A casa da última quadra XV

Prometemos a nós mesmos que não gastaríamos com taxi se as circunstancias e nossa disposição nos permitisse ir caminhando. Assim se tudo fosse por água abaixo os gastos não seriam tão altos.

Três batidas na porta, três voltas no meu estômago.

A mulher que atendeu a porta era baixinha, menor que Jay, olhava-nos curiosa.

_ Quem são vocês?

_ Jay Hastiens e Sama Magguffy.

_ Querem o que aqui?

_ Falar com Eliza Taylor.

Jay não me deixava falar nada, era até quieto mas quando tinha oportunidade não largava das palavras.

_ Ela sabe que estamos aqui, sabe o que viemos fazer.

Olhou-me surpreso por eu ter aberto a boca.

_ Sendo assim acho que podem entrar.

Desde sempre a família fora rica, sendo assim concluí que nada mudara.

O sofá preto e as almofadas verdes não eram agradáveis. Tudo tinha um ar fúnebre, afinal a vida dela não deve ter sido nem de longe um mar de rosas.

Eu parecia ainda mais ansiosa que Jay.

O quadro do pai e da mãe com duas crianças dominava a parede principal da sala.

O olhar arrogante e perverso de Agnus, nunca me pareceu uma boa pessoa, sempre de olhar frio e gestos cínicos e antipáticos.

Já o marido... Ele eu não sei, me parecia simples e sem expressão, seu jeito me parecia que ele fora submisso as vontades da mulher, que fora submisso a ela e a tudo que envolvesse ela.

Não sabia da existência do filho, somente da filha, Eliza Taylor. Quando criança ela parecia triste e doce.

O irmão tinha feições duras e um olhar fixo, sem alegria.

_ O que querem comigo?

Jay fora mais rápido a se virar para poder vê-la.

_ O que querem com a história da minha família?

_ É simples, bem... Talvez nem tão simples.

_ Digam.

Assim que abri a boca Jay fez um sinal com a mão para pedir que ele continuasse a falar, obedeci.

_ Minha mãe e o tio dela morreram dentro da casa onde sua família morou. Precisamos saber o que aconteceu.

_ Vocês deviam ter mais cautela ao tocar em assuntos delicados e antigos.

_ Será possível que nos diga o que aconteceu lá?

_ Talvez a gravidade dos fatos seja bem mais forte do que vocês imaginam.

_ Forte é não conhecer um membro importante da família.

_ Não fale desse jeito, eu também perdi minha mãe.

_ Você chegou a conhecê-la.

_ Bem... Quando eu tinha cinco anos e meu irmão tinha três, nossa mãe, começou a ter sérios problemas mentais.

“Desde que meu irmão nasceu notava-se que ela não estava bem, mas só três anos depois as coisas começaram a piorar e daí em diante só se agravavam as coisas.”

“Não dormia, não comia, berrava, se machucava, ninguém conseguia entender o que estava se passando. Os médicos diziam que era depressão pós parto e um único pareceu acertar o que realmente ela tinha. Um problema mental que se agravou após a depressão, minha mãe era maníaca, masoquista, amava se ver arranhada e amava nos ver chorar.”

Os olhos dela transbordavam algum tipo de prazer em nos contar aquilo.

Incrivelmente parecida com a mãe, loira e os olhos de esferas.

_ Uma noite antes de morrer minha mãe enfiou um punhal no próprio peito e por pouco não arrebentou todas as veias importantes que passavam na região da perfuração.

“ Não dormiu a noite inteira e durante a madrugada eu e meu irmão fomos correndo até o quarto dela de onde escutávamos berros. Ela arranhava a parede e ria, de repente gritava de dor e depois ria, as paredes se manchavam de sangue e de marcas de unhas.”

Parou para respirar, os olhos cheios de lágrimas.

Tínhamos conseguido tudo de uma maneira tão fácil.

Esboçou um sorriso.

_ Arrebentou todos os curativos e tudo que os médicos fizeram para curar os ferimentos que ela fizera. O coração parou.

_ Depois da morte dela... Você acha que possa ser o espírito dela?

_ Se for... Acontece que sei como é não ter a mãe. Vou ajudá-los mais.

_ Como?

_ Vou levá-los a uma parte da casa que só minha mãe conhecia, alguma coisa vão descobrir.

_ Está realmente disposta?

_ Sim.

Fernanda Ferreira
Enviado por Fernanda Ferreira em 27/05/2009
Código do texto: T1617617
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