__O LADRÃO DE CORAÇÃO__
     As luzes se apagaram, ofegante ela se enco-
     lheu num canto.
     O tic e tac do relógio ecoava assustadoramente.
     O assoalho de madeira rangeu, um arrepio lhe
     percorreu o corpo.
     O medo pavoroso do desconhecido a assolava.
     Alguns passos mais e o silencio se estabeleceu.
     A noite fora longa e fria.
     Quando o dia clareou os primeiros raios lhe
     ofuscaram a visão.
     Lentamente ela foi saindo de seu esconderijo
     e caminhou até a porta.
     Teve medo, se alguém descobrisse o segredo
     ou soubesse a verdade o que diria.
     Quem acreditaria em suas verdades se até
     para ela parecia ser bizarro o que testemu-
     nhara.
     Trêmula abriu a porta e caminhou até o pesado
     portão de ferro.
     Alcançou a rua, cabelos desalinhados, rosto in-
     chado.
     Lágrimas brotaram de seus olhos, exausta cor-
     reu até o ar lhe faltar e caiu ao chão.
     Pessoas que testemunharam a cena se aglome-
     ravam para socorre-la.
     Inconsciente não percebeu o distinto senhor que
     pedia passagem aos transeuntes.
     Hábil ele a carregou no colo e a levou até seu
     automóvel.
     Delicadamente a deitou no banco traseiro, tirou
     um frasco do bolso e o virou num lenço.
     Rapidamente tapou lhe as narina a fazendo ina-
     lar tal conteúdo.
     Quando recobrou os sentidos estava num quarto
     arejado, ele a olhava com o mesmo sorriso sar-
     cástico dos velhos tempos.
     Extremeceu mediante o fim anunciado e ele rin-
     do diabolicamente a punhalou.
     Um gruido diante da carne delacerada, risos
     estridentes e o sangue lhe banhou a face.
     Ele apreciou o sabor denso, lambendo os lábios.
     Com a habilidade de um cirugião lhe arrancou
     o caração.
     Olhou o orgão quente e o beijou várias vezes,
     um prazer bizarro lhe acalentava o ego.
     Saiu caminhando apressadamente do quarto, 
     adentrou um espaço fédico e minúsculo.
     Rapidamente pegou um vidro e colocou o gélido
     coração.
     Seus olhos possuiam um brilho maligno e ele 
     não mais ria, apenas, contemplava sua coleção.
     Corações diversos, em vidros transparentes,
     de todas as mulheres que atravessaram sua 
     vida.
             _CamomillaHassan_
     
     
     
     
     
     
     
         
    
CAMOMILLA HASSAN
Enviado por CAMOMILLA HASSAN em 02/07/2009
Reeditado em 02/07/2009
Código do texto: T1679521
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