O vôo dos anjos
Eram quase três horas da tarde. O sol ardia de uma tal maneira que parecia fritar os miolos de quem se aventurava a caminhar pelas ruas a àquela hora do dia.
Algumas pessoas aproveitando-se da sombra que se prolongava de uma das laterais da banca de revistas, paravam para ler as manchetes dos jornais pendurados no paredão ao lado.
Um pouco a frente, completamente alheios a tudo aquilo, dois garotos batiam figurinhas a bafo.
Diante dos olhos de algumas pessoas mais atentas deslumbrava-se inocentemente toda docilidade e pureza que encontramos apenas nos corações angelicais dos pequeninos abençoados por Deus. Pareciam dois anjos imunes a qualquer tipo de maldade.
De repente um deles levantou a cabeça em direção a barbearia e em seguida bateu no ombro do amigo. Levantaram-se de sopetão ao verem o dono da barbearia dirigindo-se ao bar para tomar café. O menorzinho o acompanhou a meia distância e ficou vigiando próximo a banca de revistas. Fez sinal com uma das mãos para o outro que entrou rapidamente na barbearia e logo em seguida saiu empurrando uma bicicleta. Um sentou no selin e o outro no cano. Equilibraram-se sobre a bicicleta e despinguelaram avenida abaixo, com o maiorzinho pedalando feito um doido.
Alguém percebeu o furto e correu avisar o barbeiro. O coitado desembestou atrás dos pirralhos, gritando:
----Pega-Ladrão! Pega- Ladrão!
Depois de quase meia hora retornou de mãos vazias e vermelho feito um pimentão. Os meninos haviam desaparecido.
Também pudera... anjos sabem voar!