O Lobisomem.
Vou contar aqui a estória de Camila. Ela é uma jovem de 28 anos formada em Direito, trabalha de 9:00 às 17:00 num escritório que divide com um colega de profissão. A duras penas está terminando a Pós-Graduação. Trabalhar e estudar não é fácil!
Camila tinha um amigo chamado Igor, o qual não via com freqüência, eles se encontravam de vez em quando e coincidentemente durante o dia, era sempre muito agradável conversar com ele, gentil, educado, atencioso, um Gentleman. Ele era solteiro e Camila ficava intrigada, como um homem assim (com essas qualidades) pode estar sozinho? Coisas da vida.
Então numa noite de sexta que ela havia saído com as amigas para tomar um chopp, encontrou Igor. O apresentou as amigas e resolveram sentar juntos, conversa vai, conversa vem, e muitos chopps depois, Igor cantou Camila, ela desconversou, disse que tinha namorado, mas percebeu que ele não gostou do fora e foi ficando estranho, a voz começou a mudar, a maneira de falar mais ríspida, até seu rosto se transformou, estava vermelho com os olhos apertados e sobrancelhas franzidas como quem esta com raiva. Camila começou a estranhar tamanha mudança. Logo ele passou a discordar de tudo que conversavam, recriminava, era cínico, até grosseiro. Ficou olhando para ele por uns minutos e não podia acreditar que aquele homem que estava a sua frente era o mesmo amigo gentil de antes. Então ela chamou as amigas de lado e falou: "Vamos embora antes que aconteça algo". Elas fingiram ir ao banheiro e fugiram dele.
No dia seguite Camila estava em seu carro a caminho do escritório ouvindo as notícias no rádio quando o locutor falou sobre um tiroteio no bar que ela havia estado na noite anterior. Um homem descontrolado sacou uma pistola e atirou nas pessoas que ali estavam, três faleceram na hora e cinco estavam gravemente feridas no hospital. Ela mal podia acreditar no que estava ouvindo, tinha certeza que Igor era o autor desses crimes. Camila parou o carro, estava nervosa demais, tremendo demais para continuar dirigindo. Ficou parada, olhando para o nada, revivendo cada detalhe da noite anterior. Chorou um pouco, ligou o carro e seguiu. Mas seus pensamentos não paravam, em sua cabeça rondava sempre a mesma frase. " Caramba, podia ter sido eu!
Igor corria sem parar. Sabia que havia feito algo muito grave, lembrava de sangue, gritos, tiros. Ele ainda segurava a pistola na mão suada. Olhou para ela e a largou num canto da rua. Seu instinto dizia, ‘corre’, e ele correu por muito tempo.
Vanda era uma jovem de 21 anos, morava sozinha num apartamento pequeno de paredes finas. Não gostava de viver ali, os vizinhos eram barulhentos, brigavam muito. Era órfã, foi criada por uma tia que morava no interior, quando completou 18 anos mudou-se para a capital em busca de uma vida melhor. Logo que chegou nesse prédio conheceu Igor, encantou-se com ele. “Nossa, que homem maravilhoso!” Ele conversava e lhe dava atenção mas nunca tentou nada, sempre a respeitou, ela o adorava mas tinha certeza que não existia a menor chance de ficar com ele, não se achava bonita nem interessante, mesmo assim acalentava esse amor platônico.
Nesse momento o ouviu chegar, bateu a porta com força, ela rapidamente desligou a TV, apagou a luz e ficou em silêncio, queria ouvi-lo. Começou a estranhar tanto barulho, caiam coisas, ele estava agitado, caminhava de um lado para outro sem parar. Então teve uma idéia, ia bater em sua porta com algum pretexto, assim saberia o que estava acontecendo. E assim o fez. Foi até o apartamento de Igor e bateu, percebeu que ele ficou em silêncio até abrir e puxá-la para dentro bruscamente. Ele estava nervoso, ofegante, perguntou rispidamente: "O que você quer? "– Ela respondeu que estava com dor de cabeça e veio perguntar se ele tinha um remédio para emprestar. Percebeu que ele não gostou de sua visita, estava nitidamente chateado e disse: "Não tenho remédio nenhum aqui, vai na farmácia, lá eles vendem!" Ela retrucou: -"Poxa, não precisa ser grosso!" Nesse momento alguém bate na porta e disse: "Policia!" E continuaram batendo insistentemente. Igor se desesperou, botou as mãos na cabeça e ficou olhando para a porta. Vanda perguntou: "Não vai abrir?" -Ele balançou a cabeça que não. Então ela percebeu que Igor havia feito algo muito errado e ficou com medo. Ouviram um enorme barulho e a porta se abriu. Os policiais entraram com armas em punho apontando para Igor, Vanda ficou desesperada, ele era seu amor! O rapaz ameaçou reagir, os policiais começaram a atirar e Vanda correu, queria fazê-los parar! Ficou entre eles e Igor e foi atingida por uma bala, os policiais se assustaram, baixaram as armas para socorrê-la, Igor aproveitou e fugiu.
