Neve Rubra - Vingança
 
Anita se esticou na ponta dos pés, pegou o punhal de cima do armário e caminhou na direção da porta. Era o punhal que seu falecido marido usava para matar os porcos na pequena chácara que ela morava, agora sozinha.
Ela sentiu que ele se aproximava muito antes de sua figura aparecer em uma das curvas da estrada, nesta época totalmente coberta por uma larga camada de neve.
Escondeu o punhal na dobra do avental que estava usando sobre o vestido estampado, bem velho, e esperou. Um cheiro de cigarro envelhecido invadiu suas narinas antes mesmo que o homem se aproximasse, trazendo consigo uma mistura de cachaça e suor. Ela teve que se segurar para não vomitar no batente de sua porta.
Com a mão estendida o homem fez um aceno e gritou:
_Anita, sua velha. Venha receber teu homem, não fique esperando não, viu?
A voz rouca do homem exalava uma brutalidade desumana que a pobre Anita não tinha mais forças para suportar. Aquele monstro que caminhava lentamente e sorrindo na sua direção não era nem nunca fora seu homem.
Aquele rosto descascado pelo frio, aquela barba suja e mal cheirosa tinham sido na verdade responsáveis pela morte do marido de Anita, Sebastião Carreiro, homem bom e adorado por todos naquela região, mas que ousara enfrentar aquela besta que agora caminhava na direção dela.
Seu nome era José da Conceição Albino, mas gostava de ser chamado de Coronel Albino. Era dono de uma grande fazenda situada ao leste da pequena chácara de Anita e não gostou nem um pouco quando Sebastião se recusara a vender-lhe sua propriedade, pelo preço oferecido pelo Coronel, muito abaixo do que a terra realmente valia.
Por isso, exatamente um ano atrás Coronel Albino contratou dois pistoleiros que mataram Sebastião na porta de casa, manchando a neve, que já começara a cair naquela época, com o vermelho de seu sangue.
E foi por isso mesmo que Anita, naquele primeiro aniversário da morte de seu amado, decidiu se libertar de uma vez por todas do jugo do assassino de sua família, e vingar a morte do bondoso Sebastião.
Mas como a mulher não se movesse, Albino gritou mais uma vez:
_Está surda, velha? Venha receber teu homem, que te chama!
Ela então começou a caminhar na direção do homem que tencionava matar dentro de alguns instantes.
Desde que matara seu marido, como você já deve ter notado, Albino tomou por costume visitar a casa da viúva semanalmente e estuprá-la. Ele sentia como se fosse uma forma de compensação pelos prejuízos que tivera, por não ter conseguido comprar a terra que tanto quisera.
Quando Anita se aproximou do coronel, ele a agarrou com suas mãos sujas e ela sentiu as unhas pretas e mal cortadas do homem arranhando sua carne. Com uma onda de nojo quase incontrolável ela sentiu a boca rachada dele passando pela pele de seu pescoço e rosto. E por fim ele alcançou sua boca.
O fedor que emanava da boca do coronel era quase insuportável e ela se segurou para não vomitar ali mesmo, o que sabia que acabaria com seu plano. E por isso Anita se controlou e deixou que ele se satisfizesse com seu corpo ali mesmo, na neve gelada que cobria o caminho que levava para sua casa. Ela sabia que de nada adiantaria resistir agora.
Mas foi quando o homem explodiu em sua onda de alívio carnal, e soltou todo o peso de seu corpo gordo sobre a pobre Anita, como fazia todas as semanas, que ela alcançou, nas dobras de seu avental, que ainda estava usando, o punhal de matar porco, que tinha cuidadosamente afiado ainda naquela manhã.
Ela esticou o braço com a lâmina apontando para o pescoço do coronel mas havia se esquecido de calcular alguns detalhes. O sol, brilhando pálido no céu de inverno, refletiu na pequena lâmina e chamou a atenção do gordo, que ainda estava dentro dela.
 Ele teve tempo ainda de sacar seu revolver, que carregava em um coldre na cintura antes que o punhal de Anita se cravasse em seu pescoço imenso, fazendo espirrar um jato de sangue no rosto da pobre mulher. O sangue era o único liquido que aquele homem poderia expelir que ela tinha prazer em receber em sua pele.
Mas com o guincho de morte que o coronel soltou, parecendo mesmo um imenso porco apunhalado antes de uma ceia, outro som encheu o ar naquela tarde de inverno, em que a neve, muito branca, cobria todos os caminhos.
Foi o som da arma do coronel, que agora gania como um animal abatido e estrebuchando, mas tivera tempo de disparar contra a pobre Anita. O tiro atingiu a mulher entre os seios e perfurara órgãos vitais.
E o sangue que escorreu do ferimento de Anita não se misturou com o sangue quase negro do coronel Albino, mas preferiu correr na direção contrária. Duas poças vermelhas mancharam a neve muito branca, que ali cobria todos os caminhos, aquela neve rubra.
 
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Fábio Codogno
Enviado por Fábio Codogno em 10/05/2009
Reeditado em 14/05/2009
Código do texto: T1586846
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