Mais Uma Noite de Caça
Tomem cuidado, meus demônios escolhem horas menos prováveis para se manifestar. Da mesma forma que eles são minha maldição, sou o maldito deles. Nos odiamos, mas como se fosse um vício, eles me sustentam, e sei, eles precisam de mim o quão ou mais eu deles. Nas noites em que se manifestam, não me controlo, saio logo de casa e sinto uma necessidade incomum de sangue. Como um atleta que corre quilômetros e ao chegar necessita de água, sinto o mesmo, mas prefiro o precioso escarlate. Um prazeroso sentimento de maldição me gela a espinha, a partir deste momento, já não posso esperar. Quero sangue. Meu instinto sanguinário já me enganou várias vezes, mas agora não, eu o recompenso com sua necessidade e em troca, aquele imenso prazer nunca experimentado antes. Avistei um humano em minha direção. Não importa a distância. Corro de maneira que nem eu mesmo acredito que sou capaz. Senti meus caninos encostarem no meu lábio inferior. Escutei os cães latindo do outro lado. Malditos cães. Torci mais uma vez para que ninguém escutasse, afinal, não gosto de estar preocupado com nada quando estou me deliciando de algum prazer. Já o grito seco e fino da linda humana que se encontra em minha frente, não me incomodou. A força dela é totalmente inferior à minha. Tapei tua boca com a mão direita, com a esquerda acariciei teu lindo corpo. Meus caninos penetraram em teu pescoço com suavidade. Senti teu corpo endurecer. Matei minha sede. Aquela linda humana havia saciado minha sede. Como agradecimento, dei-lhe um belo beijo. Subi para a laje do mais alto prédio da cidade. Queria estar agora em outro lugar, num lugar que eu nunca imaginei estar. Mas agora já não quero pensar nisso, afinal, os malditos raios solares já tocam o céu do oeste. Preciso, logo, voltar para meu lar...
* Este conto eu escrevi quando tinha 19 anos, publicado em um blog aos 14 de maio de 2004. Por coincidência o encontrei e resolvi postar.