Inferno

Um calor causticante toma conta do meu corpo, fazendo o suor descer pelas minhas têmporas. Abro os olhos e só vejo a escuridão. Então, a acluofobia toma conta do meu ser. Tremores percorrem o meu corpo, só escuto o ranger dos meus dentes já gasto pelo bruxismo que há tempos me persegue.

Onde estou, talvez morto... Tudo acabado. Choro, mas não de tristeza e sim pelo cheiro, inebriante, de enxofre com o azedume do meu suor que invade minhas narinas trazendo ardência aos meus olhos. Sufocado e enclausurado na escuridão... Estou no inferno!

Estou no inferno! Morri e estou no inferno!

Chorando e soluçando incessantemente vem a minha cabeça tudo aquilo que meu pai dizia e que eu não quis ouvir.

Agora vou encontrar o diabo, e o que vou dizer a ele. Cramulhão, casca-grossa, chifrudo duma figa. Por que é que eu vim parar aqui?

Minha vida passa em flashes de tudo aquilo que fiz de errado... Quero sair daqui!

Eu sabia, aquele negócio de troca-troca quando moleque ia me mandar pro inferno. Agora estou aqui! Sentindo esse fedor! Quero sair daqui!

Apreensivo, só esperando a Besta chifruda aparecer, começo a rezar e pedir perdão de tudo que fiz de errado na minha vida mundana.

Ao me virar sinto um vazio, apenas o ar quente e o fedor de enxofre ao meu redor. É o fim. Um precipício no inferno? Para onde vai me levar? Fui tão mau assim que vou pro inferno do inferno? Se o diabo está no inferno, quem é que está no inferno do inferno?

Sinto um baque em minhas costas, abro os olhos e vejo uma luz, fraca, mas é uma luz. Deus escutou as minhas preces e veio me salvar. Eu sabia que ele viria.

— Filho...?

— Ouço uma voz...

— Filho...?

— Hã? Deus?

— ???

— Filhoooooooo...? Que cheiro é esse? Que fedor? Tenha dó, levanta daí moleque, você ta podre? Comeu urubu?

Minha mãe? Minha mãe também morreu?

Sinto um chute no meu traseiro que pega bem no cóccxi. Ossinho que fica no fim das costas, perto de onde começa a bunda. Alguns dizem que o homem tinha rabo, mas com a evolução ele o perdeu.

— Essa doeu, heim?

De repente tudo fica claro. Estou no meu quarto, caído no chão, enrolado no ededrom. Minha mãe me olhando, meneando a cabeça negativamente e com o dedo em riste.

Flatulências. Tudo não passou de um peido. Um peido debaixo das cobertas. Estava aliviado. Bem! Aliviado pelo peido e aliviado, porque tudo não passou de um pesadelo, um pesadelo fétido, diga-se de passagem. Acho que aquela sopa de feijão com repolho, batata doce e o calor do ededrom não me caíram bem. Deixou-me com desarranjo intestinal e muitas flatulências.

Acho que vou vomitar...

Mas essa é outra história.

Fim

Gerson Balione
Enviado por Gerson Balione em 17/04/2009
Reeditado em 02/06/2010
Código do texto: T1544346
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