Marionete
Uma porta se abria lentamente, rangendo baixo. Os pezinhos descalços entraram no corredor escuro e, pé ante pé, desceram as escadas em direção à cozinha. Lá, uma faca já estava pronta sobre a mesa. A pequena mão empunhou o cabo de madeira, segurando-a firmemente.
Os calcanhares giraram sobre o mesmo ponto e voltaram para a escadaria e dali para o corredor escuro. Ignorando a porta aberta por onde havia saído, os pezinhos passaram por ela e se dirigiram para outra porta, essa fechada.
A mão livre girou a maçaneta e abriu a porta lentamente. Entrou na ponta dos pés.
Na grande suíte iluminada pelo abajur sobre a cabeceira, dois corpos dormiam a sono profundo sobre uma cama de casal. O mais próximo era um homem, deitado de costas com a boca aberta e o braço direito estirado sobre uma mulher que dormia de costas para ele.
Indo para frente da cama, o pequeno corpo se debruçou sobre ela e engatinhou até onde estava o homem.
Ele havia sentido um movimento na cama. Levantou a cabeça e se assustou com a silhueta de frente pra ele.
- Que susto, minha filha. – disse o pai, suando um pouco.
Mal tivera tempo de pegá-la no colo. A menina já o atacava com a faca que havia pegado na cozinha.
Acertando o peito dele cinco vezes, a mancha de sangue já havia tomado grande parte do pijama azul do homem. Respingos de sangue sujavam o rosto da inocente criança.
A mulher ao lado se levantara. Sorria para a menina. Pegou-a no colo, abraçando-a.
- Fez isso muito bem, querida. Como a mamãe pediu. Assim o papai aprende a não ser um homem malvado e trazer mulheres desconhecidas pra casa, não é? – disse a mãe ao ouvido da criança, que descansava a cabeça sobre o ombro da mulher.