharam com reprovação! Assim, como para se desculpar diz: Mas essa dor da vida que devora/ A ânsia de glória, o dolorido afã.../ A dor no peito emudecera ao menos/ Se eu morresse amanhã!