O HOSPITAL
O HOSPITAL – (Reeditado).
Uma leve canção recobrou-lhe os sentidos, a melodia suave e simples carregada de delicadeza vagarosamente fez seus olhos abrirem.
A luz era intensa e as pálpebras voltaram a fechar-se, mas logo, motivadas pela teimosia natural e humana, prosseguiram na tentativa. A luz, agora, começara a ser aceita pelas pupilas que se retraíam e, aos poucos, um vulto começou a desenhar-se em figura humana.
- Madalene? Perguntou Julios.
A leve canção cessou-se seguida de suave resposta.
-Oh! Não querido, não sou ela. Respondeu uma doce e delicada voz.
O vulto aos poucos se tornara visível. Deste modo Julios pode contemplar a beleza estonteante que possuía aquela mulher. O quarto agora podia ser reconhecido. Sem dúvida era um hospital e, aquela bela mulher, talvez fosse uma enfermeira ou uma médica de plantão.
O reconhecimento da situação cativou-lhe a memória e num súbito raciocinar de lembranças, perguntou regido pelo impulso:
- Deus! O acidente. -O acidente?
- Calma querido! Não se perturbe, você está bem.
-Deus! E Madalene?
-AH! Ela também querido, por sorte sobreviveu, e neste momento passa bem.
- Graças a Deus! E os outros?
- Por felicidade muitos sobreviveram, entretanto o acidente foi gravíssimo e, como infelizmente sabemos; a sorte não sorri para todos de uma só vez. - Não o é?
-Sim; sim, entendo.
-Agora, acalme-se e descanse, logo, como todos; terá muito que fazer.
A voz da mulher era suave e delicada como o canto das aves matinais; um calmante benevolente, logo Julios encontrava-se prestes a adormecer.
-Concordo. – Ela... Esta... Bem... Mesmo?
-Sim querido, ela está ótima.
- Que bo...
Julios adormecera e a leve canção iniciara-se novamente, suave e doce, brilhante e reluzente fluindo tal qual o mel dourado das amigáveis e generosas Jataís.
Após algumas horas a canção aumentara de volume fazendo Julios despertar novamente.
No quarto, a mulher o olhava com olhos de anjo, mas não cantava. O som emanava de fora, por detrás da janela cerrada por cortinas reluzentes de neve.
- O que é isso? Perguntou
-Oh querido! Nosso coral; chamamo-os de o coral do despertar.
-És um nome perfeito. – Que bela musica!
- Sim é uma bela musica. Disse suavemente a bela mulher. – Quer vê-los?
- Sim, mas antes gostaria de ver Madalene.
-OH! Claro que poderá vê-la, mas não agora, você precisa ainda ser analisado.
-Mas... Não sinto dor alguma.
- Eu sei, sei bem que não sente e, não é bem este tipo de análise que expressei. – Venha, venha vê-los.
-Mas.
-Venha! - por favor! Disse a mulher com a carência expressada por seus tão delicados traços.
Julios levantou-se vagarosamente, sentia-se bem, nada doía, estava recuperado e com passos trêmulos caminhou à janela.
- Que tipo de análise seria?
Julios emudeceu-se quando a bela mulher abriu as cortinas. Pasmou-se a observar centenas de seres voando e cantando acima da relva que florescia intermitentemente. O sol e a lua brilhavam ao mesmo tempo, quais pássaros de luz ao dividirem o mesmo céu. Seguidamente uma gigantesca e imensurável paz tomou-lhe o ser, acalmando-o de modo acariciador e atenuante; como a brisa branda de um verão escaldante. A resposta da mulher veio-lhe como uma última indicação do seu presente:
-Você, querido, ainda precisa ser julgado.
J.Victor
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