PRIMEIRA POSTAGEM "SEM TITULO" (LEIAM)

_Quando as flores do pé de ipê amarelo da praça principal começaram a cair anunciando o fim da primavera, a pacata cidade de Erechim do Norte com seus mil e duzentos moradores quase sempre felizes e risonhos acordou com um clima tenso e triste por conta da noticia que acabaram de ouvir nas suas radiólas.

A noticia transmitida pela voz rouca do locutor Tadeu Alvarenga da única rádio do município anunciava; _ morreu esta madrugada vitima de assassinato com requintes de crueldade, o famoso pecuarista, prefeito e fundador da cidade, com seis tiros e vários golpes de machado o S.r. Arlindo Coimbra mais conhecido como “Santo Coimbra” pelos benefícios trazidos à cidade e região, foi encontrado morto por volta das 4:35 da manhã por trabalhadores que em sua criação de gado trabalhavam.

Uma desolação pairava no ar naquela manhã triste e cinzenta , os trabalhadores trabalhavam em silêncio, as donas de casa de suas grandes janelas acostumadas a falar, e quase sempre mal da vida alheia, hoje por força maior não saíram para fofocar, mais nada faria com que todos e todas parassem de pensar em quem poderia ter feito algo tão bárbaro com aquele homem que só queria e fazia o melhor, ou ao menos o que pudesse para ajudar a quem quer que seja que dele necessitasse, em fim “QUEM MATOU COIMBRA?”

A história de Coimbra era uma história bonita porem nada fácil, filho de pai alcoólatra e mãe muitíssimo religiosa Coimbra se viu logo cedo tendo que escolher entre ser um homem machão, viril e alcoólatra como o pai e todos os outros da época, ou sereno doce e educado como a mãe; via-se logo cedo que Coimbra era homem de futuro promissor, conseguiu juntar as virtudes e defeitos dos pais tão diferentes se tornando um rapaz distinto que aos dezesseis anos de idade abandonou seu lar depois de uma áspera briga que tivera com o pai após presencia-lo bêbado bater até sangrar o belo rosto de sua mãe. Começava ali a saga de Arlindo Coimbra, que decidiu então trabalhar em uma fazenda não muito longe de onde ele nasceu.

Não tendo quase nenhum custo onde morava, Coimbra juntava seu dinheiro com o sonho de um dia ficar tão rico como o dono da fazenda onde trabalhava.

Os anos se passavam e Coimbra agora já era homem feito e braço direito do dono da fazenda S.r. Agnaldo de Assis ventura, um português que enriqueceu em terras brasileiras vendendo e comprando bois. S.r. Agnaldo era o homem mais rico que existia na região, rico, porém triste pois não tinha mulher, filhos ou qualquer parente distante; as más línguas diziam até que ele tinha pacto com o “diabo” e ele próprio tinha trocado a mulher e duas lindas filhas pelas terras e todo o gado que ele agora possuía.

S.r. Agnaldo estava velho e tinha uma terrível doença degenerativa que hoje conhecemos como “enfisema pulmonar”.

Num dia como outro qualquer Coimbra se levanta e começa a lida com os bois como de costume, com o pensamento longe repetia quase que impulsivamente o trabalho, tentando fazer cálculos para saber quanto tinha de dinheiro guardado e quando poderia parar de trabalhar para S.r. Agnaldo e montar sua própria fazenda, pensamentos esses que foram interrompidos por gritos afoitos de uma mulata que na sede da fazenda trabalhava _ Coimbra, Coimbra o S.r. Agnaldo está te chamando no quarto dele, corre ele não parece estar muito bem! Afirmou a mulata. Sem demora Coimbra desceu de seu cavalo e correu ate o grande quarto de seu patrão, grande foi a surpresa de Coimbra quando lá se deparou com o juiz com um grande livro na mão e o padre na beira de sua cama.

