Manhãs de Hiroshima

Na ingenuidade de seu olhar percebia-se toda timidez presa a um sorriso refreado e quase patético daquele tiquinho de gente que mal aprendera a falar. Um ser ainda totalmente dependente dos adultos a sua volta.

A professora curvou-se e beijou seu rosto assim que os seus amiguinhos de classe terminaram de cantar os parabéns. Em seguida a professora ordenou que fizessem a fila para irem brincar no parque.

Um sol de rosto miúdo e feição empalidecida, aparecia preguiçoso por entre as nuvens naquele comecinho de agosto.

Era a parte que eles mais gostavam. Divertirem-se nos brinquedos; balanços, gangorras, trepa-trepa, escorregador. Outros preferiam brincar na areia, um pouco úmida ainda, àquela hora da manhã.

Hiroshi pegou um balde, e com uma pequena pá, tentava enchê-lo de areia. Sentia-se muito orgulhoso naquela manhã. Estava completando cinco anos e já aprendera a rabiscar as primeiras letras do alfabeto. No dia anterior mostrara todo eufórico à sua mãe, o desenho de um coração com o nome dela escrito em uma das laterais da folha.

Uma menina, que parecia ter mais ou menos a sua idade, aproximou-se e desejou-lhe parabéns. Hiroshi ergueu a cabeça e abriu um sorriso angelical ao perceber que era Noruma, sua melhor amiga.

----Posso te ajudar a encher o balde? –Perguntou ela.

----Sim!... É claro que pode! –Respondeu Hiroshi.

Permaneceram em silêncio por alguns minutos, entretidos com a brincadeira, até que de repente outro menino que brincava perto deles gritou, apontando para o céu:

----Olha!

Todos olharam para o alto, inclusive a professora.

----O que é aquilo? –Perguntou uma das crianças.

A professora não respondeu. Apenas cerrou os olhos e murmurou:

----Meu Deus!

O pequeno ponto no céu veio descendo, descendo, descendo e a poucos metros dali, agora já bem maior, explodiu provocando um clarão tão intenso quanto ao clarão do sol.

Hiroshima, 08h15m do dia 06 de Agosto de 1945.

(As manhãs de Hiroshima nunca mais foram as mesmas)

F I M

(Para aproximadamente 140.000 pessoas)

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