ASPONE
- Boa tarde! Faz tempo que a gente não se vê! por onde tem andado?
- Por aí.
- Aqui na terrinha mesmo, ou viajando?
- Andei viajando por aí. Sacumé, procurando emprego. A vida tava dura e eu cada dia mais na pindura.
- E arrumou alguma coisa?
- Nas andanças arranjei não. Pouco estudo, sem especialização, já na meia idade... rodei São Paulo inteiro. Só tinha trabalho pesado. Cê me conhece. Não sou de agarrar muito. Depois pensei bem, tava até aceitando ser gari, mas o concurso foi puxado pacas. Muitos concorrenes. Alguns com grau universitário. Não tinha chance nenhuma.
- É a vida. Tá mais que difícil.
- Pois é! Pensei até em ir para os States. Lavar prato ou ser engraxate. Não consegui o visto.
- Cê fala inglês?
- Falo não.
- Foi bom não ter ido. Parece que a vida lá também está difícil com essa tal de crise, a guerra do Bush... tenho amigos por lá, que se comunicam comigo via internet e estão todos se queixando.
- To sabendo. Mas agora a vida vai mudar. To numa boa!
- Que bom! Ganhou na loteca?
- Melhor que isso, menino. Agora sou funcionário público?
- Concursado?
- E eu lá tenho capacidade pra prestar concurso. Cargo em comissão. Sou ASPONE. Deu a maior sorte voltar pra terrinha. Os homens lotearam os cargos.
- Mas você estava do outro lado. Na extrema direita.
- Agora tá tudo na mesma panela. Enquanto isso durar, são oito milhas por mês, depositadas na conta corrente. Nem preciso entrar na fila pra receber. Vidão!