Com movimentos lentos S.r. Agnaldo virou-se para Coimbra e disse_ entre não tenho muito tempo. Coimbra resistiu mais não deixou de se abalar com a cena que viu, seu patrão estava definhando em cima da cama. mais como seria possível?.. perguntava Coimbra. Se ainda ontem ele estava esbanjando energia! Parecia que ele envelhecera uns vinte anos nessa noite.

Sem demora e nem rodeio como era de sua índole, S.r. Agnaldo iniciou a difícil conversa. _como você mesmo sabe, disse o patrão há Coimbra _ não tenho família, e a coisa que mais gosto é de minha mula ventania, que não saberia como administrar todo o dinheiro que tenho, por esse motivo resolvi deixar tudo o que tenho para o senhor, pois como o senhor sabe não estou nada bem de saúde, suas palavras se misturavam com fortes tosses e as vezes golfadas de um sangue grosso e escuro_ espero que tome conta de minhas terras e faça meus bois se multiplicarem, terminou S.r. Agnaldo, que agora tomado por uma forte crise de tosses veio a óbito em seu leito.

Coimbra misturava sentimentos de piedade, e um peso terrível nas costas deixados pelo patrão, a final de contas não seria fácil administrar tantas terras, bois e empregados que haviam ali.

O tempo se passou e Coimbra se fez um bem sucedido fazendeiro, seu gado e terras só aumentavam, e sem perceber estava ali bem diante de seus olhos o sonho que Coimbra almejava a vida toda.

Fundou então um vilarejo sem grandes pretensões com seis casas, uma igreja e uma mercearia. Vilarejo que por ficar ao norte da capital, mais tarde foi chamada de Erechim do norte.

As pessoas foram chegando, montando barracos de lona, que mais tarde se transformavam em barracos de madeira, e depois em casas de alvenaria. As pessoas vindas de todos os lugares ali se instalavam, tinham lugar pra dormir, comida e muito trabalho. Entre estas famílias estava a de seu José Francisco que tinha uma esposa gorda chamada de rosinha e duas filhas, Lucia, a mais velha, era morena, olhos grandes e muito arredia e Ana, que era levemente queimada de sol e de estatura baixa.

Coimbra que esbanjava mocidade e beleza no auge de seus vinte seis anos não demorou para começar a cortejar a filha mais nova de seu José, que como o próprio Coimbra dizia era a coisa mais linda que já vira em toda sua vida.

Coimbra e Ana namoraram durante cinco meses e em seguida casaram-se. No começo do casamento o relacionamento era maravilhoso, não havia quem não reparasse a afinidade entre o casal.

Passaram-se três anos e Ana ficou grávida para alegria de Coimbra que passava os dias imaginando seu filho correndo atrás de seus milhares de bezerros e chutando bola com os filhos dos peões.

Os sonhos de Coimbra vieram por água abaixo com a triste noticia de que Ana perdera a criança que esperava, na casa de Coimbra era só silencio nos dias que sucederam a noticia, silêncio esse que permanecera por muito tempo e misturado com o pouco tempo que passava com Ana foi desgastando cada vez mais o casamento. Ana resolveu então voltar para casa dos pais, Coimbra educado mais muito severo e orgulhoso não contestou nem insistiu para que Ana ficasse.

Os negócios da fazenda não estavam bons, e a falta da mulher que de nada participava na administração dos negócios parecia lhe fazer de alguma forma muita falta.

Uma noite bêbado Coimbra resolveu ir até a casa de Ana, celou seu alazão e partiu em disparada ate o vilarejo, ao chegar na porta da casa de Ana começou a gritar e disparar vários tiros para o auto acordando todo o povoado. Quando todos saíram as suas portas, inclusive Ana e sua família, Coimbra disse coisas lindas a respeito de Ana e a chamou para de novo morarem juntos. Ana então resolveu dar-lhe outra chance.

Na fazenda de Coimbra parecia que a paz tinha de vez se instalado.

Sebastião era o peão mais forte e disposto que Coimbra conhecera por aquelas bandas, filho de pai alemão e mãe italiana tião, como era conhecido, trazia em seu rosto traços europeus e belas madeixas louras.

