POSSESSO
A criança jazia adoentada na cama. Delirava. Entre lágrimas, dizia palavras desconexas.
O homem, debruçando-se sobre a doente, seus olhos vermelhos, pedia que fosse diferente.
Há anos deixara de sentir aquele delírio, a incontida sensação que o fazia deixar o mundo, o impelia aos saltos e risos para àquele que equilibrava-se acima.
— Cairá! — gritava aos risos.
O discernimento esvaia-se quando adentrava a alma aquele estranho.
Postado impotente, em seu corpo ressurgia o estranho.
Fitou a criança.
Do armário retirou o objeto.
Havia muito tempo...
Às gargalhadas, no nariz colocou a bola vermelha.
Rompido o choro, a criança riu com o palhaço.