Quando a ambulância chegou Vanda já não respirava, levou um tiro fatal. Morreu por seu amor.
Amanhecia, Igor estava cansado, sujo e desorientado, precisava se acalmar. Com a cabeça fria pensaria com clareza no que fazer.
Dois anos se passaram, Igor morava em outra cidade, conseguiu fugir sem deixar rastro. Havia começado uma vida nova, estava trabalhando, até tinha uma namorada! Viver se escondendo não é facil mas estava bem distante de onde tudo aconteceu. O único problema que tinha era com seu patrão, Sr. Alberto, sujeito pedante, arrogante, mas ele precisava do emprego e se sentia razoavelmente seguro naquela cidade, queria continuar vivendo ali. Numa terça-feira quando chegou para trabalhar, seu patrão mandou avisa-lo que queria falar com ele. Igor pensou:’ Lá vem problema!’ Foi exatamente o que aconteceu. Seu Alberto estava furioso com uns calculos, teimava que a culpa do erro era sua. E o demitiu. Igor sentiu um odio tão grande como jamais sentira por alguem. 'Maldido arrogante, não sabe com quem esta comprando briga!'
Nessa mesma noite foi ao bar afogar as mágoas, precisava relaxar e bebeu bastante. Saiu de lá cheio de coragem para tomar satisfações com o ‘miserável Alberto’, foi direto a casa dele. Chegando lá, viu as luzes acesas, foi até a porta e tocou a campainha, seu ex-patrão apareceu e foi logo perguntando o que ele queria ali. Igor estava bêbado e com muita raiva, gritou perguntando ‘o porquê’ da demissão mas não deu tempo para o Sr. Alberto responder, tirou uma faca que trazia na cintura e deu uma estocada no ‘velho miserável’, depois mais uma e mais outra. Seu Alberto caiu, havia sangue por todo lado, então sua esposa apareceu na sala e viu seu marido no chão em meio a todo aquele sangue. Ela comecou a gritar. Igor foi até ela e lhe deu um soco, quando ela caiu e a esfaqueou também. Ele ainda viu seus olhos arregalados desfalecerem. Levantou já pensava em fugir, quando deu de cara com uma garotinha, ela estava branca, paralizada, ele podia ver o quando seu corpinho tremia, mas ela continuou ali, imóvel. E agora, o que fazer? Mato essa menina também? Ela me conhece, o que eu faço? Pegou a menina pela mão e saiu com ela, a deixaria num lugar longe dali, assim quando a encontrarem, ele já estará longe.
Mas um vizinho os viu e estranhou a menina saindo aquela hora da noite com um desconhecido e chamou a policia. Já havia passado mais de uma hora e eles estavam chegando a um terreno baldio bem distante da casa dela. Igor parou, olhou para a menina e disse que se ela saísse dali, ele voltaria e a mataria também, do mesmo jeito que fez com seus pais. A menina obedeceu, ficou quieta, chorando sozinha no escuro.
Consegui! Consegui novamente! Igor pensava e ria muito, mais uma vez conseguiu fugir. Mas nesse momento percebeu que estava cercado por carros e luzes, a policia o havia encontrado. Mandaram largar a faca mas ele não pensava se entregar, sabia que pagaria um preço muito alto por seus crimes.
Olhou para seu próprio corpo e enterrou o quanto pôde a lâmina em seu abdômen. "Maldidos, não vão me pegar!" E caiu de joelhos. Antes que os policiais o alcançassem, ele puxou a faca e pensou. ‘Morro aqui, pago no inferno mas vocês não me levam!’ Cortou sua garganta com o pouco de forças que ainda lhe restava.
Quantos Lobisomens conhecemos? Pessoas comuns, educadas, cultas ou não, mas que se transformam quando são contrariadas.
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