A casa da última quadra XIII
_ Posso saber que fim de mundo é esse Jay Hastiens?
_ Pode! É a cidade que a família nasceu, se mudou e voltou.
Meu queixo conseguia sentir o chão gelado da rodoviária em condições precárias. Mendigos, bêbados, meninos com uma aparência horrível.
_ Sam, pelo amor de Deus, não vamos ficar muito tempo aqui, então tente não ter um acesso de fúria ou coisa do tipo.
Eu só fitava-o sem acreditar no que eu havia me metido.
_ Olhe aqui... Eu... Eu prometo te levar para jantar assim que a gente voltar. Pode ser?
Respirei fundo. Ele tirou as mãos dos meus ombros e continuou andando ao meu lado, olhava para todos os lados sem parar.
_ Estamos sendo seguidos?
_ Não Sam. Quero um telefone público.
_ Vai ligar para quem?
Tirou a carteira da mochila e me deu uma nota de valor imemorável.
_ Arranje uma lista telefônica e algumas fichas.
_ Me espere aqui, ouviu bem?
_ Não vou nem me mover.
Dei as costas para ele e fui em direção a um balcão imundo com uma plaquinha “Informações”.
Um grupo de rapazes começou a se formar perto de mim e tentei não demonstrar medo. Por dentro o que eu queria era voltar correndo e me esconder em algum lugar, sou bem capaz de dar uma surra em alguém, mas faço o possível para evitar coisas do tipo.
Desviei do grupo e senti que os olhos deles grudaram em minhas costas.
_ Garota?! Garotinha!
Senti um calafrio descer pelas vértebras.
_ Quanto o rapaz te deu em dinheiro?
Segui a passos reduzidos, não conseguia me mover rapidamente.
Alguém encostou em mim e me virou como se eu fosse uma boneca.
_ Estou falando com você menina, não finja que não escutou!
_ Dá para tirar as mãos de cima dela?! Por obséquio - a voz carregada de cinismo, firme e rude.
Ele estava ali. Jesus seja louvado.
Pegou-me pelo braço e me encostou a ele.
_ Cara, facilite, passe tudo o que tem aí e deixo os dois saírem sem nenhum arranhão.
_ Infelizmente eu prefiro as coisas mais difíceis.
Jay deu-lhe um soco no rosto que chegou a fazer barulho. A cartilagem do nariz já não era mais a mesma.
_ Venha Sam.
Os outros do grupo riam e não levantavam o garoto que se contorcia no chão.
A mulher do balcão mascava chiclete de um jeito arrogante. Jogava-o de um lado para o outro e raramente fechava a boca.
_ Menino o que foi aquilo? - os olhos dela eram fixos em Jay.
_ Defesa, só isso.
_ Do que vão precisar?
_ Lista telefônica e fichas.
Jay deu-lhe o dinheiro, pegou o troco e depois que segurou minha mão, pronto para sair perguntou a mulher se ela conhecia algum hotel barato que ficasse próximo.
_ Tem um por aqui, não é bem um hotel, é mais uma pensão.
_ Que seja.
Com uma letra vulgar a moça escreveu o endereço e nos desejou sorte.
Já estava se tornando hábito caminhar de um lugar ao outro e minha mochila estava um pouco pesada. Lembrei-me de última hora do secador de cabelos e da chapinha.
Viramos algumas dúzias de vezes e em fim chegamos ao lugar desejado.
O muro era escuro e o portão estava aberto.
A porta de vidro dava a uma sala de jantar cheia de mesinhas de madeira com toalhas velhas e algumas sujas.
No balcão encostados na parede havia um homem contando dinheiro e assistindo a uma televisão pequena e com antenas tortas. Novela mexicana.
_ Há algum quarto sobrando?
_ Sim, sim.
_ Quanto o senhor cobra por duas noites?
_ Vai me pagar agora?
_ Sim.
_ Assim sai mais barato - apontou uma placa de madeira na parede que mostrava o preço por noite.
Tirou novamente a carteira da mochila e entregou ao homem duas notas dessa vez e ficou esperando o troco e a chave do quarto.
O homem entregou-nos a chave mostrando suas unhas sujas e compridas.
_ Ela é o que sua?
_ Irmã, por que?
_ Não quero confusão com polícia no meu estabelecimento.
Jay balançou a cabeça em sinal de afirmação e foi seguindo as escadas comigo até o quarto 29.