Coimbra confiara a tião o cargo de administrador de todos os negócios de sua fazenda graças a incrível habilidade com os números adquiridas no tempo de sua infância que passou estudando na Europa . Era como se tião fosse de sua família. Tião tinhas varias regalias que outros empregados não tinham como seu próprio cavalo, salário melhor e um quarto dentro da sede de sua fazenda.

Um dia quando Coimbra voltara de uma de suas andanças pelo meio de seus milhares de bois deparou-se com a seguinte sena. Ana com roupas não apropriadas estava sentada ao lado de tião, os dois conversavam e riam de alguma coisa, que parecia para Coimbra ser algo muitíssimo engraçado, pois os dois riam muito. Coimbra fez meia volta e sorrateiramente saiu sem fazer barulho algum.

Os dias se passaram e a amizade de Ana e tião só crescia, Coimbra homem desconfiado já mostrava os primeiros sintomas de impaciência tanto com Ana quanto com tião.

Suas desconfianças se fizeram verdade quando disera à Ana que iria ao povoado resolver a venda de um lote de bois e não dormiria em casa, deu em Ana um demorado beijo e saiu a trotes sobre seu alazão. Coimbra ficou vagando por suas terras até por volta de 11:30 da noite, voltando para a fazenda Coimbra deixou seu cavalo amarrado em uma arvore e foi se movendo lentamente para o casarão, entrando pela porta dos fundo sem fazer ruído algum. Encaminhou-se então para seu quarto, abriu a porta na esperança de encontrar a mulher dormindo, e lá nada encontrou. De arma em punho e cego pela duvida do que encontraria se pôs a caminhar, agora em direção ao quarto de tião. A casa completamente silenciosa trazia consigo um ar de suspense. de frente a porta Coimbra rezava para não ver o que tanto temia ver, com um golpe seco com o calcanhar Coimbra quebrou de uma só vez a resistente porta de angico. A cama do peão ficava de frente à porta, e para a surpresa de Coimbra tião estava sozinho. A paz voltou a tomar conta de seus pensamentos, paz essa que foi quebrada por uma forte pancada que Coimbra sentiu nas costas na altura da nuca, num reflexo Coimbra olhou para trás e lá viu Ana com um machado cheio de seu sangue, ele cambaleou sem poder acreditar no que acabara de ver. Sua pequena e doce Ana com uma terrível feição que no escuro lembrava-o de leve um demônio que Coimbra vira num quadro, Coimbra caiu olhando para o teto e viu tião que com sua própria arma desferiu-lhe seis tiros no rosto.

Ana e tião reuniram todo o dinheiro de seu cofre e outros pertences de valor que Coimbra guardava a sete chaves e fugirão de mãos dadas.

Por alguns segundos Coimbra ouviu o eco de seu revólver, lembrou-se de quando saira de casa deixando pra trás sua mãe ainda com o rosto sangrando para correr atrás de dinheiro, dinheiro este que indiretamente tinha acabado de lhe matar. Coimbra que não confiara em ninguém a vida toda confiou justamente naqueles que mais tarde o matariam, “quanta gente ingrata existe nesse mundo!”, pensou Coimbra antes de cair no escuro vale da morte.

DEVERSON GREGÓRIO CALDAS SILVA

((SÓ PRA RESSALTAR, SOU UM AMADOR QUE ESCREVE PELO PURO PRAZER DE LER DEPOIS, QUALQUER ERRO DE ORTOGRAFIA OU PONTUAÇÃO SERÁ PRONTAMENTE CORRIGIDO NA PROXIMA POSTAGEM, POR ISSO COMENTARIOS SOBRE OS MESMOS SERÃO ACATADOS COMO CRITICAS CONSTRUTIVAS, GOSTANDO OU NÃO COMENTEM, DESDE JÁ MUITO OBRIGADO.))

DEVERSON CALDAS
Enviado por DEVERSON CALDAS em 05/05/2009
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