A casa da última quadra XII

Era loucura o que eu estava fazendo, entretanto sabia que se não fosse isso a morte do meu tio nunca seria esclarecida.

Comecei a conversar com o menino no mesmo dia em que decidi viajar com ele. Mentira para minha avó.

_ Vó não se preocupe, eu esqueci de te entregar até que o Jay me perguntou se eu iria e lembrei que não havia lhe entregado.

_ Onde fica o acampamento?

_ Pelo que eu entendi é na área rural de uma cidade vizinha.

_ Quando vocês voltam?

_ Dentro de três dias ou quatro.

_ Acho que não haverá problema. Que dias saem daqui?

_ Amanhã de noite?

_ Já?!

_ Entregaram desde o começo da semana.

_ Onde anda a sua cabeça?

_ Não sei.

Tirou uma caneta da gaveta do armário e assinou os dois papéis. Meu coração estava acelerado e só se acalmou depois que ela desligou o telefone e disse que minha mãe havia concordado.

Dei-lhe um beijo na bochecha e subi até meu quarto.

Olhei por dois segundos a porta de frente a escada.

Em breve aquilo seria resolvido.

Consegui alcançar minha mochila preta na parte superior do guarda-roupa.

Cinco camisetas, número indefinido de calcinhas, alguns sutiãs, três calças jeans (uma clara e duas pretas), meias, dois casacos e dois pares de tênis além do que eu viajaria usando.

Fui para a parte de higiene e necessidades. Xampu, condicionador, sabonete líquido, escova e pasta de dentes, minha carteira com meus documentos e dinheiro que eu estava guardando para comprar algumas roupinhas. Só que agora teria outra utilidade.

A ansiedade corrói.

Dormi mal, não prestei atenção nas aulas.

Minha avó passou a tarde toda me dando conselhos e contando suas experiências em viagens.

Ela saberia de tudo quando eu voltasse com tudo resolvido, agora ela não precisava saber de nada. Mesmo porque ela não permitiria.

Seis horas da tarde eu saí de casa vestida, de mochila, de banho tomado e com cara de animada e de quem iria sentir falta de casa.

_ Não quer que eu te leve meu doce?

_ Não vai haver necessidade vó, preciso parar na farmácia e comprar repelente. Vou a pé mesmo.

A história de repelente foi a primeira coisa que me passou pela cabeça, afinal repelente é útil para quem vai acampar.

_ Boa viajem.

A rodoviária era um pouco mais distante que a casa de Jay, que havia me esperado em frente a casa dele.

Entregou-me minha passagem, deu algumas dicas de como eu devia agir.

_ Não pode ser a primeira vez que foge.

_ Acredite Sam, não é.

O ônibus chegou e nos sentamos um do lado do outro.

Dividimos as despesas.

Eu pagaria o hotel e a comida.

Jay pagaria as passagens e qualquer outra despesa que aparecesse no caminho.

Não foi só isso que dividimos.

Compartilhamos biscoitos de chocolate, ipod, o som perfeito da guitarra e dos outros instrumentos do Guns and Roses, depois deles vieram Steve Vai e Richie Kotzen.

_ Nunca pensei que uma menina escutasse esse tipo de música.

_ Fale sério, não há como não escutar.

O sorriso de comercial reaparecera e ele veio acompanhado de um beijo na bochecha.

_ Sabe onde a família morou ao certo?

_ Vou descobrir no museu da cidade, sei quase exatamente, só preciso ter certeza.

_ Melhor assim.

Dormi razoavelmente bem.

Teria que reunir forças, com a renda que tínhamos não haveria hipótese de dormir em um hotel bom. Quando eu digo bom, quero dizer pelo menos três estrelas e não nenhuma.

Fernanda Ferreira
Enviado por Fernanda Ferreira em 26/05/2009
Código do texto: T1615759
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