O espelho
Quando aconteceu isso com Angelina ela tinha apenas 12 anos de idade.
Menina muitíssimo vaidosa, e devido a isso, as olhadelas ao espelho eram frequentes. Ela passava horas se olhando, olhando sua aparência externa – seu cabelo, sua blusa, seu short, suas pernas, sua bunda – ela e o espelho já se conheciam a muito tempo, apesar de sua pouca idade, devido as suas constantes visitas.
Como era de costume se olhar, nesse dia, ela não imaginava que isso lhe aconteceria, confesso que até eu fiquei surpresa com o comportamento do espelho. Achava que ele já estava acostumado com as suas assíduas visitas e com sua imagem, e com a imagem das pessoas da casa.
Angelina, que era de todas da família, a mais intima e fiel olhadora desse espelho, e por ser fidelíssima, imaginava-se que isso poderia acontecer com qualquer um da casa, menos com ela, que o alimentava todos os dias com visitas diárias, tendo quase uma relação de dependência assustadora com o espelho da casa.
Angelina gostava do espelho, pois para qualquer sugestão de sua aparência ela o consultava como uma amiga fidelíssima, a última resposta era sempre a dele, não a de um ser humano, pois, ela debruçava-se sobre ele sempre que podia, às vezes sem necessidade, e fazia isso com grande prazer, sem sentir-se culpada por estar nutrindo uma relação de dependência entre um ser inanimado. Penso que Angelina não sabia direito do liame mortal que possuía com o espelho da casa.
Neste dia como era de costume, depois do banho ela o procurou, presumo eu, que não se viu, mas, olhou-se, ajustou as roupas, penteou os cabelos, maquiou os olhos, fez caras e bocas, sentindo-se a menina mais bonita da casa. Quando de repente, quase que subitamente, Angelina foi tragada pelo espelho, que sugou toda sua suposta boniteza e superficialidade, sim, o espelho da casa fez isso, e nunca mais ouvi-se falar de Angelina, que desapareceu para sempre no caleidoscópico espelho da casa.