A casa da última quadra XI
_ Oi mãe!
_ Quem é o rapaz? Sua avó disse que ele é um sonho.
_ Tudo bem com você mãe?! Ah! Eu também estou bem.
_ Entendi, entendi. Depois conversamos sobre isso.
_ Como estão as coisas por aí? E o curso?
Ela respirou tão alto que escutei pelo telefone.
_ Vai tudo bem filha. Recebi uma proposta de emprego.
_ Volta quando para me buscar?
_ Uma semana antes de acabarem as férias.
_ Tudo bem então.
A voz dela mudara significativamente.
_ E a escola querida?
_ Gostei da escola.
_ Os alunos, novos amigos?
_ Todos receptivos. Alguns são meio chatinhos, porém nada que eu não possa superar. Mãe eu estava no meio de uma aula de física, falamo-nos mais tarde, tudo bem para você?
Assim que ouviu a parte sobre “alguns alunos” serem chatos Jay jogou a cabeça para trás até que sua nuca se apoiasse no encosto da cadeira.
_ Sim meu amor.
_ Tchau mãe.
_ Tchau meu anjo, eu vou visitá-la daqui duas semanas.
_ Que bom mãe. Beijos.
Desliguei o telefone ansiosa pelo início dos estudos.
Uma dezena de livros espalhados pela mesa e alguns que não nos seriam convenientes jogados ao chão.
A janela do quarto estava aberta e eu estava com o livro da escola nos joelhos e a cabeça apoiada na parede procurando um jeito de explicar espelhos periféricos e ângulos convergentes e divergentes.
Tudo simples para mim e tão difícil para ele.
_ Você nunca teve vontade de ir atrás da história daquela família Sam?
_ Eu?! Não.
_ Nuca... Nunca quis entender como aquilo aconteceu?
Sentou-se ao meu lado.
_ Fiquei sabendo disso a pouquíssimo tempo.
_ Mesmo assim.
_ Já tive vontade mas acho que minha avó não gostaria que eu me envolvesse nessa história, ela não suportaria. Eu acho que foi tudo muito triste.
_ Eles não precisam ficar sabendo de nada.
_ Como não? Não sabemos nem por onde começar a verificar.
_ Você não sabe mas eu sei.
_ Começamos por onde?
_ A cidade natal da família Taylor, a cidade onde enterraram Agnus, a cidade onde a filha e o filho dela moram até hoje.
_ Não ficaram loucos? Viram a mãe morrer.
_ Como sabe disso?
_ Só imagino - quase deixei escapar a parte das minhas visões, mas talvez aquilo fora só para provar que meu destino era ir atrás dessa história - Como vamos viajar sem dinheiro? Minha avó vai querer saber tudo sobre a viagem.
_ Tem computador aqui?
_ Aqui não.
_ Vamos para minha casa.
_ E o dinheiro? Quantos dias vamos ficar andando por aí?
_ Dá para esperar um pouco? - calei-me na hora - Obrigado.
Corremos até a porta e gritei para minha avó que estava concentrada em algum tipo de bordado.
_ Vó? Vamos precisar de computador para finalizar o trabalho. Vou até a casa dele e volto mais tarde.
_ Tudo bem.
Desci a escada até o portão correndo e ele me puxou pelo braço.
_ Posso saber por que estamos correndo tanto?
_ Se dermos sorte sairemos de viagem amanhã pela noite.
_ Ah!
A casa dele era maior que a de minha avó e bem mais simples.
Nada de papeis de parede como flores amarelas e douradas, nada de almofadas feitas a mão. Tudo simples e aconchegante.
Parede de tons pastéis, sofá de cor clara, escada branca e com carpete para evitar tombos e deslizes.
_ Pai? Vó Elizabeth?
_ Jay, é você?
_ A senhora tem outro neto que mora com a senhora?
_ Não meu anjo. Seu pai não está.
_ Essa é minha amiga da escola, viemos fazer um trabalho de história e vamos precisar do computador.
_ Ah sim, sim. Como é seu nome menina?
_ Sam.
_ Apelido não?
_ Isso mesmo, meu nome não é dos mais comuns dona Elizabeth.
_ Se quiserem um suco ou um chá me avisem.
_ Obrigado vó.
_ Estarei no jardim.
Subimos e segui com ele até o fim do corredor. Uma bandeira do time da escola estava pregada na porta, conclui que aquele fosse o quarto dele.
_ Por aqui.
Entrei com ele e nos sentamos de frente ao computador.
Digitou algumas coisas que me pareciam com uma autorização de excursão escolar e outra uma autorização para o caso de um encontro casual com a polícia.
_ Entregue esses papéis para sua avó assinar. Viajem a um acampamento ecológico para estudo de espécies em extinção.
_ Bem típico.
_ Acha que está convincente?
_ Muito. Só quero saber como vamos comer e onde vamos dormir sem dinheiro, o dinheiro que tenho não daria para nós dois.
_ Tenho algum dinheiro guardado que ganhei numa competição de basquete com a equipe.
_ Mas o dinheiro não é deles também?
_ Dividimos tudo, essa é minha parte.
Abriu o guarda-roupa e retirou uma caixa vermelha de lá de dentro.
_ Vou fazer meu pai assinar. Vamos até a loja dele.
_ Loja de que?
_ Artigos esportivos.
Era de se imaginar que ele tivesse alguma influência.
Minhas pernas estavam doendo de tanto andar.