Eram 10:57. Ele olhou atentamente para o local indicado. Sua mira telescópica dava perfeita visão do lugar onde seu alvo apareceria dali apenas alguns minutos.
Ele não sabia quem era o alvo desta vez. Tinha sido informado apenas que se tratava de uma funcionária daquela empresa e a roupa que estaria usando. Mas não era assim que ele gostava de trabalhar. Pelo contrário, seu modus sempre possuía um perfil detalhado do alvo. E ele não gostava de armas de longo alcance.
Aguardava, sem tirar os olhos da porta da empresa, esperando para cumprir mais uma missão e voltar para seu apartamento e tomar sua longa e generosa dose de uísque, como sempre fazia depois de um trabalho bem realizado.
O assassino estava sentado em um canto escuro, apoiado na janela do oitavo andar de um prédio em obras localizado bem na frente da corporação multinacional onde trabalhava seu alvo.
Ele estava vestido com seu habitual sobretudo preto e tinha um chapéu pendido para a esquerda, de modo que não atrapalhasse no momento do tiro certeiro. Quem o olhasse naquele momento se julgaria dentro de um filme de mafiosos. Só lhe faltava o charuto pendendo da boca, o que ele só fazia junto com seu uísque, depois do trabalho. Trazia, em um coldre dentro do paletó, sua pistola automática. Era um homem prevenido.
Esperava naquele dia uma mulher. Viria vestida de branco, com saia longa e um daqueles ternos femininos. Traria uma bolsa preta e cinza e um chapéu, combinando com a roupa. Eram 11:05
11:08. A mulher aparece na porta da empresa, descendo os degraus. Ele prepara sua arma para o tiro que acabaria com a vida da mulher e com mais uma missão. Por que aquela mulher tinha que morrer? Não lhe interessava. Nunca lhe interessara.
O rosto da vítima estava coberto pelo chapéu largo. Ela caminhou e parou ao pé do último degrau, talvez esperando que lhe abrissem a porta do carro, que acabara de parar bem à sua frente. Ele nunca cumpria um trabalho sem olhar uma vez no rosto da pessoa que tinha sido encomendada. E desta vez não seria diferente. Ele esperou.
11:09. Preparando-se para entrar no carro, ela olha para cima e o ângulo deixa exposto seu rosto. Ao ver aquele rosto o assassino hesita. Seria possível? Ele tinha que estar enganado! Não, não estava errado; era ela mesma, a mesma mulher. Eram 11:10. Ela estava prestes a desaparecer na segurança de seu carro.
Ele nunca perdera uma missão. Sempre entregara todos os alvos como haviam sido solicitados, sem questionar, sem hesitar. E agora não podia ser diferente. Havia sido encomendado e um corpo tinha que ser entregue. Involuntariamente, ou não, sua mão direita se moveu.
Se alguém estivesse lá naquele momento, no mesmo canto escuro, poderia ter ouvido três sons. O primeiro foi um clique e o segundo, logo depois, foi um tiro.
 
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Fábio Codogno
Enviado por Fábio Codogno em 15/08/2009
Código do texto: T1755734
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