Claustrofobia

Andrew caminhava a passos largos, quase correndo pela noite. Bateu a mão no bolso de trás da calça, sentindo a carteira que guardava uma alta quantia em dinheiro.

Entrou num bar coçando o a barba no queixo. O local estava quase vazio. Apenas dois homens estavam lá, separados por um banquinho e foi onde Andrew se sentou, entre os dois homens. A sua direito um baixo, usando um boné azul e um casaco jeans. O homem da esquerda era alto, corpulento e usava um paletó com a gravata folgada, provavelmente, não tinha mais que 25 anos. Ambos os homens bebiam whisky.

O homem da esquerda olhou para o bartender e apontou para o recém chegado.

-Não vai atendê-lo? - Riu, virando o boné para trás e deixando a testa enrugada a mostra.

O bartender se aproximou.

-O que deseja senhor? - A voz cansada.

-Um smirnoff, por favor. - Andrew se debruçou no balcão enquanto o bartender preparava a bebida - Com gelo.

-E então, qual o seu nome? - perguntou o homem da esquerda sorrindo.

Ele hesitou por um momento.

-Andrew e o seu? - Ele bebericou a bebida tranquilamente.

-Michael e esse é meu amigo, Bart - Ele apontou para o rapaz de paletó. - Diga "Olá", seu desgraçado!

O rapaz bufou depois de levar o copo a boca e beber todo o conteúdo.

-Olá! - Devia estar cansado de Michael.

-Nunca te vi por aqui, Andrew. - Michael deu um sorriso mostrando os dentes amarelados e Andrew engoliu de uma vez o conteúdo em seu copo antes de pedir outra dose. - Sou o dono do lugar, conheço todos os fregueses, bebo com cada um deles. Mas, você... Nunca apareceu aqui! Estou certo disso!

-Realmente, está. - Não era de se admirar que Bart estivesse cansado daquele homem. Os dentes dele pareciam ranger enquanto falava.

-Então, você deve ser um daqueles com problemas, certo?

-Sou. - Andrew admitiu. - Problemas com minha mulher.

-São dos piores. - Ele levantou as sobrancelhas dando ênfase a frase. - Que tipo de problemas? Traição?

-Não! - Andrew gritou se virando bruscamente. - Eu tive uma briga com minha esposa. Ela acha que trabalho demais.

-Por isso você veio encher a cara aqui hoje! - Michael provocou bebendo o whisky e entregando o copo ao bartender.

-Eu só quero beber sozinho, está bem? - Andrew explodiu antes de beber o copo de smirnoff e pedir whisky.

O dono do bar se afastou.

-Tenho algumas coisas para resolver!

Andrew olhou em volta, estava a sós com o bartender. Passou algum tempo bebendo diversos tipos de bebidas, estava as degustando e pensando na discussão que tivera com a esposa. Estivera o dia e parte da noite trabalhando, não era a primeira vez que isso acontecia.

Enquanto pensava nisso, um mal estar estomacal o atingiu, olhou para a porta do banheiro masculino e correu em busca do vaso sanitário, onde despejou tudo o que bebera nas últimas horas.

Passou um longo tempo no banheiro, tentando se recuperar. Então, as luzes se apagaram. Ele saiu do banheiro as pressas e não encontrou ninguém no bar.

-Aquele imundo nem pagou a conta! - Era a voz de Michael. - Vou ter que cobrá-lo se aparecer aqui de novo!

Andrew quis gritar que ainda estava lá, queria sair dali, mas, a boca seca o deteve de pronunciar qualquer palavra. Naquele momento se lembrou se seu maior medo. A claustrofobia o afetou e ele caiu no chão, se arrastando até o balcão. "Sozinho", pensou, "Prefiro morrer a ficar aqui!". Viu as paredes se aproximarem e as cadeiras se lançarem contra ele. Os olhos, cheios de pavor, denunciavam claramente seu maior desejo naquele instante: a morte!

Com muito esforço, conseguiu se levantar e se apoiar no balcão, viu as garrafas de bebidas nas prateleiras, pegou a mesma da qual o bartender o servira mais cedo. O suor pingava de sua testa quando ele segurou a garrafa pelo gargalo de vidro, a levantou e desceu-a com toda a força que pode em direção ao balcão, espalhando o conteúdo e os cacos do fundo.

A parte superior da garrafa formava algo perfeito para se cortar qualquer coisa fina como pele. Ele mirou o pulso esquerdo e cravou o vidro em si mesmo. Por uma, duas, três vezes repetiu o movimento enquanto as paredes o comprimiam em sua mente.

Leticia Dias
Enviado por Leticia Dias em 05/08/2009
Reeditado em 06/08/2009
Código do texto: T1738839
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