Lembranças - Parte 2
A fera, ou o que quer que fosse continuou em seu movimento de ir e vir contínuo enquanto Herbert percebeu certa saliva gosmenta a lhe pingar a boca.
Engoliu a seco enquanto caminhou para trás. A cada minuto tudo se mostrava mais complexo...
O animal deu um rosnado mais alto e avançou em passos lentos que precedentes a porta tornaram-se mais rápidos e avançou na cama, sob o casal.
Sua forma mais velha, o verdadeiro, como julgava se, avançou ao quarto e acendeu a luz e seus olhos testemunharam algo que lhe embrulhou o estômago. Sua versão mais jovem tinha um dos pulsos preso a boca do animal, que agora, diante a luz constatou o que era: uma pantera negra. Mas, como? De onde...?
A pergunta desfazia-se no ar diante o horror que testemunhava. O jovem lutava contra o animal a lhe dar socos no focinho, mas este não pareceu ao mínimo sentir. Lívia gritava e também lhe acertava golpes que este, a assistir, julgava fraquíssimos, e por instante cansou de ser um simples espectador e jogou-se sobre o animal, mas, passou por ele como se fosse um... espectro, um espírito. Caiu do outro lado da cama e julgou que nada haveria de fazer, a não ser ver à cena.
O braço terminava num pedaço de carne e osso exposto, já perdera a mão e a fera agora lhe atracava tanto na barriga quanto na perna. A cama transformara-se num mar de sangue vermelho e Lívia... Onde estava? Esta surgiu da porta com uma grande faca na mão avançou sobre as costelas da fera e afundou-lhe a arma na carne coberta por pelos negros e brilhantes. O animal mostrou um fraco incômodo, mas prosseguiu a matança. O Herbert jovem já perdera a voz e pelo que via, perdera também a consciência. Lívia batia no animal enquanto esse lhe mordia o pescoço e viu-se um enorme naco de carne entre seus dentes pontiagudos. O animal, num giro de cabeça lançou Lívia contra a parede e esta cambaleou após acertar a cabeça contra o chão. Um enorme hematoma surgia em sua testa e havia um corte, não muito profundo deixando escapar um fino fluxo de sangue. O animal agora o - puxava por um dos pés e um grosso rastro de sangue foi deixado desde a cama até o corredor, para onde seguiu. Herbert seguiu até esse, a fera não estava mais por perto, restara somente o corpo totalmente arranhado e mordido e o negro trilho de sangue a lhe acompanhar.
Momentaneamente tudo se tornou sombras e tão repentinamente voltou-se a luz.
O sol batia em seu rosto e viu-se com a cabeça inclinada sobre o assento. O relógio do rádio marcava duas horas e meia e ainda mal saíra do estacionamento da empresa. Bateu a chave de ignição e antes de dar a partida hesitou perante o sonho que tivera. Desligou o carro e digitou algo no celular, o pôs no ouvido:
- Alô? Sim, queria reservar um vôo de ida para a cidade de Andares...
Após reservar um vôo ligou para a esposa:
- Lívia? Já te disse quanto estou com saudades...?